É hora de avaliar a educação infantil à distância… e não esquecer a documentação pedagógica

É hora de avaliar a educação infantil à distância… e não esquecer a documentação pedagógica

Diversas escolas de educação infantil já trabalham à distância há semanas.
Estamos trabalhando uma educação à distância ou a escola está ficando distante das crianças e das famílias? O que têm acontecido? Será que no meio da busca insana por atividades e recursos digitais, estamos parando para avaliar cada proposta e o processo como um todo? 
Percebemos que um poderoso instrumento de avaliação e devolutiva está sendo deixado de lado: a documentação pedagógica. Como está a reflexão e a avaliação? Como está acontecendo a devolutiva com olhar pedagógico para as crianças e os pais?

Fico pensando na situação:

Eu, mãe/pai, recebo uma proposta de atividade. A professora conversa com a família por meio de um vídeo gravado ou online. Explica tudo direitinho e convida as crianças para experimentarem o proposto. Eu, mãe/pai, me organizo, separo materiais, preparo um ambiente, brinco com meu filho e faço um registro para enviar para a escola.

Aí, a professora acompanha os registros e dá alguns retornos do tipo “que lindo”, “parabéns”, “que legal”. E só!!!

Eu, mãe/pai penso:

bom, cumpri o solicitado… mas o que aconteceu de fato? Foi só “uma brincadeira”/”mais um desenho”/”uma pintura”?

O que se perde nesse processo? O que está faltando?
Hoje, já olhamos com críticas para as práticas pedagógicas espontaneístas, que “tiram coelhos da cartola” todos os dias, inventando atividades desconexas, sem reflexão e avaliação sobre aprendizagens, interesses e necessidades. Ocorre que não percebemos que podemos estar desenvolvendo justamente esta dinâmica com as famílias! Falta o OLHAR PEDAGÓGICO sobre os acontecimentos. Falta, como diz Madalena Freire, sistematizar os registros, refletir e dar uma DEVOLUTIVA. Sem este elo da prática pedagógica, não fechamos o ciclo de ensino-aprendizagem das crianças, das famílias e o nosso em relação aos encaminhamentos e aprofundamentos. 

Nesta postagem vamos pensar sobre documentação pedagógica para a educação à distância. Para que a escola NÃO FIQUE DISTANTE da aprendizagem.

Retomando uma concepção de documentação pedagógica…

Fazer a documentação pedagógica é contar uma “história pedagógica” utilizando recursos que sejam compreendidos pelo público ao qual se destina: crianças, famílias ou colegas de equipe.

É bom lembrar que OS REGISTROS SÃO AS COLHEITAS DOS FRUTOS PEDAGÓGICOS. MAS NÃO BASTA SÓ COLHER!

A narrativa da “história” deve deixar evidente a voz e o protagonismo da criança, a interação com as famílias e também as reflexões do professor.

Para compor a narrativa é importante esquecer o que é genérico* e ressaltar os acontecimentos e pensamentos sobre o contexto. É falar sobre situações únicas, que só poderiam acontecer com aquelas crianças, aquelas famílias e o pensamento e a ação pedagógica característica daquele professor. Uma boa documentação pedagógica revela as particularidades das pessoas envolvidas no processo e, por isso, é um retrato do conjunto singular composto pelo professor + crianças + famílias.

Assim, para compor a documentação pedagógica é saber o que se quer comunicar, para quem comunicar e como comunicar (o formato da documentação).

Em tempos de escola via internet, estudamos a Pedagogia do Bom Senso do educador francês Freinet (1896 – 1966). Ao criar a Escola do Povo e difundir novas concepções para a educação de crianças pequenas, Freinet propôs alguns recursos para sistematizar e compartilhar as aprendizagens vivenciadas pelas crianças, entre eles, o Jornal Mural e o Livro da Vida.

Para falar sobre este tema, gravamos dois videos … também estamos digitais 😉
Também relacionamos dois percursos reflexivos para inspirar a avaliação das práticas pedagógicas à distância. Talvez nossos questionamentos ajudem você a pensar sobre sua prática!
Por fim, elaboramos um pequeno texto sobre alguns aspectos da vida e da Escola do Povo de Freinet.

VIDEO 1

VIDEO 2

PERCURSO REFLEXIVO

 

Freinet e a documentação pedagógica…
Quem foi Celestine Freinet?

Freinet nasceu na França em 1896. Foi professor quando jovem, mas por causa da primeira guerra mundial não conseguiu terminar o curso Normal. Com o passar do tempo, recomeçou a estudar sozinho, anotando diariamente o que observava de suas crianças e seus próprios sucessos e fracassos. Aos poucos foi descobrindo os interesses, os problemas e as necessidades de cada criança.

Participou de encontros com outros educadores e percebeu que sua realidade mais humilde demandava encontrar técnicas e recursos que pudessem ser utilizados por todos.

Para Freinet, a natureza e a comunidade do entorno da escola eram tão importantes quanto a sala de aula. As descobertas realizadas nos passeios e no trabalho realizado a partir destas explorações precisavam ser registradas e sistematizadas para que se transformassem em conhecimentos.

Com isso, Freinet propôs alguns recursos que despertavam o interesse e o engajamento das crianças e que favoreciam a construção dos percursos de aprendizagem:

1- O Jornal escolar e Jornal Mural– relatos sobre os acontecimentos organizados de modo que todos pudessem ler e reviver o que havia sido registrado.

2 – O Livro da vida – um grande caderno coletivo com o registro dos acontecimentos do dia a dia: um documento vivo que podia ser lido e construído por todos – professores, crianças, famílias e comunidade.

3- Correspondência interescolar – um modo de ampliar ainda mais o compartilhamento dos acontecimentos com outras comunidades escolares.

4- Fichário escolar – no lugar de livros e manuais escolares, a ideia era construir um fichário com recortes de imagens e textos que interessavam os grupos.

Outro aspecto importante da pedagogia de Freinet foi a valorização do desenho como expressão da criança, ilustração da documentação, representação simbólica e precursor da escrita.

Até o fim de sua vida, Freinet lutou pela “Escola do Povo”, criando movimentos políticos para defender uma pedagogia que pudesse envolver todas as crianças no processo de aprendizagem, independentemente de características pessoais, inteligência e meio social.

PARA SABER MAIS…

Leia sobre documentação pedagógica nas postagens:

27 comments

Oi, estou gostando muito desse tema Documentação Pedagógica, mas a realidade de devolutivas está pouco, de 15 crianças duas famílias compartilham suas experiências. Sei que nesse momento estamos nos reinventado em um novo formato de educação infantil. Tenho dúvidas em relação a esse tema, pois no sistema municipal educação que trabalho, estamos propondo atividade no link da prefeitura e também fazemos entrega de kits a cada quinze dias, são entregue quinze atividades ou seja as famílias terão que desenvolver todos os dias da semana uma atividade, algumas são sequenciadas e ouras são soltas. No entanto percebo que é muita atividade para as famílias desenvolver com crianças do infantil 1 (berçário) ao infantil 3 ( maternal de 3 anos), fico bem triste… mas não concordo com essa proposta a qual tenho que cumprir, pois as aprendizagens ficam na minha imaginação, mas também reconheço as mínimas devolutivas diante dos fatos e logo me pergunto como fazer Documentação Pedagógica que a coordenadora e diretora está exigindo?
No entanto estou buscando aprender a fazer tal documentação que é muito cobrada pelo sistema.

Olá, Iracema! Você comenta uma situação que está realmente preocupando escolas e professores. O que acha de trocar algumas ideias com colegas da mesma escola ou com outras da mesma prefeitura? Quais as soluções que encontraram? E, uma Documentação deve corresponder à realidade do seu grupo, isto é, apresentar os processos enviados como respostas das famílias.
Temos a entrevista com as formadoras Elaine e Luciani na postagem – PALAVRA DE… ELAINE E LUCIANI: MARCAS DA ESCOLA DE HOJE E DEPOIS DO ISOLAMENTO – para contribuir com o diálogo.

O tema vem ao encontro com nossas ansiedades em um momento atípico e delicado, onde estamos repensando nossas propostas e em formas de adequação do trabalho pedagógico e que contemple todas as nuances, a voz, o protagonismo da criança, a interação com as famílias, as reflexões do professor, todas esses questões como a documentação pedagógica que é uma forma de expressão, comunicação, vem sendo discutido e hoje o assunto foi tratado e exemplificado de maneira que possamos refletir e colocar em pratica, agregar aos novos tempos e jeito de fazer a educação infantil acontecer, é constate a preocupação em fazer acontecer este vínculo entre a escola a família e as crianças, as atividades, os meios de comunicação, todos os esforços para que haja uma sistematização de registros, reflexão e devolutiva que podem ser contemplados com ideias por exemplo “jornal mural”, “jornal escolar” e outros citados nesse diálogo.

Temos feito muitas reflexões sobre a constituição das famílias procurando trazer propostas das quais as crianças possam se interessar e faze-las no ambiente que esta inserida, falar sobre as propostas, sobre o material, tendo em vista a escuta da crianças, e também entreter e dar prazer as crianças, aprofundando um conteúdo solido, simples. Pensando em famílias e crianças. Importante valorizar as atividades realizadas pelas famílias dando um retorno, pensando na qualidade e não na quantidade. Provocar os pais que não estão participando a importância do que estamos oferecendo as crianças e famílias.
Estamos no reenventando.

Temos feito muitas reflexões sobre a constituição das famílias procurando trazer propostas das quais as crianças possam se interessar e faze-las no ambiente que esta inserida, falar sobre as propostas, sobre o material, tendo em vista a escuta da crianças, e também entreter e dar prazer as crianças, aprofundando um conteúdo solido, simples. Pensando em famílias e crianças. Importante valorizar as atividades realizadas pelas famílias dando um retorno, pensando na qualidade e não na quantidade. Provocar os pais que não estão participando a importância do que estamos oferecendo as crianças e famílias.

Ótimo para nós professores nos tempos que estamos vivendo, aprender a ser incomodado pensando como essas famílias estão se adaptando, e as crianças também pelo isolamento e tentar compreender que não é férias. Muito excepcional todo o conteúdo do tempo de creche

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