De onde parte o seu planejamento?

De onde parte o seu planejamento?

Conversando com as coordenadoras de duas escolas em que faço formação, a queixa foi a mesma: “a minha equipe continua planejando propostas descontinuadas”; “parece que o professor pensa no dia o que vai fazer com a turma”; “os planejamentos não estão levando em conta o que as crianças já têm feito e descoberto. Cada dia é ‘uma novidade’”; “o que os professores escutam das crianças não é levado em consideração no planejamento”.

Professor, se você sente que sua prática tem trilhado este caminho, e coordenador, se você se identifica com a preocupação das coordenadoras acima, esta postagem pode ajudar a clarear o cenário e acender questionamentos. E no final, compartilhamos instrumentos de PLANEJAMENTO e de REGISTRO para inspirar a sua prática.

ESCUTAR é partir das crianças e valorizar seus interesses e necessidades de aprendizagem.

INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA é planejar encaminhamentos (isto é, sequências) que consideram as questões significativas para o grupo (interesses e necessidades), para aprofundar aprendizagens.

Sendo assim, ESCUTAR as crianças NÃO é planejar atividades que “elas gostam” ou que promovam aprendizagens mecânicas e descontextualizadas.

Vamos começar pela justificativa “ah, mas elas gostam”.
Escola é lugar de fazer as crianças pensarem por meio das linguagens que permeiam a infância: brincar, desenhar, pintar, dançar, falar etc. A ludicidade é uma condição, contudo, as brincadeiras superficiais ou repetitivas (que já estão “gastas”) não conseguem provocar situações em que as crianças percebam questões, as explorem, PENSEM, elaborem conceitos e entendam o mundo. É este o propósito da escola!

Nesse sentido, ao promover incansáveis novidades, não se respeita o ritmo das crianças para que explorem as situações, e também o tempo do professor para fazer a escuta dos aspectos interessantes da proposta. Todos precisam de tempo e oportunidades para experimentar e identificar possibilidades e caminhos para percorrer trilhas de aprendizagens. É sair do nível superficial de experiências e partir para o aprofundamento.

Se num dia fazemos bolinhas de sabão, no outro, areia da lua, no outro, brincadeiras com caixas, no outro, massa, no outro, no outro, no outro…., quando a criança terá oportunidade de explorar profundamente um material ou uma brincadeira e partir para pensamentos mais complexas? E quando o professor terá oportunidade de pensar sobre estratégias para desafiar as crianças a partir do que observa?
Por que será que as bolinhas de sabão voam? Por que é só você tocar, que elas estouram facilmente?
Estou percebendo que você está tentando construir uma casa com os caixotes. Será que podemos usar outros materiais para a sua casa ficar mais bacana? O que está faltando nela?

Quando repetimos propostas, criamos cenário significativos.
E o que isso quer dizer?
Que proporcionamos diferentes momentos para que as crianças vivenciem experiências com as quais vão construindo certa familiaridade. Desse modo, diferentes possibilidades vão sendo testadas e descobertas, até que elas se deparem com a necessidade de novos desafios. É como pensar nos pilares da construção de um edifício: cada andar bem construído vai apoiar novos andares cada vez mais altos.

“Ah, então já faço isso porque minhas crianças brincam com um jogo de monta-monta (construção) todos os dias!”

Para esta afirmação eu respondo não, você não está construindo pilares de aprendizagem desse modo! Ocorre que a repetição pura e simples traz o que eu chamo de “piloto automático desinteressado”, isto é, a brincadeira deixa de desafiar e trazer novos problemas e PENSAMENTOS!

O jogo de construção precisa instigar as crianças a buscarem novas estratégias e narrativas para suas brincadeiras. O que observamos depois de um tempo de repetições, é que o potencial de desafiar se desgasta.

Para transformar esta situação, é importante associar novos materiais e desafios ao jogo, fornecendo, por exemplo, pequenas tábuas, outras peças e elementos, ou ainda lançar a proposta de tentar construir uma casinha mais resistente para os porquinhos não sofrerem com o Lobo Mau!

Para ajudar a planejar oportunidades encadeadas, significativas e cada vez mais interessantes para as aprendizagens das crianças, criamos uma estratégia para provocar o professor. Ao pensar na próxima proposta, responda:

  • Por que você pensou em propor esta atividade?
  • Quais acontecimentos a/o levaram a pensar nela?
  • Como esta proposta se conectas com as outras atividades ou aprendizagens das crianças?

Desse modo, respostas como “porque as crianças gostam”, “porque vi na internet”, “a professora da turma ao lado fez e foi muito bacana”, não serão aceitáveis para justificar um trabalho pedagógico que ESCUTA as crianças, atua com INTENÇÃO e provoca aprendizagens cada vez mais complexas. 

Compartilhamos com os leitores do Tempo de Creche novos instrumentos de Planejamento e Registro que instigam os professores a refletir, planejar, atuar, observar, registrar, refletir… com intencionalidade, deixando o espontaneísmo de lado e levando em consideração o valor das sequências didáticas.

 

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PARA SABER MAIS…

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10 comments

Oi, boa tarde! seria possível disponibilizar um exemplo preenchido!! Estou apaixonada pelo conteúdo de vocês!!

Estou mim formando de pedagogia. Já estou no campo de estágio gostei muito foi uma experiência maravilhoso só de está no meio deles .Foi tão importante.quero ser uma professora observadora. Educadora.transmitir meu conhecimento com carinho..!

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