Uma creche da cidade de São Paulo se desafiou a pensar sobre os portões fechados da escola: será que podemos receber as crianças? No momento em que elas já se cansaram do modelo “vídeo-propostas”, como trazê-las para a escola e manter a instituição viva para a sociedade?
Nesta pandemia, um árduo e longo trabalho de construção social foi prejudicado. As escolas de educação infantil, que batalham para serem reconhecidas como espaços de aprendizagem, que acompanham a criança pequena, garantem a segurança e promovem o desenvolvimento intelectual, motor, emocional e expressivo, foram consideradas como ambientes de risco.
A segunda onda do Covid-19, que vem assolando países da Europa e da América do Norte, trouxe de volta medidas de distanciamento social sem atingir as escolas, que se mantiveram abertas. No Brasil, continuamos com escolas fechadas e milhões de alunos distantes do universo da educação.
De protetivas e emancipadoras, as escolas passaram a ser consideradas perigosas!
As portas fechadas têm impactado milhões de crianças que estão irritadas, tristes e acumulando perdas no desenvolvimento. As famílias, que já tinham a vida organizada em torno da escola, estão experimentando desafios inéditos para manter a renda, a rotina da casa, implementos na alimentação das crianças e uma frágil saúde emocional.
Será que a escola não pode encontrar modos de agir com segurança, indo em socorro de seu público e da sua própria representação social?
Tem jeito de atender as crianças e as famílias presencialmente nesta situação de pandemia?
Uma escolha bem sucedida
Com uma área externa grande, arborizada e apreciada pelas crianças, a equipe do Centro de Educação Infantil Santa Marina, São Paulo, se desafiou a promover atividades presenciais convidando crianças e familiares a passarem uma hora na creche.
A equipe planejou as atividades considerando os protocolos de segurança da OMS, se organizou de modo a ter uma professora dedicada a 5 ou 6 crianças, e pensou no espaço propositor que evitasse aglomerações e favorecesse a brincadeira saudosa.
O convite
Assim, gestoras e professoras postaram o convite nos grupos de WhatsApp que mantém com as famílias, oferecendo opção de escolha para dias e horários (das 10 às 11h ou das 14 às 15h), solicitando a presença de somente um familiar para acompanhar a criança durante a atividade. Também ressaltaram que todos deveriam comparecer com máscaras, inclusive as crianças de 3 a 4 anos.
Organização dos grupos, professores e horários
Aguardaram o retorno e, a partir do interesse das famílias, organizaram três grupos com aproximadamente 10 crianças e duas professoras para cada horário. As 30 crianças que confirmaram a participação representam 50% do publico da creche.
Espaço e Materiais
Garantiram máscaras para a equipe e álcool gel para todos.
Elaboraram as lembrancinhas.
Providenciaram cadeiras para os familiares.
Prepararam o espaço propositor com cantos de atividades diversificadas espalhados pelo parquinho, utilizando os brinquedos preferidos das crianças.
O dia chegou!
Algumas crianças chegaram acanhadas, outras animadas e todas com um objetivo claro: brincar! Correram para o parque, a área predileta, donas do território e cheias de dúvidas por não saber o que fazer primeiro: matar a saudade do ambiente, das brincadeiras, das professoras e dos colegas. Agindo como crianças felizes, fizeram tudo junto!
O faz de conta e a investigação começou assim que “gastaram” a energia inicial. Uma turma avistou um pica-pau e saiu em fila para observar mais de perto: é um filhote? O barulho espantou e o pássaro voou, mas deu tempo de perceber que o visitante era adulto. Se voltassem no dia seguinte, talvez o pica-pau pudesse ser investigado, conhecido e imaginado!
O painel sensorial estava com peças faltando e um menino levantou hipótese: acho que os passarinhos quebraram esse brinquedo!
Será? Quem sabe no próximo encontro podemos pesquisar!
Os elementos da natureza, velhos conhecidos da turma, foram coletados e usados: folhas pequenas e folhas grandes, mas só amarelas, disse uma pequena, mostrando seus tesouros.
Receitas de comidas aprendidas em casa, quem sobe mais alto, quem balança mais forte e quem chega na casinha, foram alguns dos desafios para corpos desejosos de infância na escola.
Ao final de uma hora de acolhimento e emoções, os corações vibrantes foram convidados a encerrar a visita. Claro que houve tristeza e frustração, mas todos já estavam um pouco remediados: as crianças, extasiadas e cansadas, os familiares, satisfeitos e amparados e a equipe pedagógica… realizada!
A documentação
Fotos do encontro foram postadas nos grupos de WhatsApp e, na semana seguinte, os jornais com a documentação dos acontecimentos. As famílias que compareceram ficaram emocionadas e as que não puderam ir, pediram para que se organizasse a atividade em outra ocasião.
Uma campanha…
Com isso, finalizamos esta postagem propondo um desafio: o que você pode fazer para abrir as portas da sua escola para as crianças?
Pense!
Deve existir um jeito de fazer isso acontecer.
E, se conseguir realizar o desafio, é possível repetir a ação com uma frequência cautelosa?
As crianças precisam ocupar o seu espaço, porque a infância de hoje também pertence à escola. As famílias necessitam de suporte. Por fim, a educação infantil não pode ser considerada insegura e arriscar ser vista novamente como instituição assistencialista que apenas “toma conta” de crianças.
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PARA SABER MAIS…
→ O Centro de Educação Infantil Santa Marina é uma creche conveniada à Prefeitura de São Paulo, atende 60 crianças entre 3 e 4 anos e pertence ao Instituto Rogacionista. As profissionais que promoveram a iniciativa descrita nesta postagem foram: Fátima da Conceição Coelho Bergamin, diretora, Silvana Barbosa de Moura, coordenadora, e as professoras Cidélia Dias Gomes, Katia Maria A. da Silva, Maria Josenilda da Silva e Neuza Marlene da S. Avelar.
→ Leia mais sobre a educação infantil na pandemia nas postagens:
Mil saudades de experiências ao vivo, perto de como foram essas mas, dentro das normativas nem assim é possível, tendo de cada criança ficar a um metro de distância uma da outra. Para a escola ser em algum momento nessa pandemia é preciso que TODOS, trabalhem juntos e aí que mora o problema. Ter educadores vacinados e crianças, pais, famílias inteiras se protegendo de verdade em nome da educação dos filhos. Será que isto vai acontecer de verdade?
olá, acho que devemos repensar a prática de confeccionar “lembrancinhas” para as crianças ou famílias. Tem creches em que professores trabalham 8 horas diárias sem incluir nessas horas tempo para estudar e planejar e ainda tem que usar seu tempo (geralmente em casa onde deveria descansar) pra “confeccionar lembrancinhas”. Há creches onde a entrega de lembrancinhas é obrigatória, seja semanalmente seja todos os dias. Quer agradar uma família????? ofereça uma boa prática pedagógica para as crianças e não lembrancinhas, ajude no desenvolvimento das crianças, oferte boas experiências o que uma lembrancinha não vai ajudar. Quer que uma criança tenha boas lembranças de você e da escola? Proponha boas aulas , pois dar lembrancinhas só ajuda na perda de tempo do professor que muitas vezes é tratado como um ser não pensante e apenas aplicador de normas vindas de cima para baixo. Sabe quando deve-se entregar lembrancinhas??? NUNCA, O que a criança deve levar pra casa são boas experiências ou materiais que foram produtos de projetos que fizeram sentido pra ela, e não uma lembrancinha do qual ela não fez parte da construção e muito menos uma lembrancinha obrigatória para agradar a “clientela”. ABAIXO AS LEMBRANCINHAS
Muito legal!!! Mais do que esperar é preciso agir!!! A infância precisa acontecer!