Organização de atividades: garantia de brincadeira e aprendizado

Organização de atividades: garantia de brincadeira e aprendizado

Como educar em meio ao dinamismo das crianças curiosas que desejam aprender sobre o mundo?
Como elaborar planos e propostas na educação Infantil?
Como a organização de atividades facilita o trabalho do professor?

Segundo Madalena Freire, ensinamos e aprendemos a partir do que sabemos, do que tem significado para nós. Os conteúdos que despertam e estimulam, tem que ter sentido para nós e para as crianças no jogo de ensino-aprendizagem. Nessa jornada, o educador da Educação Infantil, faz a mediação:

  • Afasta-se para permitir a brincadeira, a livre pesquisa e a criação
  • Observa para perceber as descobertas que devem ser valorizadas, as dificuldades e as demandas das crianças
  • Valoriza as descobertas e as conquistas
  • Encaminha, intervindo a partir das contribuições das crianças, com propostas de novos materiais, locais e situações  para aprofundar e enriquecer as oportunidades de aprendizagem
  • Mantém o ambiente seguro para cuidar do bem estar

Assim, nessa intermediação, o educador é o mediador no processo de leitura e pesquisa do mundo realizado pelas crianças.

Que tal experimentar esse modo de olhar?

Crianças e educador: uma parceria para desbravar um mundo!

Como conhecer a criança, o grupo e escolher como agir?

É importante lembrar que a criança não pode ser desligada e, portanto, seus aprendizados acontecem em todos os momentos do dia. Ela também não separa na cabeça a hora disso ou daquilo, como fazem as crianças maiores e os adolescentes. Para ela, tudo é uma brincadeira emendada na outra: brincar de beber o suco, brincar de pintar, brincar de escovar dente e brincar até para ir dormir.

No meio desse espírito brincante, que geralmente é sério e focado, se dão os aprendizados. Para Madalena Freire, aprender envolve a imitação: seguir modelos. No primeiro momento a criança reproduz o que percebe por meio dos sentidos; depois imita e representa e, finalmente, recria sobre o que aprendeu a imitar. Nesse ponto, o aprendizado passa a ser dela.

Nessa dinâmica, o educador que instiga suas crianças e acompanha seus interesses, precisa criar uma narrativa que prepara um caminho interessante e propício a descobertas.

Para começar…

Antes de tudo, vamos entender os momentos da proposta que ajudam a pensar no planejamento e no desenvolvimento da proposta.

Organização dos momentos da atividade… 

Ao estruturar o planejamento com uma previsão de tempos e hipóteses sobre o que pode acontecer o professor desenvolve suas ações com mais calma e segurança.

1 – Antes da atividade: planejamento, separação de materiais, organização de espaços e previsão dos tempos

Pense que o planejamento, a separação de materiais,  a previsão dos tempos de duração de cada momento  e  organização de um espaço propositor evita atropelos, favorece a tranquilidade, a agilidade e o foco na proposta – das crianças e do educador!

2 – Durante a atividade: começo, meio e fim, como a narrativa de uma história

  • Primeiro  momento da atividade: DESPERTAR PARA OS MATERIAIS ou TEMA

Podemos dizer que no início da proposta é importante preparar as crianças em relação ao tema. É o momento de seduzir e motivar e, assim, despertar a curiosidade. “Aquecer os motores”, mantendo o foco das crianças no desenvolvimento das ações e acolhendo suas sugestões, comentários e interesses. É um chegar de mansinho, ainda sem trazer os materiais que serão introduzidos e explorados em seguida. Ou ainda, apresentando somente o que é mais mais significativo, contando uma história sobre o tema, apresentando um livro, uma música, movimentos e sensações que serão estimulados.

  • Segundo momento da atividade: EXPLORAR E DESCOBRIR

O momento de exploração é o que ocorre a seguir. A participação das crianças é mais intensa porque elas já estão envolvidas na proposta.

No momento inicial o educador é mais diretivo, ele realmente introduz uma situação. Nesta segunda fase, ele se afasta da direção e passa a observar e registrar mais e interagir de acordo com as oportunidades levantadas na observação: aproveita situações para desafiar com perguntas, amplia possibilidades de pesquisa e brincadeira, chama a atenção para as descobertas interessantes, acompanha o movimento do grupo e o ritmo de cada criança.

O tempo de duração desta etapa irá depender da disposição e do interesse do próprio grupo.

É a partir das ações das crianças que se constrói a próxima fase, que chamamos ACABANDO A BRINCADEIRA SUAVEMENTE.

  • Terceiro momento da atividade: ACABANDO A BRINCADEIRA SUAVEMENTE  (finalização)

É a continuidade da atividade, construída a partir das brincadeiras criadas na fase anterior. Isto é, mantendo o caráter lúdico e continuando “na brincadeira” brincada pelas crianças, o professor encaminha o grupo para o término da proposta. Este tempo específico deve ser previsto já no planejamento, para que a proposta como um todo não termine de forma abrupta. Se as crianças estiverem pintando ou desenhando, a finalização pode ser uma brincadeira de lavar pincéis e guardar os lápis em caixinhas previamente separadas para esse momento. Se a brincadeira for de casinha, que tal fingir que a noite chegou e está na hora de dormir? Com isso, o espírito lúdico se mantém e o cansaço e a excitação vão se encaminhando para o fim. A educadora Denise Nalini sugere que o professor vá avisando às crianças que “falta pouco para acabar a brincadeira”. Assim, mesmo que a noção de tempo ainda não esteja completamente desenvolvida, as crianças começam a se preparar para a finalização.

Quem não se lembra da frustração de ter que parar de brincar para almoçar, tomar banho etc.?

Finalmente, um ponto importante é estar atento para a possibilidade de continuidade das brincadeiras. Alguns planejamentos não se esgotam na atividade de um dia e muitas propostas podem ser retomadas no dia seguinte. Repetir os processos ou continuar a partir do ponto onde se parou, é importante para ampliar e aprofundar as aprendizagens. A  professora Ana Helena Rizzi Cintra orienta que, quando possível, é interessante manter a arrumação da brincadeira deixada pelas crianças ou até, junto com elas, fotografar o cenário para repeti-lo posteriormente.

Crianças são mais sensíveis ao diálogo com os ambientes do que aos grandes discursos falados. Por isso, o professor que mantém a escuta aberta, interage sem atropelar e promove propostas com narrativas bem estruturadas favorece oportunidades de vivências significativas e experiências enriquecedoras.

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PARA SABER MAIS…

Leia mais sobre esse tema nas postagens:

Sobre registro:  Registro fotográfico: muito mais do que documentar!

Sobre materiais: Três dicas de materiais inusitados e uma para ajudar na bagunça!

Ana Helena Rizzi Cintra é pedagoga e professora de Filosofia.  Atua na Creche Central da Universidade de São Paulo.

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