Nossa leitora Cristina Amorim, professora de SP, pediu uma dica para trabalhar a cultura do Ceará com sua turma (faixa etária: 4 anos), que será seu próximo projeto.
Gostaria de saber se vocês tem alguma dica sobre a cultura do Ceará pois esse será meu próximo projeto com meus pequenos, não posso fazer feio. Vale tudo, a comida, a dança, o povo qualquer coisa que desperte neles o prazer em conhecer esse lugar lindo!
Essa solicitação levantou a questão da definição e do encaminhamento de temas de projetos: a forma como o professor pensou no tema, os conteúdos envolvidos e uma abordagem compatível com a faixa etária e a concepção de infância.
O aprendizado na primeira infância está associado às vivências e às experiências sentidas. Sim: SENTIDAS! Porque criança não aprende só com a cabeça, ela se envolve por inteiro: corpo + sensações + emoções + intelecto.
Para aprender a criança precisa se entregar de corpo E alma. Então, aquilo que é proposto deve fazer sentido, ser interessante e sensibilizar A CRIANÇA. Do contrário, não acontece a entrega.
E qual seria a melhor maneira de descobrir os conteúdos que realmente interessarão a turma? OUVINDO os pequenos! Ouvindo com os ouvidos, com os olhos e com a memória reflexiva que parte dos registros.A professora Cristina quer levar o encantamento de “um lugar chamado Ceará” para sua turma. Nesse caso, o Ceará precisa ter significado para se tornar interessante e instigador. Se o tema não partiu do interesse das crianças e, por alguma razão, precisa ser trabalhado, o despertar para ele deve ser construído: é uma questão de instigar os pequenos a saberem mais sobre esse tal lugar.
Na faixa etária da Educação Infantil, tempos e espaços precisam estar concretos. As crianças pensam essas questões dessa forma:
- Vou embora para casa depois de brincar e tomar o lanche.
- Depois de comer vou dormir
- Os lugares que existem no meu mundo são a creche/escola, a minha casa, a casa da minha tia (que começo a perceber que é longe!), a praça, o supermercado… enfim, tudo aquilo que realmente conheço com frequência.
O que não está no concreto é simbólico e aí… vai levar um tempo para amadurecer esse entendimento.
Assim, o Ceará tem que estar no concreto:
Será que a família de alguma das crianças vem do Ceará? Que tal perguntar por meio de bilhete? Se houver, poderia convidar um membro para conversar e contar suas histórias e memórias sobre o estado: como era a cidade (grande/pequena; com casas/prédios; com ou sem praia); o que comiam; como era a música e a dança – pode cantar e demonstrar; ensinar uma brincadeira; mostrar fotos ou artesanato – se tiver).
Como as crianças são predominantemente imagéticas, pesquise imagens do local – simples e interessantes aos olhos de uma criança. Se puder, imprima algumas para levar para a roda de conversa e fixar na parede da sala. Se a impressão não for possível, selecione uma série de imagens, faça um arquivo num computador e leve as crianças para verem as fotos digitais. Desse modo, o Ceará passará a existir para eles – não como “um estado da Republica Federativa do Brasil”! Mas como um lugar que eles viram nas fotos, que tem praias, frutas diferentes, jangadas, rendas etc., etc., etc.. Isso vai compor o “Ceará” no universo deles.
SUGESTÕES PARA TRABALHAR O LUGAR CHAMADO CEARÁ:
Um aspecto típico da cultura do estado, que pode ser trabalhado de forma lúdica e desafiadora, é a Jangada.
Uma boa seleção de fotos pode apresentar o barquinhos no contexto real e como é utilizado. Depois, pode-se passar para a vivência prática: Colocar um pouco de água em bacias e baldes e fazer com os pequenos jangadinhas de bandeja de isopor, palito de churrasco ou gravetos e pedaços de papel. Pequenos objetos podem servir ao faz de conta e se transformar em em passageiros e capitães. Falamos desse brinquedo no post Território do Brincar – num filme de brincadeiras, dicas para brincar com os olhos e o coração!. O site do projeto Território do Brincar é uma fonte excelente de brinquedos e brincadeiras das crianças de todo o Brasil.
Uma formação peculiar do litoral cearense são as falésias: encostas escarpadas constituídas por camadas sedimentares. Estas camadas compostas de areias coloridas são usadas na confecção de garrafinhas com desenhos. É um artesanato difundido na região.
Então as areias são outra possibilidade de trabalho com a turma:
- Pesquisar fotos das falésias com as camadas coloridas em destaque
- Pesquisar imagens das garrafinhas típicas de areia e seus desenhos
- Levar as fotos para a roda de conversa e deixar as crianças olharem, imaginarem e conversarem
- Apresentar então o desfio de trabalhar com areias coloridas:
Apresente a areia para as crianças e ofereça potinhos e colheres para elas experimentarem o material. Se as crianças não estiverem habituadas à areia, permitir a experimentação livre.
Em outro dia, pode-se utilizar copos descartáveis de plástico cristal (transparentes como o vidro); tingir areia ou sal com algum corante; oferecer colheres para as crianças transferirem o material colorido para os copos. É interessante apresentar a possibilidade de intercalar as cores das areias/sal. Mas é só apresentar… as crianças podem ou não aceitar a sugestão. Uma maneira prática de colorir o sal é esfarelar giz de lousa colorido e misturar. As crianças também podem ajudar nessa técnica.
Depois que os copos estiverem prontos, é possível colocar uma camada de cola branca sobre a superfície da areia/sal utilizado para selar. Outra sugestão é passar um filme plástico e fita adesiva – nesse caso tomar cuidado para não virar o copo e desmanchar a composição das crianças.
Gostamos de trabalhar com as lonas plásticas para forrar as salas nos momentos de experiências com materiais que fazem bagunça: aqueles plásticos grandes, utilizados em obras, que podem ser comprados por metro. A arrumação no final da atividade fica mais ágil e fácil e podemos deixar as vivências acontecerem com liberdade. Ao encerrar, se não puder limpar a lona com a ajuda das crianças, é só recolher e deixar num local para ser limpa em outro momento. As lonas fazem um barulhão e impressionam as crianças pelo tamanho. Esticar o plástico no chão com a ajuda delas provavelmente vai transformar a ação numa grande brincadeira, que pode aquecer o foco para a atividade.Com os outros destaques da cultura do estado (comida, música, vestuário, dança) pode-se proceder da mesma maneira: construindo o conhecimento de forma concreta, proporcionando um despertar para o interesse e vivências lúdicas. É uma questão de transformar o conteúdo numa grande aventura!
As reflexões desta postagem podem encaminhar a questão da importância das comemorações e celebrações na Educação Infantil. Será que a data do Descobrimento do Brasil, por exemplo, faria sentido para uma criança que não entende o que é uma cidade, um estado ou um país? Para conhecer mais sobre esse olhar veja os posts:
Agradeço imensamente ao Blog as dicas. A partir delas quero deixar esse projeto leve e lúdico, para enfim
chegar ao objetivo maior que é fazer com que tenha significado pra as crianças.
Abraços,
Cristina Amorim
Cristina,
Desejamos uma ótima aventura para você e os pequenos!
Um grande abraço!