Concentração, cores e formas: como pensar sobre estas aprendizagens?

Concentração, cores e formas: como pensar sobre estas aprendizagens?

Concentração, cores e formas são objetivos de aprendizagem frequentemente apontados pelos professores nos planejamentos de atividades.  Será que o desenvolvimento da habilidade de se concentrar está previsto na BNCC ou nos currículos municipais da educação infantil? E a aprendizagem de cores e formas, como é vista nestes documentos? 

Concentração

Fiz uma varredura do termo “concentração” na BNCC e no vasto Currículo da Cidade de São Paulo. Resultado? Não encontrei nenhuma menção! Concentrar-se não faz parte dos objetivo de aprendizagem previstos para a educação infantil.

Cores e formas

Observo que muitos professores planejam propostas com o objetivo de “trabalhar as cores”.  Alguns ainda criam atividades para uma só cor: hoje vamos trabalhar o amarelo! Em geral, estas propostas apresentam um banho na cor escolhida pelo professor, que prepara verdadeiros cenários monocromáticos!

Propomos uma reflexão sobre estas questões!

Vamos pensar sobre a concentração

O que significa se concentrar?
Encontrei as seguintes definições no site Sinônimo: absorver-se, aplicar-se e dedicar-se.

O que nos dá sinais de que a criança está absorvida, aplicada no seu brincar e se dedicando a participar de uma proposta? Será que o simples fato de propor uma atividade qualquer, já implica em demandar das crianças a tal concentração?

Todos sabemos que as crianças SE CONCENTRAM em atividades que lhes são interessantes, desafiadoras, prazerosas e significativas. Isto porque a concentração é consequência do desejo de se envolver.

E como propor atividades em que a concentração se faça presente e permita o envolvimento?
É aí que entra a tal da escuta de que tanto se fala! Quando as propostas estão apoiadas naquilo que o professor lê/escuta de suas crianças, provavelmente encontrará um terreno propício para a concentração e as experiências. Brincadeiras, histórias, temas de pesquisa, situações problema, conversas e tudo o mais, precisam partir da curiosidade e do interesse, com isso, a concentração na situação proposta é mera consequência.

Claro que não estamos falando aqui de crianças com dificuldades e distúrbios clinicamente constatados.

 E quanto às cores e formas?

Elas aparecem na BNCC e no currículo paulistano, por exemplo. De fato, estão bem presentes, mas não como um conteúdo isolado das situações cotidianas vividas pelas crianças.
O que isso quer dizer?

Que as crianças devem EXPLORAR as cores e as formas com todos os sentidos, percebendo-as nos objetos e nos elementos da natureza durante as brincadeiras, nas ações de cuidado e higiene, ao trabalhar a cultura, enfim, naquilo que vivem no dia a dia.

Voltando ao “amarelo”, se pensar bem, ele não existe por si só! A cor amarela está na banana, na camiseta, na cadeirinha da sala, na tinta e no giz de cera. Amarelo é uma palavra que designa uma característica, assim como grande, áspero e macio, por exemplo. Não vemos ninguém pensando em fazer a “atividade do grande” para que as crianças aprendam a palavra e a reconhecer isoladamente o atributo! Buscamos usar o termo grande, pequeno, macio etc., no dia a dia. Podemos pensar nas cores do mesmo modo, elas serão aprendidas à medida que os adultos forem se referindo a elas.

Mais tarde, conforme amadurecem, as crianças começam a notar as características físicas das cores, que se misturam e se transformam em outras, que surgem em locais inusitados como no arco-íris e no reflexo do sol atravessando uma superfície colorida e transparente.

Com as formas é a mesma coisa. Elas também precisam ser exploradas nas experiências do cotidiano… com os olhos, as mãos e o corpo todo. Deslocar o corpo rolando sobre uma bola, passar a mão nas arestas de uma caixa, sentir os diferentes modos de encaixar as peças do monta-monta e ouvir as palavras associadas às diferentes formas, são experiências sensoriais que constroem essa ideia. Formas recortadas de cartolina e EVA não têm sentido se não forem utilizadas em propostas interessantes de brincadeiras de montar, colar, desenhar, resolver problemas, entre outras.

Por fim…

Em tempos mudança na Educação, precisamos estudar os currículos e os objetivos de aprendizagem com abertura para compreender as sutilezas que às vezes nos escapam ao olhar. Palavras como EXPERIÊNCIA, EXPLORAÇÃO e SIGNIFICADO têm importância e implicação direta nas concepções de ensino-aprendizagem e interferem na prática pedagógica.

Com isso, propomos: ao planejar uma atividade sempre confira se as crianças:

aViverão situações interessantes, desafiadoras e significativas
aPoderão explorar (objetos, conceitos, interações)
aTerão a oportunidade de criar e viver experiências

3 comments

Excelente texto, não dá somente para ler os objetivos da BNCC, e não refletir sobre a prática para garantir a exploração, experiência e as vivências significativas.

Gostei muito do seu texto. Vai ao encontro das propostas de mudança na educação, ouve-se muito em BNCC, mas uma leitura clara e concisa não tinha feito ainda.
Obrigada
Silvana

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