Vivemos um tempo em que a escola já é parte da vida da criança pequena… e ela sabe disso! Mas a ocorrência do coronavírus impôs um afastamento… tristemente, professores e alunos tiveram que deixar de conviver. Por isso, órgãos do governo e sociedade cobram das escolas a invenção de um novo modo de ser, que se opõe a uma instituição que existe há séculos. Preparamos um roteiro para ajudar a refletir sobre a educação à distância para crianças pequenas e organizar estratégias para planejar atividades compatíveis com os diferentes contextos.
Esta é uma oportunidade para refletir e se recriar?
Sim. E a reinvenção passa necessariamente pela tecnologia.
Então, perguntamos:
Que tecnologia é essa que caminha tão distante do dia a dia das creches e pré-escolas?
Que sala de creche e pré-escola conta com recursos de informática ou um simples computador conectado à internet?
Em qual escola de educação infantil a criança vivencia experiências tecnológicas cotidianas, que se relacionam ao seu currículo?
No universo de professores de creches e pré-escolas, quantos possuem recursos tecnológicos de qualidade em seus locais de trabalho? E em casa?
Talvez alguns possuam, mas não é regra!
É neste contexto pobre de tecnologia que a escola de educação infantil precisa criar estratégias para manter o elo com suas crianças e se fazer presente na vida delas.
Pensando nisso, compartilhamos com os leitores do Tempo de Creche um roteiro construído com coordenadoras e diretoras das creches nas quais fazemos formação, para auxiliar no planejamento de propostas em tempo de isolamento social.
O roteiro está organizado em tópicos para que, ao planejar um programa de atividades e cada proposta em si, alguns aspectos do novo contexto sejam considerados.
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ROTEIRO PARA PLANEJAR ATIVIDADES À DISTÂNCIA
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
1 – Palavras importantes para o momento:
- Mudanças nas rotinas – de professores, gestores, crianças e famílias
- Periodicidade: pensar no número, na frequência e na constância das propostas
- Tecnologia – o que está disponível para as equipes e para as famílias?
- Flexibilidade – nos recursos, nas estratégias, nos tempos e nos materiais
- Paciência – diz Madalena Freire que “o desafio de todo educador é educar sua paciência”
- Avaliar o processo e planejar – avançar a partir do registro, da reflexão/avaliação e do replanejar.
2– Comunicação: público, recurso e estratégia
- Público:
- Com equipe: planejar e trocar estratégias, recursos e aprendizagens
- Com famílias
- Com crianças
- Meio
- Estratégias
- Vídeo
- Áudio
- Foto
- Texto
- Link
- Arquivo PDF
3– Registros
- Pedagógico: acompanhamento, reflexão/avaliação e planejamento
- Prestação de contas:
- Gestão da creche
- Prefeitura
- Comunidade de trocas: rede colaborativa ampliada entre a equipe, com as equipes de outras escolas (WhatsApp, Facebook etc.)
- Estratégias para o registro:
- Print de telas
- Arquivamento das mensagens, fotos e vídeos enviados pelas crianças e famílias
- Instrumentos de planejamento, registro e reflexão
- Devolutivas
- Dos professores para as crianças e as famílias: estratégias de devolutivas (é importante dar retorno, deixar claro que recebeu e viu o que foi enviado e também enviar comentários positivos)
- Dos gestores para os professores
4– Planejamento das propostas:
- Tempos e rotinas. Considerar:
- vida particular e profissional dos professores
- rotinas das famílias e das crianças
- Combinados com as famílias – é importante estabelecer combinados sobre:
- Frequência e horário que vão receber as atividades (não é preciso estabelecer horários para que as atividades sejam realizadas)
- Registro e envio da interação ou da execução das atividades (orientar sobre a data limite e o tipo de registro – foto da situação, foto da produção, vídeo, comentário, resposta a uma pergunta etc.)
- Construção e delimitação de um espaço brincante na casa (orientar as famílias da importância e praticidade de delimitar um espaço para a criança fazer as atividades propostas pela escola)
- Atividades (professor deve ter clareza sobre os objetivos da proposta):
- Propostas autônomas (a criança brinca sozinha):
- Construção de cenário de brincadeira com brinquedos (juntar os brinquedos da casa para fazer diferentes combinações: brinquedos de restaurante, brinquedos de mercado, brinquedos de zoológico e floresta, brinquedos de cidade – carrinho e casinha, etc.)
- Construção de cenário com objetos de largo alcance (embalagens, caixas e caixotes, tecidos, objetos de cozinha, sucatas em geral – limpas e inofensivas)
- Envio de links e sugestões de programas de TV (lembrar que a qualidade das sugestões vai refletir a qualidade do trabalho na escola!):
- Peças de teatro,
- Circo
- Shows
- Contação de histórias
- Filmes de animação
- Vídeos, fotografias, mensagens e áudios criados pelos professores:
- Acolhimento: bom dia, como está, estou com saudades, logo vamos nos encontrar etc.
- Contação e narração de história
- Cantar música
- Apresentar fotografias de atividades realizadas na escola, fotografias das produções, dos colegas etc.
- Apresentar um objeto interessante, um objeto conhecido, uma brincadeira (caixa de surpresas)
- Propostas autônomas (a criança brinca sozinha):
- Propostas com a família
- Jogos e brincadeiras (caixa de surpresa; advinha; brincadeiras de mão; jogos tradicionais – siga o chefe; brincadeiras de advinha, caixa de surpresa, venda nos olhos, caça ao tesouro etc.)
- Atividades de arte (pintura, recorte e colagem, modelagem, construção, criação de brinquedos – jornais, papeis, embalagens, revistas, massas caseiras, tintas com vegetais, terra e barro, lápis, canetas, giz). Recomendar delimitar e proteger os ambientes.
- Narração de histórias (com os livros de casa, enviar links de livros da internet)
- Leitura de poemas, parlendas, trava-língua, advinhas
- Teatro de fantoche – com brinquedos e objetos
- Brincadeiras musicais
- Atividades de rotina: arrumar, limpar, lavar, cozinhar (não considerá-las punição ou eventualidade, tratar das tarefas de casa como responsabilidade, como na escola!).
- Atividades de cuidados pessoais com músicas (lavar mão, banho, escovar dentes, fazer as refeições etc.)
- Compartilhar registros da vida diária: brincadeiras, atividades de rotina, produções, brinquedos preferidos, objetos interessantes, livros e histórias preferidas, entrevistas com parentes, fotos e desenhos favoritos, pesquisa sobre um tema etc.
- Propostas com a família
- Encaminhamento das atividades para as famílias:
- Clareza e simplicidade na comunicação
- Envio de opções (por exemplo, nem sempre a família tem farinha de trigo em casa para fazer massa caseira!)
- Organização do material enviado:
- O que é a proposta
- O que a proposta envolve (espaço, tempo, materiais e pessoas)
- Como proceder
- Como e o que registrar
- Como e quando enviar o registro
- Encaminhamento das atividades para as famílias:
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É importante aproveitar a oportunidade para conhecer as famílias, relacionar-se com elas e estreitar a parceria família-escola. Depois que a pandemia for embora, vão sobrar evidências das carências e necessidades da estrutura escolar, que deverá se preparar para atender uma sociedade com novas aspirações e valores. Diz Ana Angélica Albano Moreira que “são realmente os valores da sociedade que determinam os destinos da escola, com muito maior força do que os estudos de psicologia”.
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PARA SABER MAIS…
→ Referência bibliográficas:
- Ana Angélica Albano Moreira – O espaço do desenho: a educação do educador. Editora Loyola, 2008
- Madalena Freire – Educador educa a dor. Editora Paz e Terra, 2008
→ As creches que participaram da discussão sobre o roteiro para planejamento de atividades à distância foram:
CEI Aníbal Difrancia
CEI Nossa Senhora do Rosário
CEI Santa Marina
CEI Vila Anglo
todas em São Paulo.
Leitura muito boa, sugestões bem práticas