Na vida intensa e atribulada da educação infantil, não raro nos damos conta de que o bebê está se expressando por meio de balbucios, que vem a se somar ao choro, gracejos e gestos. Mais tarde, admitimos que basta a criança pequena ouvir, repetir palavras e buscar seus significados para que, aos poucos, sofistique seu discurso. Isso parece ser verdade.
Vamos pensar sobre o desenvolvimento da linguagem na criança pequena? Nesta postagem você também poderá acessar o vídeo sobre o assunto e baixar um material com tabelas e dicas.
O linguista e pensador americano Noam Chomsky afirma que nascemos com um “instinto” para aprender a linguagem oral, e que linguagem e cérebro parecem se desenvolver na mesma velocidade.
Se linguagem e pensamento se desenvolvem em conjunto, é fundamental que a linguagem oral e escrita estejam no radar do professor em todos os momentos.
Em TODOS OS MOMENTOS?
Sim. É preciso investir na intencionalidade pedagógica das interações que promovemos durante os momentos de rotina e nas propostas estruturadas. A BNCC preconiza que a linguagem deve ser trabalhada como um produto de experiências de interação social, assim, a atividade de arte, a ida ao parque, a hora do almoço, a conversa durante a troca do bebê, a recepção na entrada da escola, a brincadeira de casinha, a exploração de materiais… certamente concentram oportunidades para o professor atento valorizar as tentativas de comunicação das crianças e, na falta delas, provocar.
Mas por que Chomsky afirma que linguagem e cérebro se desenvolvem no mesmo ritmo? Se uma palavra representa algo, então ela é um símbolo. Para simbolizar, a criança precisa mobilizar o pensamento abstrato, que é conquistado aos poucos, a partir da vivência de inúmeras experiências sensíveis e significativas.
Questionamentos e boas perguntas são formuladas ou compreendidas à medida que a linguagem se desenvolve.
Vygotsky dedicou anos de estudo para pesquisar estas relações.
Na fase pré-verbal, ou seja, antes da criança dominar a linguagem, ela usa diferentes estratégias para se comunicar: gestos, expressões, choro, sorriso e vocalizações. Em seguida, surgem as primeiras palavras, denominadas palavras imaturas por Vygotsky. Quando a criança assimila uma palavra, ela permanece imatura no cérebro até que se vivam experiências relacionadas a esta palavra. Com isso, significados e associações à nova palavra vão sendo construídos e amadurecidos na mente da criança. E é por isso que as interações sociais do cotidiano devem ser consideradas como oportunidades para as crianças estabelecerem as relações entre suas vivências e as palavras aprendidas.
Voltando ao Chomsky, cada vez que as palavras vão se somando e ganhando significados, as possibilidades de pensar vão ficando mais aprimoradas: quanto mais palavras e significados a criança aprende, mais complexo pode ser o seu pensamento.
Questionamentos e boas perguntas – a base para a formação de uma criança investigadora, opinativa e inteligente – são formulados ou compreendidos à medida que a linguagem se desenvolve.
Com isso, o que parecia ser um “simples” viés da aprendizagem da criança, percebemos que não é!
Vygostsky também pesquisou outro aspecto do desenvolvimento da linguagem que às vezes fica esquecido: o pensamento silencioso. Quando a criança pequena consegue elaborar o que pensa por meio das palavras, ela o faz falando. É fácil observá-las “falando sozinhas”. Na verdade, estão pensando. Aos poucos, à medida que a linguagem se desenvolve, o pensamento passa a ser silencioso. Isso também é considerado um marco no desenvolvimento da linguagem.
Uma das mensagens mais importantes do documentário O começo da vida, da diretora Estela Renner, fala sobre a importância das palavras e das conversas na primeira infância. Pesquisadores descobriram que as crianças precisam ser ouvidas e valorizadas nas suas tentativas de comunicação, e os adultos devem responder e construir bate-papos com muitas palavras… e esquecer os diálogos simplificados, infantilizados e compostos por sim e não. Crianças pequenas precisam ter voz, vez e ouvir milhões de diferentes palavras que sejam capazes de sensibilizá-las, provoca-las e interessá-las.
Dá para perceber que quanto mais trabalharmos o desenvolvimento da linguagem, mais contribuímos com as habilidades cognitivas da criança.
Preparamos um material com marcos do desenvolvimento da oralidade da criança pequena para servir como referência para o professor. Apesar de destacar as faixas etárias e as expectativas de aprendizagem, é importante ressaltar que cada criança tem um ritmo diferente e que o importante é conhecer o percurso para acompanhar os processos singulares de aprendizagem.
Também colocamos algumas dicas para inspirar intervenções que contribuam para as conquistas deste campo de experiências.
BAIXE O PDF: Marcos do Desenvolvimento da Oralidade e dicas
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PARA SABER MAIS…
→ Referências:
- Howard Gardner: A criança pré-escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la. Artes Médicas, 1994
- Raising Children – The Australian Parenting Website
- Renata Mousinho et al: Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste percurso.
- Vygotsky – Ivan Ivic: Lev Semionovich Vygotsky
→ Leia mais sobre o desenvolvimento infantil nas postagens:
EM TABELAS, O QUE A CRIANÇA FAZ A CADA ETAPA DO DESENVOLVIMENTO
EMOÇÕES: 4 ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM ELAS
WALLON: TEORIA E PRÁTICA DOS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Questionamentos e perguntas que nos faz refletir e assim nos dedicarmos cada vez mais aos nossos alunos.
Como sempre com temas muito pertinentes para o nosso “ressignificar” cotidiano. Esse, em específico, se mostra no novo contexto de distanciamento social com as crianças, evidente e necessário em se pensar possibilidades de ampliação de repertorio vocabular, pelas crianças bem pequenas principalmente, pois a interação fora do ambiente familiar não está sendo possível e seu desenvolvimento continua acontecendo… Precisamos estar atentos às possibilidades oferecidas, bem como, às dificuldades que a falta delas vai provocar nos momentos posteriores à esse período. Também me preocupo muito com essa questão, minhas turmas são de crianças na faixa etária de 3 a 4 anos e essa construção da linguagem é uma das caracteristicas mais perceptíveis nesse período. Obrigada por sempre manterem em mim a chama do Sempre Querer Saber!!!