Formação Tempo de Creche: presencial ou remota? As duas!

Formação Tempo de Creche: presencial ou remota? As duas!

Em 2020 pesquisamos, inventamos, colocamos em prática e avaliamos temas e estratégias formativas. O que deu certo? Quais temas formativos dispararam transformações? Acompanhe nossas experiências como formadoras e pense sobre as possibilidades para 2021.

Formação continuada não é um processo fácil… nem para quem participa e nem para quem coordena.
Como alunos, nos perguntamos: quais temas ou aspectos da prática eu preciso me aprofundar e me aperfeiçoar? Por outro lado, como coordenadores e formadores investigamos: quais conteúdos trabalhar com a equipe? Quais são as demandas e necessidades do grupo? Como desenvolver aprendizados e transformar as práticas?

Num ano em que a equipe do Tempo de Creche pensou, criou e implementou um processo formativo remoto inovador, compartilhamos o percurso realizado com 4 creches de São Paulo e os resultados colhidos na fala das próprias participantes.

2020 foi o segundo ano de um projeto de formação de profissionais da educação infantil, pautado na Arte e em eixos pedagógicos. Ao chegar em março, bum! Tudo mudou e os planos de continuidade foram para o espaço.

Como manter os encontros e a observação das práticas com as 8 gestoras e 70 professoras? Como fazer escuta, observar necessidades e avaliar os percursos de aprendizagem de cada profissional? Como tirar do conforto diretoras, coordenadoras e professoras para que se sentissem mobilizadas a aprender?

Não houve alternativa se não explorar os meios digitais. Contratamos uma plataforma profissional de reuniões remotas e fomos pesquisar as alternativas para realizar nossos vibrantes e interessantes encontros formativos, acompanhar as práticas durante o isolamento social, sistematizar as aprendizagens, fazer fechamento de conceitos, avaliar e dar devolutivas individuais e coletivas das aprendizagens conquistadas.

COMEÇANDO PELA ESCUTA

No final de 2019, percebemos que uma importante demanda formativa dos professores era a escuta da criança e, a partir dela, o encaminhamento de atividades que dessem conta de valorizar os interesses e promover as aprendizagens indicadas nos objetivos da BNCC e dos currículos municipais. 

Mas, o que é fazer escuta? Como escutar? O que fazer com aquilo que se escuta?

Antes de mais nada, escuta não parte da observação passiva – tipo sentar com um caderno e uma câmera. Ao contrário, para escutar as crianças é necessário atuar com intenção e provocação. E aí está o “X” da questão! É sentir os momentos e agir para desafiar: às vezes se deixar levar pelos sinais das crianças e, às vezes, propor e provocar para aprofundar e ampliar a brincadeira, a pesquisa e a aprendizagem. 

Como entender cada momento e qual a postura a ser assumida?

A resposta foi desconstruir ideias pré-concebidas e refletir sobre situações práticas vividas por outros educadores e pelo próprio professor. Não tem outro jeito! Sabe porquê? Porque é neste momento que a teoria se une à prática. Ao pensar sobre uma realidade próxima à nossa, é que enxergamos novas possibilidades. E aí… as fichas começaram a cair.

ESTRATÉGIAS FORMATIVAS

Como fizemos isso acontecer?
Partimos da sensibilização!

Renovamos o vínculo com as equipes e sensibilizamos o olhar por meio da Arte e da reflexão sobre a prática. A Arte é uma linguagem que desperta sentimentos, emoções, autoconhecimento e abre canais sensíveis para escutar a si e ao outro, seja o colega de equipe, seja criança. Nos encontros remotos, um repertório qualificado de artistas e obras nos conectou, nos aproximou e estabeleceu novos “espaços” relacionais.

A Arte como linguagem para abrir cais sensíveis

Aliás, arte contemporânea tem como pilar o espaço… e, assim, o “espaço propositor” da Arte inspirou o grupo a pensar na importância dos espaços propositores na prática pedagógica.

Instigamos o professor a perceber como o ambiente planejado, os materiais organizados e as intervenções provocativas “na ponta da língua” apoiam a atuação com a criança pequena. O espaço propositor esteticamente preparado comunica para as crianças a intenção do professor, provoca, dispara a criatividade e a pesquisa.

As intervenções desafiadoras (perguntas, gestos e outras provocações), pensadas no momento do planejamento da proposta, dão apoio e segurança para o professor atuar com intenção pedagógica. Mesmo que o imprevisível aconteça, o professor estará preparado para agir com intencionalidade e avaliar se deve engajar as crianças na trilha planejada ou seguir pelos desvios de rota colocados por elas.

A descoberta do espaço propositor como estratégia pedagógica foi o ponto de partida para aprofundar o tema da intenção pedagógica e revisitar as concepções de criança, aprendizagem e educação com olhar renovado: o que vem antes, a atividade ou os objetivos da atividade? Percebemos uma tendência em pensar primeiro na atividade para depois “encaixar” objetivos. Contudo, um trabalho intencional parte do contrário! Ao avaliar as trilhas de aprendizagem das crianças, o professor vai naturalmente percebendo as oportunidades para trabalhar cada objetivo de modo intencional e significativo.

UM CONTEÚDO DENSO: A PRÁTICA REFLEXIVA

Assim, chegamos num ponto mais denso da formação: a prática reflexiva apoiada no uso dos instrumentos metodológicos: planejamento, registro, avaliação e documentação pedagógica.

Vídeos de atividades práticas são excelentes suportes para promover discussões e descobertas e estabelecer relações com o que se enfrenta na própria escola. Nos encontros remotos apresentamos momentos reais da educação infantil e também analisamos em grupo os registros da prática dos professores e coordenadores participantes da formação. É refletindo, replanejando e compartilhando pensamentos que conseguimos construir o desejo de criar e experimentar novas estratégias e posturas.

UMA JORNADA FORMATIVA

Resumidamente, de março a dezembro de 2020 abordamos as emoções e sentimentos na visão do Wallon e por meio da apreciação de obras de arte e de experimentações artísticas. Em seguida, relacionamos as experiências pessoais do grupo com a pesquisa da arte-educadora dinamarquesa Anna Marie Holm.

A relação com as famílias foi trabalhada por meio da documentação pedagógica, revisitando as experiências do Freinet com os Jornais Murais.

O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A
SUSTENTABILIDADE DA FORMAÇÃO

Mas como fazer as conquistas da equipe perdurarem?

Uma formação em paralelo foi fundamental para assegurar os avanços das professoras: a construção do papel formativo do coordenador pedagógico.

Sem o acompanhamento rotineiro das práticas pedagógicas dos professores e dos encontros reflexivos em pequenos grupos, acreditamos que não há aprofundamento e o que foi aprendido com a formação externa acaba se dissipando com o tempo.

Então, como formar o coordenador para que ele seja um formador?Engajando-o no processo formativo externo realizado com os professores. É torna-lo um parceiro da formação como um todo!

Por meio da homologia dos processos, isto é, aprender a partir das experiências vividas conosco, o coordenador pode conquistar repertório e segurança para dar seus passos como formador. Neste percurso, ajudamos a construir pautas de observação dos professores nas práticas em sala, a organizar os registros das observações e, com isso, preparar curtos e potentes encontros reflexivos com pequenos grupos de professores. 

Em geral, o coordenador foca esforços e angústias no planejamento das paradas pedagógicas, e entende que “precisa tirar coelhos da cartola” para preencher estes momentos formativos coletivos. Ao transformar sua própria prática com o acompanhamento das práticas dos professores, as demandas formativas vão surgir naturalmente! Não será preciso inventar conteúdos, mas selecionar as questões percebidas no dia a dia do seu trabalho formativo com a equipe: a partir do que observei e trabalhei com cada professor, qual tema pode interessar a todo o grupo? Qual conteúdo pode ser discutido e, com isso, favorecer trocas?

FORMAÇÃO COM A EQUIPE TEMPO DE CRECHE:
PRESENCIAL E/OU REMOTA

Nas formações presenciais, tornamo-nos “parte” do funcionamento da instituição. Implementamos uma rotina formativa que acontece na sala do coordenador, do diretor, nos corredores, no refeitório, no parque, nos banheiros e na sala de cada professor… acabamos pertencendo ao chão da escola J

Remotamente, preservamos algumas das características da atuação presencial: transformamos o ambiente virtual em encontros formativos coletivos e individuais, trabalhamos sobre conteúdos identificados em nossas avaliações e também sobre as questões propostas pelos coordenadores e professores; utilizamos experiências externas e internas para pensar sobre a prática e estudar a teoria, aproveitamos o WhatsApp e o Zoom para bater-papo, fazer reuniões e trocar arquivos, e, a todo o momento, avaliamos os profissionais atendidos com instrumentos desenvolvidos por nós e também através do olhar auto avaliativo de cada participante.

Para 2021, entendemos que o hibridismo pode potencializar esta metodologia. Ao combinar o virtual com o presencial, podemos atender um número maior de profissionais em diferentes contextos.

Mas é importante deixar claro… como Madalena Freire nos ensina, formação é um uma jornada que demanda dedicação, disciplina, frequência e constância. Um evento pontual pode até provocar e despertar questionamentos, mas a transformação é resultante de um processo continuado de experiências e reflexões.

COMO MADALENA FREIRE NOS ENSINA: FORMAÇÃO DEMANDA CONTINUIDADE

O Blog Tempo de Creche, com mais de 40 mil seguidores e aproximadamente 500 postagens, e os 3 livros publicados são consequência da nossa visão como formadoras. As lives e seminários que inundaram nosso celulares e computadores em 2020 foram uma inovação valiosa e mobilizaram os professores. Mas a construção de conhecimentos sólidos, que têm verdadeiramente o potencial para transformar as práticas pedagógicas, só acontece por meio de ações formativas continuadas, frequentes e constantes, dos encontros coletivos e individuais, do olhar para o grupo e para o indivíduo. Aliás, cabe uma reflexão: será que a importância da singularidade na educação só se aplica às crianças?

Amamos a Educação Infantil e entendemos que ela é o pilar do desenvolvimento humano na sociedade de hoje. Nesse sentido, valorizamos seus profissionais e os consideramos especialistas potencialmente sofisticados da educação básica. É por isso que a criança pequena e a formação docente são a nossa vida!

Temos alguns projetos em andamento, mas ainda podemos incluir novas formações. Entre em contato conosco para mais informações: [email protected] .

DEPOIMENTOS DOS NOSSOS ALUNOS

Acompanhe os depoimentos dos participantes dos projetos de 2020:

[…] tivemos experiências incríveis, algo novo que chegou para mudar nosso conceito de Educação Infantil. Aprendemos que a criança tem voz e precisamos parar para escuta-las. Tivemos contatos com a arte, apreciando e colocando a mão na massa. […] Foram muitas aprendizagens, o que é bem difícil dizer o que me marcou, pois tudo que vimos me marcou e me mudou de alguma forma. Mas posso dizer com toda certeza que o que marcou para todas nós, foi o diferencial de ser uma formação na prática, onde as formadoras estiveram conosco, mostrando que aquele bicho de 7 cabeças que estava na teoria era possível, e o melhor de tudo foi que as crianças aprenderam muito mais e que o nosso papel era de curador, mediador e pesquisador. Agradeço por todo aprendizado e inspiração. (P, coordenadora)

[…] Agora com todo esse ensinamento, quando vamos pensar em uma atividade, observamos, pesquisamos, planejamos como será realizada, separamos os materiais que serão utilizados, organizamos o espaço, pensamos em provocações para que as crianças pesquisem, descubram e explorem. (L., professora)

[…] Passeamos pelo mundo da arte e da criança de um jeito muito delicado e precioso. Sigo aprendendo e, agora, com as ideias organizadas, pois tenho visão do início, do meio e de esperar sempre o inesperado. (F., professora)

[…] No início foram muitos desafios, causando ansiedade e insegurança, principalmente no uso da tecnologia, esse sim foi o mais desafiador. Mas, aos poucos, através dos esclarecimentos das reuniões e da ajuda das colegas tudo foi se encaixando e foi tomando seu rumo. Aprendi que é possível aceitar os desafios pois no final do percurso é válido olhar para trás e dizer : deu certo, porque eu não desisti e não estava sozinha. (M., professora)

Desde o começo dessa Pandemia tivemos que nos reinventar o tempo todo e, com vocês (Joyce e Angela), não foi diferente: afinal, como prestar uma assessoria virtual? É, vocês tiraram de letra! Confesso que algumas tarefas me incomodaram mas, com o tempo fui percebendo que eram provocações para modificar, mudar, mexer, transfazer, transfigurar, metamorfosear e transmudar meus pensamentos para uma prática inovadora […]. (P., coordenadora)

[…] A cada encontro de formação, eu era provocada a repensar a minha prática, erros e acertos, as minhas expectativas como educadora , o que desejo alcançar e realizar […]. (T, professora)

[…] Fomos levadas a parar e olhar os detalhes que muitas vezes passam despercebidos […] (S., professora)

[…] Sou muito grata ao empenho das formadoras, orientando preparando materiais e encontros que promoveram ampliação de olhares baseados no cotidiano das crianças e principalmente mostrando que o planejamento não é rígido e sim reflexivo. (J., professora)

[…] O que mais marcou e mudou em mim? Foi a maneira simples, bem pesquisada, que as informações foram transmitidas. […] em nenhum momento oque nos era apresentado era ruim ou de difícil compreensão, pois nossas formadoras davam aquele toque especial, trazendo o conteúdo mais próximo da nossa realidade. […] Eu mudei completamente e devo isso à formação. O que torna os encontros muito proveitosos e atrativos são as trocas, o direcionamento, a luz no fim do túnel. (A., professora)

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O projeto de formação Afinal o que é Arte na Educação Infantil acontece desde 2017 e é uma iniciativa do programa A Arte e a Creche, apoiado por Carmen Lídia Minidi Pedroso e Mali Pitelli. Participaram das formações os CEIs Aníbal Difrancia, Santa Marina, Vila Anglo, N. Sra. do Rosário, Mundo Feliz e Associação Nossa Turma. 

As formadoras do Tempo de Creche:

JOYCE M. ROSSET é mestra e especialista em Educação. Consultora e formadora de educadores e professores, gestora de projetos sociais. Cocriadora e coautora do Blog Tempo de Creche e autora de livros voltados às práticas na Educação Infantil. Bióloga, mestre em Educação: Formação de Formadores (PUCSP), especialista em Cognição, Sociocultura e Educação em Valores Humanos e em Crianças de zero a três anos: formação de profissionais para as infâncias no Brasil.
Curriculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5279976622342893

ANGELA RIZZI é consultora e formadora de educadores. Coordenadora e avaliadora de projetos nas áreas de educação, saúde, capacitação profissionalizante, alfabetização e educação de adultos. Cocriadora e coautora do Blog Tempo de Creche e autora de livros voltados às práticas na Educação Infantil.. Pedagoga (FEUSP), com especialização em Pedagogia Hospitalar.

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