Alimentação de corpo e alma, um desafio para as creches e famílias – parte 2

Alimentação de corpo e alma, um desafio para as creches e famílias – parte 2

Na segunda parte da postagem sobre o momento da alimentação das crianças pequenas, a educadora, especialista em Educação Lúdica e parceira, Tania Fukelmann Landau, percorre a visão da abordagem Pikler para destacar dicas práticas.

Os estudos, pesquisas e trabalhos da Pediatra húngara Emmi Pikler, realizados nos meados dos anos 50, podem nos ajudar a compreender e agir melhor nesta direção, principalmente quando falamos do desenvolvimento e do processo de alimentação de crianças e bebês em creches e abrigos. Embora ela tenha nascido e vivido em uma realidade tão distante e diferente da nossa, existem referências, princípios e práticas nas quais podemos nos inspirar para aperfeiçoar o atendimento na primeira infância.

bebe-comendo-papinhaEmmi Pikler nos ensina que a hora de comer faz parte da rotina de cuidados, assim como o sono, a troca e o banho. É um momento especial para formação de vínculos e construção da autonomia, requer atenção especial e personalizada.

Antes de adentrar na sistemática do funcionamento destes momentos de refeição, faz-se importante salientar alguns pressupostos das rotinas de cuidados personalizados:

→  Nunca se trata uma criança como objeto, mas sim como alguém que sente, observa e, quando tem oportunidade, pode conhecer e compreender seus anseios e necessidades.

→ Toda atividade de cuidado deve ser exercida com calma e delicadeza nos gestos, respeitando os ritmos de cada criança.

→ A rotina precisa ser estável, os procedimentos mantidos e previsíveis para que as crianças consigam antecipar e participar dos próprios cuidados.

→ O educador se dedica plenamente à criança enquanto está com ela: conversa, troca olhares afetuosos, antecipa seus gestos e explica o que faz. Apresenta-lhe os objetos enquanto os manuseia e também permite o manuseio pelas crianças. Não a distraí para executar o que precisa.

→ A observação é o instrumento para conhecer cada criança e apoiá-la no seu percurso de desenvolvimento e gradativa autonomia.

creche-shangrilaOferecer cuidados personalizados em ambientes coletivos exige estrutura e organização ancoradas no trabalho de equipe. Um trabalho que sustenta suas ações cotidianas tendo a criança como eixo estruturante delas, como protagonistas deste cenário. Envolve todas as pessoas da instituição, como direção, coordenação, pessoas da manutenção e limpeza, cozinheiras, assistentes e professores.

O planejamento da hora das refeições precisa ser acordado e compartilhado com todos. Deve prever ações básicas e seguir algumas orientações razoáveis para cada etapa do desenvolvimento das crianças de zero a três anos. Também precisa ser flexível o suficiente para lidar com o inesperado.

  1. Para cada criança se estabelece uma dieta que muda de acordo com seu desenvolvimento pessoal (quando ingere somente líquidos; em seguida a introdução das papinhas e semissólidos; depois, pedaços ou a comida semelhante à dos adultos)
  2. Define-se o horário da refeição principal e das intermediárias e a sequência na qual as crianças serão atendidas (que sempre será a mesma para que possa ser previsível por elas).
  3. Segue-se um protocolo de alimentação individual que inicia no colo, depois na mesa individual diante do adulto, em seguida na mesa com mais um colega e posteriormente na mesa com mais três companheiros e em grupos um pouco maiores (as companhias são determinadas de acordo com as possibilidades de interações e autonomia das crianças, e elas devem permanecer as mesmas por algum tempo).
  4. Sabe-se diante mão se o prato da criança virá montado, se será servido na hora ou se ela mesma colocará em seu prato as comidas servidas em travessas.
  5. Usará o copo (sempre de vidro transparente para que visualize o seu interior), usará mamadeira ou comerá na tigelinha e no prato). *
  6. Terá uma colher a sua disposição, usará outra colher enquanto o adulto intercala com a sua, comerá sozinho com seus próprios talheres, usará os talheres e a louça tal qual a dos adultos.
  7. Ajudará na distribuição e arrumação da mesa de refeição, recolherá os pratos ao final.
  8. Fará sua higiene pessoal antes e depois de comer com ajuda do adulto, ajuda parcial ou independentemente.

Num mesmo grupo é possível encontrar crianças em fases diferentes, o que determinará isto é a observação que os adultos realizam de suas iniciativas e habilidades. Nenhuma atitude é antecipada ou exigida das crianças antes que ela esteja preparada para ela. Toda mudança é informada e antecipada antes de ser aplicada. Cada criança é chamada pelo nome quando chega sua vez de comer, mesmo que ainda seja bem novinho.

alimentacao-escolarA criança escolhe o que deseja comer dentre as opções oferecidas, come o quanto quer e pode repetir em porções pequenas para se sentir satisfeita. Ninguém insiste ou tenta convencê-la de ingerir mais uma colherada além daquela que necessita. Com estas atitudes a criança passa a reconhecer sua fome e saciedade, ao invés de submeter-se ao critério do outro.

Todos os utensílios ficam próximos, dispostos e acessíveis tanto para o adulto quanto para a criança que já se alimenta com autonomia. Assim evita-se muita espera e agitação durante a refeição. Quem finaliza é colocado no chão ou pode levantar da mesa, descansar, brincar e se mover em liberdade. O espaço para o descanso ou brincadeira fica previamente preparado e com um adulto disponível para observar estas crianças.

*Observação: a mamadeira é usada somente quando a criança não pode ser amamentada. Caso contrário, os líquidos serão oferecidos no copinho em pequenas quantidades, gradativamente, até que complete a medida que necessita. Esta medida é pessoal e não determinada pela prescrição comumente indicada para cada idade pelos médicos e embalagens de leite em pó.

As dicas da abordagem Pikler trazidas pela Tania nesta postagem são importantes e fundamentadas em observações e pesquisas que a pediatra húngara e sua instituição realizam ao longo de décadas. Mas, se pensarmos bem, fica a sensação de que é importante aproximar a hora da alimentação da atmosfera que temos em casa, com liberdade para fazer escolhas, tranquilidade e socialização. Sem prender ninguém à mesa, sem os excessos de uma “mamma” que só se realiza com grandes pratadas esvaziadas e sem a agitação de uma pizzaria aos domingos. Só o coração alegre e a barriga quentinha!

♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦

Mais Informações

Converso Assessoria Pedagógica e Ateliê Arte, Educação e Movimento apresentam a jornada Educação nos três primeiros anos com oportunidades para se debruçar sobre este período, com o olhar fundamentado na abordagem de Emmi Pikler.

O próximo Ciclo será sobre Alimentação e inicia em 15 de setembro. 

Para maiores informações e fazer sua inscrição no Educação nos três primeiros anos  acesse o linkhttp://secretariaconverso.wixsite.com/educacaozeroatres ou pelos telefones: (11) 9 8226.9793 (Suzana) e (11) 9 4440.2272 (Tânia)

Tânia Fukelmann Landau é pedagoga pela PUC-SP e especialista em Educação Lúdica pelo Instituto Superior de Educação Vera Cruz. Fundadora e Diretora da CONVERSO – Assessoria Pedagógica. Membro da diretoria da Casa do Povo (instituição cultural). Colaboradora em projetos e publicação da Fundação ABRINQ, com artigos publicados também no Blog Tempo de Creche.

57 comments

Na unidade CEI Educadores em Foco.
O João gosta de comida com caldinho.
Percebi que no momento de servir fruta o Miguel só de olhar a banana já dá um sorriso. E nesse momento a linguagem corporal é evidente .
No momento a mamadeira após o soninho momento prazeroso. A criança que necessita de atenção ao Se alimenta com auxílio de uma adulto é o Luan sua preferência de alimentação é seca . Mas estimulamos o Luan nas alimentação juntamente com os demais cantando músicas infantis relacionadas com alimentação. Exemplo a sopa do Nenê ( palavra cantada) proporcionar um momento de prazer e alegria.

Na unidade CEI Educadores em Foco. Os bebés e crianças já entende o momento da refeição quando nós organizamos. Para esse momento a Jaqueline já sabe que vamos ao refeitório quando colocamos a toca e as luvas descartáveis.
Ela já abre os braços querendo o colo.
O João gosta de comida com caldinho.
Percebi que no momento de servir fruta o Miguel só de olhar a banana já dá um sorriso. E nesse momento a linguagem corporal é evidente .
No momento a mamadeira após o soninho momento prazeroso. A criança que necessita de atenção ao Se alimenta com auxílio de uma adulto é o Luan sua preferência de alimentação é seca . Mas estimulamos o Luan nas alimentação juntamente com os demais cantando músicas infantis relacionadas com alimentação. Exemplo a sopa do Nenê para proporcionar um momento de prazer e alegria.

A alimentação oportuniza experiências e aprendizagens de prática social, afetividade e interação com as demais crianças.
De fato, é um momento que além de ser saudável deve ser prazeroso, alegre, agradável, comunicativo etc.
A criança precisa sentir a sensação de felicidade em estar ali e saciar não só a fome, mas também o entusiasmo em praticar tal ação.

En todos os momentos a criança aprende, e na alimentação não é diferente. Em determinadas idades elas já demonstram seus gostos e interesses, excelente artigo.

Aqui na escola as crianças exercem essa autonomia desde os mais pequenos até os maiores, na sala onde onde atuo são crianças bem pequenas e ja iniciam essa autonomia pela escolha da cor dos babadores antes das refeições, o lugar onde vão sentar na mesa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.