Acabou a adaptação. O que eu já sei? O que ainda não sei e preciso saber para trabalhar com os meus pequenos? Que tal planejar uma viagem de aprendizagens com as crianças a partir de um roteiro para refletir?
Passada a adaptação, muitas informações puderam ser levantadas pelo professor que:
- acolheu crianças emocionadas e inseguras;
- recebeu, conheceu e se relacionou com as famílias;
- percebeu as primeiras peculiaridades da faixa etária com a qual está trabalhando (se houve mudança!)
- no meio do turbilhão de sentimentos, observou as características mais evidentes das crianças.
Mas agora é hora de colocar o trem nos trilhos e tocar carvão na maria-fumaça! E a viagem com as crianças pode partir da reflexão sobre os primeiros levantamentos:
o que eu ainda não sei e preciso descobrir?
Respostas a perguntas como essa é que podem contribuir com a elaboração de planejamentos que vão “esquentar os motores” do ano letivo. É fato que aquele olhar para as crianças que quase sabe como elas estão pensando ou como vão reagir – guardadas as importantes surpresas! – só será parte do dia a dia do professor mais tarde, passando o meio do ano. Assim, é preciso construir formas de conhecer os pequenos, nos mais diversos aspectos, para poder conduzi-los numa viagem de desenvolvimentos e aprendizagens:
1- O ponto de partida é pensar: qual a história desse pequeno? E ver cada criança como um indivíduo que tem um contexto singular:
- composição da família
- rotinas da casa
- com quem a criança brinca, quais os brinquedos e brincadeiras favoritas
- quais hábitos de higiene já conhece e/ou domina,
- come sozinha ou precisa de ajuda? Tem alimentos que gosta muito ou que não gosta de jeito nenhum?
- qual a origem da família? De onde ela vem? Quais manifestações culturais são celebradas em casa?
- A família tem “talentos”? Alguém toca um instrumento musical? Canta? Sabe uma dança tradicional? Faz artesanato típico? Faz outro tipo de artesanato? Cozinha algo especial? Conta bons “causos”?
Uma boa maneira de facilitar a descoberta dessas informações é fazer um simpático questionário que pode ser mandado para casa ou entregue aos responsáveis na reunião pedagógica.
2- Conhecer as características e capacidades básicas da faixa etária da turma.
Essas informações são muito importantes para que os planejamentos apresentem desafios adequados. Na postagem O que a criança faz a cada etapa do desenvolvimento apresentamos tabelas com um resumo dessas capacidades.
3- Compreender que as crianças diferem em necessidades e respostas. Reconhecer o que há por trás de cada criança:
- interesses (brinquedos, atividades, momentos do dia, colegas)
- desejos
- dificuldades
- necessidades
- habilidades de comunicação
- níveis de maturidade…
4- Observar as crianças a partir do que já vem sendo proposto:
→ ESPAÇOS
As crianças interagiram com a proposta de organização dos ambientes? Os ambientes tem sido aconchegantes, seguros e desafiadores? Os espaços permitem a livre movimentação? São propostas atividades em uma diversidade de ambientes?
→ TEMPOS
- Os tempos planejados são adequados?
- A atenção individual tem acontecido? Esses momentos tem sido organizados na pauta de observação do professor?
- O tempo das brincadeiras tem permitido à criança vivenciar a etapa do primeiro reconhecimento do local e dos materiais, o momento de escolher e mergulhar no desafio e a finalização com organização do espaço? Geralmente, quais crianças se aprofundam e passa mais tempo na pesquisa? Com quê? Em quais situações?
- Quem não dedica tempo às atividades de modo a experimentar pesquisas e descobertas? Quais pistas podemos levantar para realizar novas propostas mais desafiadoras para essas crianças?
→ MATERIAIS
- Quais brinquedos e objetos têm despertado o interesse das crianças? Eles são oferecidos em número suficiente?
- Quais objetos sonoros tem sido experimentados pelas crianças? Elas tem se aprofundado nas pesquisas sonoras?
- Quais materiais plásticos as crianças tem gostado? Quais apresentam dificuldades? Quais podem ser aprofundados?
→ RELAÇÕES
- Como é a convivência no dia a dia com os colegas, professores e profissionais da escola?Em quais situações ocorrem conflitos?
- Quais as causas prováveis e mais frequentes?
- Quais a soluções tentadas?
- O que pode melhorar?
- Algumas crianças estão conseguindo resolver esses conflitos? Como? Elas possuem modelos e repertório de soluções que envolvem o diálogo ao invés de enfrentamentos corporais?
- Já introduziu a construção das regras de grupo: o que pode e o que não pode?DICAS: o que acha de iniciar as propostas formando duplas, trios e pequenos grupos para facilitar o exercício das primeiras relações? Acompanhar os “resultados” desses agrupamentos fornecerá as dicas para formar novas composições.
- Na construção das habilidades de se relacionar é importante observar os agrupamentos com interesse e não se antecipar na resolução dos conflitos, dando espaço para soluções mais autônomas entre as crianças. É o momento de escutá-las, não tomar partido, perceber o que compreendem da situação e dar repertório de soluções.
Com todos esses questionamentos e a identificação de possíveis caminhos, o mais importante é saber que podemos arriscar! Só nesse espírito é que podemos inovar e avançar com o nosso grupo. Para as educadoras Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque o professor deve pensar no planejamento como se estivesse num movimento de descobertas, aberto para um sempre-novo, com olhos atentos à exploração de alguma paisagem que ainda não vimos, não vivemos, não sabemos, como acontece numa viagem.
* Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque Artigo disponível em 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis. Acesso em 28/02/16
♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦
Leia mais sobre esse tema nas postagens:
O que planejar… alguma sugestão?
Dicas para planejar e preparar Cantos de Atividades Diversificadas
Planejamento da Educação Infantil: 10 reflexões para as creches