Esta postagem é um desabafo com nossos colegas profissionais da Educação: estamos sendo invadidos por decoradores, fabricantes de brinquedos, editoras, empresas promotoras de brincadeiras, sites, pais e mães obcecados pelo pedagogismo.
A gota d’água foi conversar com uma amiga decoradora que disse estar trabalhando num projeto de “quarto montessoriano” para a chegada de um bebê!
Já ouvi mães preocupadas em pesquisar sobre “brincadeiras dirigidas” para aproveitar melhor o tempo com seus filhos.
Onde estamos?
O vínculo das famílias com suas crianças não é profissional!
Como a sociedade está pensando o tempo das crianças com as famílias?
Qual o papel da família e da escola ao acompanhar a infância?
Mais importante de tudo… quais os desejos das nossas crianças?
Centenas de sites de mães de todo o mundo, dedicadas e cheias de boas intenções, procuram nutrir outras milhares de famílias com inspirações de propostas de atividades fundamentadas em teorias e metodologias educativas.
Menos!
Crianças querem menos e precisam de menos para elaborar mais!
Elas querem tempos diferentes daqueles que estamos oferecendo.
Querem tempo em casa, com suas famílias para não fazer nada e fazer muito: acompanhar as famílias com o olhar e a escuta atenta, aprender sobre hábitos, costumes, culturas, posturas e valores, buscar brechas nas tarefas diárias para ajudar e inventar a partir daquilo que já está presente.
Lembro-me de quando tinha 5 ou 6 anos, eu adorava carregar alguns brinquedos para brincar em baixo da mesa de jantar. Não queria que ninguém preparasse um cenário especial, provocativo e pedagógico para mim! Eu queria (e podia!) testar os meus limites e experimentar as minhas próprias ideias.
Outro objeto que me instigava e fascinava eram os guarda-chuvas. Na falta das perfeitas casinhas de bonecas anunciadas na TV, eu sorrateiramente pegava um guarda-chuva disponível, abria no terraço e colocava bonecas, paninhos e panelinhas em baixo dele. De vez em quando eu ouvia: menina, fecha esse guarda-chuva! Guarda-chuva aberto dentro de casa dá azar! E eu pensava: o que é azar? Deve ser coisa ruim! Mas como pode ser ruim ter as minhas bonecas quentinhas, tomando chazinho dentro de uma “casinha” tão bacana?
Por isso, colegas profissionais, acalmem as mães desesperadas por instruções, planejamentos e abordagens! Recomendem partilhar as brincadeiras, ouvir os desejos e criar JUNTO!
Espaço pedagógico é na escola. Família é lugar de instinto e paixão!
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PARA SABER MAIS…
Leia mais sobre brincadeiras e brincar nas postagens:
Se é brincadeira, é livre!
Brincadeira livre ou conduzida?
Brincar, uma linguagem que desenvolve
Maravilhoso desabafo! Recentemente terminei meu TCC do curso de Pedagogia no qual falei exatamente sobre isso: essa institucionalização da infância. Como se não bastasse as creches e pré-escolas bombardearem as crianças de conteúdos visando seu “desenvolvimento”, os pais agora também querem viver essa “neura” como se simplesmente deixá-las serem crianças e viverem as infâncias com suas descobertas não fosse suficiente para seu desenvolvimento.
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