Com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) duas palavras têm tirado o sono de coordenadores e professores da Educação Infantil: experiências e campos.
Nesta postagem vamos refletir sobre as EXPERIÊNCIAS como pilares das transformações e aprendizagens das crianças pequenas. Na próxima postagem vamos destrinchar a organização das experiências em diferentes CAMPOS, os campos de experiências e seus objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para explicar como eles podem orientar os planejamentos e as prática dos professores.
Então, o que são as famosas experiências tão presentes na BNCC?
As palavras experiência-experiências aparecem mais de 30 vezes ao longo do texto dedicado à etapa da Educação Infantil. Essa ênfase traduz a crença de que crianças aprendem quando têm experiências. O que isto significa?
Vamos recorrer ao pedagogo espanhol e filósofo da educação, Jorge Larrosa, para dar sentido à concepção de experiência de aprendizagem.
Larrosa afirma que “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”.
Larrosa quis dizer que experiências são aquelas vivências que nos “atravessam” e sensibilizam. Para ele, se informar não é o mesmo que experimentar, porque o que marca o ser humano (e qualquer animal) é aquilo que o toca e o transforma.
Ora, se aprender é o mesmo que viver transformações, então somente as experiências podem nos atravessar, sensibilizar e gerar aprendizagens. Não esqueça que aprender significa mudar algum comportamento ou o jeito de sentir e entender o mundo.
Assim, para Larrosa, é comum perceber que:
“Depois de assistir a uma aula ou a uma conferência, depois de ter lido um livro ou uma informação, (…) podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos, que temos mais informação sobre alguma coisa; mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que nada nos aconteceu, que nada nos tocou (…)”
Para o autor, “pensar não é somente ‘raciocinar’ ou ‘calcular’ ou ‘argumentar’, (…), mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”. Partindo dessa colocação, em quais situações a criança está de fato envolvida e raciocinando? Favorecemos experiências de aprendizagem no dia a dia da escola?
Um trecho do interessante texto da pedagoga Silvana Augusto esclarece o processo de aprendizagem de crianças pequenas a partir de experiências:
“Muitas vezes, a ideia de experiência é confundida com a de vivência, mas, vivenciar não é o mesmo que experienciar. Somos expostos cotidianamente a inúmeras situações, às vezes conhecidas, outras vezes novas. Mas nem todas se constituem em experiência educativa”.
Para que a criança viva de fato uma experiência de aprendizagem é preciso mobilizar sua curiosidade e interesse. É só assim que a vivência será significativa e promoverá marcas e transformações internas que poderão ser relacionadas a outras aprendizagens e utilizadas em outros contextos. Essa é a visão de desenvolvimento infantil preconizada pela Base.
Em situações de brincadeira, a criança provocada e encantada se interessa pela proposta, interage com as pessoas, os objetos e o ambiente. Desse modo, temos que considerar planejamentos que ofereçam aos pequenos oportunidades lúdicas que despertem interesses, brincadeiras, explorações, relações e descobertas. Não é a atividade que deve ser “interessante” por si só! As crianças é que precisam se interessar e mergulhar nelas!
Não é difícil reparar olhinhos brilhando quando vemos um bebê tentando encaixar um objeto no outro; ou um grupo de pequenos ouvindo com atenção a história favorita. Também é notável a entrega das crianças às brincadeiras de faz de conta que arrebatam emoções. Quem não percebe o encanto de algumas crianças quando observam um flor, sentem as texturas das pétalas, testam a sua delicadeza e colhem-na para levar consigo as sensações e o deslumbramento?
Situações opostas também são facilmente observáveis. Momentos em que as oportunidades não efetivam experiências e aprendizagens: atividades pouco interessantes e desafiadoras em que as crianças têm que colorir folhas de papel com desenhos impressos; ouvir comunicados e “discursos” em rodas de conversa que não as envolvem; carimbar as mãozinhas pintadas pela professora para marcar a “lembrancinha” ou o cartaz da famosa “Chegada da Primavera”; e até estar passivelmente presente nas tarefas de higiene, como lavar as mãos e escovar os dentes. Estes são exemplos de atividades que passam pelas crianças sem deixar marcas, sem transforma-las e, especialmente, sem de fato ensina-las…. Nestes casos, estamos desperdiçando o precioso tempo da infância.
Para concluir esta reflexão, é preciso observar a turma em diferentes contextos e propostas para levantar pistas sobre seus interesses e necessidades. Em seguida, elaborar planejamentos que favoreçam experiências que as atravessem e transformem. Depois, retomar esse histórico para aprofundar e ampliar as vivências significativas em diferentes campos… mas isso é assunto para a próxima postagem!
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PARA SABER MAIS…
→ Bibliografia:
Silvana de Oliveira Augusto. A experiência de aprender na Educação Infantil. Novas diretrizes para a Educação Infantil. Salto para o Futuro, Ano XXIII, Boletim 9, p. 19-28, jun. 2013 Disponível em https://cdnbi.tvescola.org.br/resources/ VMSResources/contents/document/publicationsSeries/09183509_NovasDiretrizesEducacaoInfantil.pdf
Jorge Larrosa Bondia. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro , n. 19, p. 20-28, Apr. 2002 . Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003.
Base Nacional Comum Curricular – dezembro 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf
→ Leia mais sobre “experiências” nas postagens:
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