Projetos e sequências didáticas se aplicam aos bebês? Eles compreendem estes processos? Acompanhe o percurso de um trio de professoras de bebês que trabalhou as sensações provocadas por diferentes farinhas e pela areia comestível.
Recentemente surgiu uma questionamento entre as professoras participantes das nossas formações: se os bebês são curiosos e pesquisadores, cabe fazer perguntas e desafiá-los?
Sim! Basta adequar as intervenções:
- Começamos pelos materiais e pela organização de um espaço propositor. É pensar na arrumação de um local que fale por si, que inspire brincadeiras e que favoreça explorações e descobertas. Se consideramos que os bebês possuem diferentes antenas pelas quais conhecem o mundo que os cerca, os espaços e os materiais devem provocar um espectro de variadas sensações.
- Durante o andamento da proposta, permitimos o movimento livre do grupo para conhecer o espaço e os materiais da atividade. Em seguida, encurtamos a distância entre nós e os bebês, sentando junto para convidar e desafiar: viu esse material? Quer brincar? Quer tentar colocar a mão? Vamos descobrir o que isso faz/como é?
- Por fim, observamos e agarramos as oportunidades surgidas nas brincadeiras e nas expressões das crianças: olha o que você descobriu! O que será que aconteceu? Como você fez isso? Mostra para mim? Olha o que eu tenho aqui… (mostrar um objeto, um pote, uma colher, outro riscador, um brinquedo etc.), será que você quer brincar com isso também? A ideia é observar a brincadeira e intervir para que fique mais complexa. Assim, provocamos novos pensamentos com outros materiais e perguntas sutis, damos autonomia para a criança aceitar ou não o desafio, e esperamos o tempo dela pensar, testar e inventar.
Na prática…
As professoras Cida, Adriana e Juciara, do CEI Aníbal Difrancia – SP, percorreram uma trilha de explorações sensoriais com seus bebês. Incansáveis observadoras do grupo e atentas aos interesses dos pequenos, desenvolveram uma sequência didática com diferentes farinhas. Aprofundando e diversificando as experiências, planejaram até uma enlameada atividade com tinta de argila (barbotina1).
As professoras avaliaram o percurso e entenderam que poderiam testar as brincadeiras de moldar feitas com a areia…
Areia para bebês?…. Hummm…..será? É um material perigoso para os pequenos? E se eles comerem? O que fazer?
O trio pesquisou e solucionou a questão, encontrou uma receita de areia comestível.
AREIA COMESTÍVEL
para maiores quantidades, aumentar os ingredientes
respeitando a proporção da receita
- bacia ou recipiente para preparar o material
- 5 xícaras de farinha
- 1 xícara de óleo de cozinha
- 1/2 xícara de achocolatado
- forminhas, colheres, xicrinhas e potinhos
As professoras prepararam o material e organizaram o espaço propositor. Os bebês embarcaram na aventura, adoraram a areia, inventaram brincadeiras e enfrentaram novos desafios. Com isso, ampliaram as experiências sensitivas, motoras e cognitivas.
O que aprendemos?
Quando perseguimos trilhas de aprendizagem com as crianças, saímos da avenida do superficial e transitamos pela estrada do aprofundamento. Com isso, construímos conhecimentos.
As crianças são questionadoras por natureza e quando valorizamos esse modo de ser, favorecemos importantes aprendizagens:
- observação
- escuta
- exploração
- experimentação
- criação e reinvenção
- testagem
- avaliação
- pensamento crítico
- fazer novas perguntas
e muito mais…..
Um trabalho pedagógico como esse só pôde ser realizado a partir das reflexões do dia a dia… sem esquemas prontos e planejamentos engessados. Um percurso construído passo a passo, que foge dos “planejamentos mensais” que impossibilitam prever as respostas das crianças.
PARA SABER MAIS…
1- Barbotina é uma mistura líquida de argila com água, geralmente utilizada para colar partes de argila.
Leia mais sobre materiais sensoriais nas postagens:
Três ideias criativas para trabalhar com bebês
Experiência de leitor: uma aventura com macarrão
Também fiz com a tapioca , vou fazer com bolacha rs
Nady, vale a pena experimentar novos materiais sim, mas pensaria um pouco na questão do açúcar, ainda mais para bebês. As bolachas são muito doces e o que costumamos dar de açucar no dia a dia já está acima do recomendados 😉
Esse achocolatado na receita é realmente necessário? Penso isso, justamente por esse motivo do açúcar…
Silmara, acho que não! Quem sabe você poderia substituir por cacau puro ou farinha de beterraba?
Uma outra ideia é fazer a farinha triturando a bolacha maisena e colocando um pouquinho de óleo de coco. A areia irá ficar também com um cheirinho gostoso e boa de manusear.
Bem proveitoso