Crianças e Arte: aprender a aprender

Crianças e Arte: aprender a aprender

museu SMK DinamarcaVisitamos a National Gallery of Denmark (ou SMK – Museu Nacional de Arte), em Copenhague, capital da Dinamarca, para conhecer uma forma de conectar crianças e Arte.
As linguagens das artes são recursos de expressão e comunicação quase que naturalmente experimentados pelas crianças. Hoje, o mundo persegue caminhos para aprofundar essa conexão nos locais que concentram obras de arte, como museus e centros culturais.

O SMK é um museu grande e tradicional. Um prédio com uma mistura imponente de estilos é a porta de entrada para uma coleção preciosa de arte visual, que abrange desde pinturas e esculturas europeias da idade média, até os mais significativos representantes da arte contemporânea mundial.

Na bilheteria, perguntamos: existe algum departamento direcionado às crianças nesse museu? Sim, respondeu a recepcionista. Temos um departamento, ateliês, salas interativas na exposição permanente e exposições voltadas para as crianças que, hoje, tem uma sendo montada. Prosseguimos perguntando: onde acontece tudo isso? E a resposta foi: espalhado pelas mais de 200 salas do museu!

arte-educadoras Ida e SigneComeçamos por buscar os ateliês para crianças. Ficam na ala nova, num espaço central, acessível e cercado de esculturas e instalações de obras contemporâneas. Numa das salas vimos a mostra da brasileira Laura Lima. Também notamos a sala ao lado dos ateliês sendo trabalhada para receber uma exposição voltada para os pequenos.

Num dos ateliês, encontramos uma equipe de arte-educadoras (monitoras) – Signe e Ida – com quem pudemos conversar.

Como funciona este local?

As crianças tem liberdade ir e vir nesse ateliê. Elas vêm com suas professoras (chamadas de pedagogistas na Dinamarca). As professoras ligam para o museu e reservam um horário para garantir a vaga. As arte-educadoras do museu são artistas e podem orientar os professores. No inicio, as crianças e os pedagogistas vinham para inspirar-se e, hoje, se apropriaram do espaço. Essa forma de trabalho é nova e todos, o staff do museu e as instituições de educação, estão aprendendo a utilizar o recurso. É usado por grupos e instituições de educação, aulas de artes para crianças e jovens e experimentações combinadas com visitas às exposições.

dicaSigne nos contou que, nesse segmento, a programação para crianças acima de 6 anos é de uma hora de vista e uma hora de ateliê. Abaixo desta faixa etária, a programação é reduzida para 30 minutos em cada etapa. Perceberam resultados melhores com esse período de trabalho. É interessante levarmos essa experiência em conta ao programar passeios e visitas aos equipamentos culturais.

atividade no atelie do museu smk

Continuando a conversa sobre o uso dos espaços

Signe destaca que o período da tarde é reservado às famílias que inscrevem suas crianças para aulas de ateliê. “Aí temos diversas idades convivendo”.

Nos finais de semana e feriados as famílias e as crianças também podem frequentar o espaço livremente, explorar seus recursos, materiais e interagir com os artistas do departamento educativo do museu, “mas não é um local de babysittig (para pagear crianças)!” , ressalta Signe. “Funciona a partir de um trabalho compartilhado entre as crianças e seus responsáveis. Essa frequência faz do local um ambiente interessante onde todos interagem em torno das experiências artísticas.

atelie do museu smk

Perguntamos então sobre o trabalho desenvolvido com crianças muito pequenas e Signe conta que há 70 anos o foco dos diretores do museu é ter artistas interagindo com o dicapúblico, muito mais no sentido de experimentação do que de História da Arte. “Porque artistas no museu pensam e agem diferentemente. Temos interesses diferentes e, no lugar de dizermos: olhe, essa pintura é de 1835, perguntamos, o que vocês acham dessas cores? Essa é uma abordagem que temos pesquisado e experimentado. O trabalho com os pequenos é parte dessa pesquisa: o que podemos dizer para eles?”.

Signe nos mostra então uma série de materiais impressos com roteiros sugeridos pelo museu, destinados a orientar os pais, professores e crianças, baseados em percursos temáticos: Arte e Fantasia, Arte e Identidade, Arte e Política, Arte e Sonho, Arte e Realidade, Arte e o Amor.

A visão do diretor do Departamento Educativo

O diretor e arte-educador Michael Hansen vem desenvolvendo com sua equipe estudos e dicaformações sobre o trabalho com crianças muito pequenas. Hoje a equipe leva os grupos para visitar partes das exibições – o que acham que acontece aqui? É uma das perguntas que fazem para as crianças. Conciliam as visitas com experimentações ágeis nos ateliês: “tudo muito colorido e dinâmico porque essas crianças [pequenas] viajam. Mas essa é a nossa grande questão”. Um vez trabalhamos a água. Vimos pinturas com essa temática e depois viemos para o ateliê e brincamos com peixes e pescarias, entre sonecas e outras brincadeiras! Mas crianças pequenas são mais tímidas e somos estranhos para elas. Uma vez mostrei uma grande pintura para uma pequena de 18 meses e ela começou a chorar! Tudo está nos detalhes! Eles são indivíduos muito novos e tudo é novo para eles também.

dicaOutro fator importante é que não podem mexer nas obras, então isso é uma situação para pensarmos. Percebemos que em pequenos grupos, com faixas etárias mistas, os pequenos aprendem melhor como percorrer uma exposição.

Conhecer os espaços

Depois da conversa com as arte-educadoras fomos percorrer o museu, acompanhar a visita de alguns grupos de crianças e conhecer as salas interativas ao longo do acervo permanente.

obra de Laura Lima museu SMK

Após visitar a instalação O Mágico Nu, da mineira Laura Lima, com ambientes repletos de objetos desorganizados e, ao mesmo tempo, organizados, compondo uma moradia/ateliê de alguém inventivo e colecionador, um grupo de crianças de aproximadamente 10 anos, trabalhou num dos ateliês do museu para fazer, dentro de caixas de papelão, sua própria instalação inspirada na obra.

Reunidos no hall da ala nova do museu, conversaram com a monitora e a professora, expuseram seus trabalhos e expressaram suas experiências.

atividade do grupo de crianças do museu smk

Dentre as centenas de salas do acervo, duas delas surpreenderam.
Numa encontramos enormes pinturas europeias dos anos 1700/1800, com mesas, bancos, jogos, livros e desafios em torno dos temas das pinturas. Um local para famílias e grupos de crianças pesquisarem, brincarem, discutirem e refletirem sobre Arte.

sala interativa do acervo do museu SMK

Em outro extremo do museu descobrimos uma sala com esculturas em bronze, mesas, cadeiras, apoiadores, papeis e muitos lápis. Era a sala de desenho… para desenhar mesmo! No meio da visita, um convite para passear os olhos em esculturas cuidadosamente selecionadas para inspirar o ato de desenhar!

sala de desenho do museu SMKfolheto do guia do museu smkConhecer esse museu ampliou nossa forma de conectar Arte e crianças porque nos mostrou que pesquisar modos é um caminho a seguir. E todos podemos fazer isso! Mas é preciso experimentar. O SMK, assim como outros museus no mundo e no Brasil, inova porque se abre para construir essa relação. E evidencia esse processo na capa de seu folheto guia, que exibe a foto de uma criança muito pequena, abraçada a um adulto, mergulhada na observação de uma enorme pintura.

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Balão-Para-Saber-Mais⇒A National Gallery of Denmark (ou SMK – Museu Nacional de Arte) foi construída em 1896 e sua extensão moderna em 1998. A visitação do seu acervo permanente é gratuita e o museu só cobra entradas para as exposições especiais.

⇒Laura Lima nasceu em 1971 em Governador Valadares, MG. A artista é formada em Filosofia e foi frequentadora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Há 20 anos realiza exposições no Brasil e no exterior.
A obra O Mágico Nu foi exibida em 2010 no Rio de Janeiro e depois viajou para a Suíça, Suécia e, agora, está em Copenhague. Segundo Laura, o mágico de sua obra “possui as mangas curtas, seus segredos estão expostos, sua oficina-ateliê tem prateleiras ortogonais e caóticas. O mágico faz esculturas incessantemente, organiza e desorganiza a estante constantemente. O narrador dessa história é o deslocamento do espectador no espaço. O espectador monta seu próprio arsenal poético.”

⇒ Leia mais sobre museus e crianças nas postagens:

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