Cultura é parte dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da educação infantil (BNCC). Aliás, cultura é território, é fundamento, é chão do desenvolvimento humano. Somos o resultado de um caldo cultural cozido ao longo da vida: juntam-se as sementes da família, os temperos da comunidade e os costumes escolhidos.
Fala-se muito em “cultura para crianças”… Será que ela é composta pelos mesmos ingredientes da cultura do adulto?
Pense um pouco antes de responder!
Acreditamos que a cultura da criança está apoiada sobre os mesmos pilares da cultura do adulto: família + comunidade + escolhas. O único diferencial é que a brincadeira é mais explícita e valorizada. Com isso, temos uma criança que carrega hábitos, gostos e tradições da família e da comunidade, e, ao chegar à escola, agrega outro tanto de cultura desse contexto. Então, olha que bacana: vivemos num universo potencialmente rico em costumes, crenças, arte e conhecimentos.
E o que acontece em algumas escolas?
Transformam a cultura em vídeos e músicas da Galinha, do Palhacinho e de mais “inhos” encontrados com facilidade no YouTube! Constrói-se, então, uma culturINHA limitada, rasa e pouco significativa.
Por quê????
Porque talvez tenhamos uma noção infundada sobre cultura para crianças… e até mesmo da cultura em geral.
Nesta postagem convidamos o leitor a pensar sobre a questão cultural na escola a partir do repertório oferecido para as crianças.
Propomos um desafio!
No quadro abaixo selecionamos recortes de diferentes animações encontradas no Youtube. Evitamos apresentar os personagens principais das histórias para buscar imparcialidade no julgamento. Observe e responda: quais das imagens abaixo são mais interessantes, desafiam o olhar e provocam a imaginação?
Três imagens pertencem a filmes infantis de animação consagrados pela crítica. As outras duas pertencem a animações consagradas pelos milhões de acessos no YouTube. Qual tipo de “consagração” apresentamos para as crianças no dia a dia? E mais… o quanto nos preocupamos com a qualidade da imagem, do enredo, da música e da dança que levamos para a escola?
Escola é lugar de desafio, de se aproximar do interessante e do desconhecido para conhecer, compreender e decidir se gosta ou não gosta, se concorda ou discorda, se carrega para a vida ou deixa de lado.
Ao bombardear as crianças com a mesmice e um repertório de qualidade ruim – “só porque elas gostam!” – é possível que estejamos perseguindo outros objetivos… acalmar, hipnotizar, entreter, mas nunca provocar, instigar, desafiar e EDUCAR.
Vivemos na era do acesso a quase todo o tipo de registro das produções da humanidade. Somo bombardeados diariamente por milhares de fotos, ilustrações, vídeos e músicas, e certamente este universo deve adentrar a escola. Mas é preciso refletir sobre os usos e as características destes materiais.
VIDEOS
O vídeo é um recurso incrível. Ao selecionar filmes e desenhos animados com bom enredo, imagem e trilha sonora, levamos para as crianças a boa cultura do cinema.
Já os documentários em vídeo enriquecem a possibilidade de pesquisa e funcionam como fontes de informações em projetos, por exemplo. Mas nada de “infantilizar” o repertório! O propósito é utilizar o recurso para investigação. Quando interessadas no assunto, as crianças acompanham e aproveitam esse recurso.
IMAGENS EM GERAL
As impressoras ampliaram as possibilidades de enriquecer as paredes da escola com ótimas imagens. O mundo pode chegar à escola! Imagens de obras de arte, lugares, animais, plantas, celebrações, construções … o céu é o limite para o que se pode levar para as crianças. Fica fácil comparar o poder de provocação de uma boa imagem e da “decoração EVA” discutida pela educadora Lucila Almeida em outra postagem .
MÚSICA E DANÇA
A música e a dança estão a um clique da sala de aula e de enriquecer o universo cultural dos pequenos. Contudo, é a qualidade do repertório que distingue música e dança com padrões repetitivos e empobrecidos, de obras artísticas poéticas e inspiradoras. O produtor e jornalista Luciano Holanda Junior, de Campina Grande PA, divide a música em três categorias: construtiva ou útil; café-com-leite ou de entretenimento; e degradante, músicas que, “como próprio nome indica, prestam um (des)serviço avesso ao da educação”. […] Elas dão “a falsa impressão de que a música popular brasileira, que é uma das mais ricas do mundo, se resuma a isso: produtos descartáveis e de facílima assimilação pelo grande público, o que é lamentável. Não custa lembrar que a boa música não depende de modismos e nem perde a validade com o passar das décadas. E pesquisar é fundamental para quem não se conforma com a programação veiculada nas mídias de massa. […] Existem culturas e culturas.
Com isso, cabe refletir: que músicas devemos apresentar para as crianças? Quais ritmos podem desafiar o corpo a se mexer? Quais temperos a dança e a música podem agregar às experiências infantis?
Um trabalho pedagógico que contemple a cultura passa necessariamente pela escolha do repertório e pela contextualização. Assim como a natureza, o território cultural merece ser conhecido e pesquisado pela equipe pedagógica, para estar presente nas atividades cotidianas e nos festejos promovidos pela escola. Isso é contemplar um currículo que pensa as competências para o século XXI e isso é construir uma cultura de valorizar cultura.
Você desenvolveu isso muito bem. Da muito orgulhoso.
Excelente
Texto excelente!
Ótimo texto!