Pauta do Olhar: o que o professor precisa olhar para registrar?

Pauta do Olhar: o que o professor precisa olhar para registrar?

É possível olhar e registrar tudo o que acontece durante uma proposta? O que o professor precisa observar durante uma atividade? Revisamos e reeditamos esta que é uma das postagens mais acessadas desde 2016. Aproveite para rever e rePENSAR a pauta do olhar que orienta a observação e o registro!

A observação da cena pedagógica é o ponto de partida para o registro, a reflexão e o replanejamento da prática. É a fonte de informação do professor imprescindível para que ele pense sobre os percursos de aprendizagem das crianças. O professor precisa exercitar um olhar observador da cena pedagógica com foco nas crianças, no grupo e nas interações.
Por quê?
A observação é uma ferramenta necessária para quem trabalha com educação. Por meio da observação o professor direciona seu olhar para buscar ver o que ainda é desconhecido. Por ser um olhar intencional, pensa e questiona a respeito do que vê e quer entender o que está acontecendo. Não é um olhar vago à espera de que as informações caiam do céu, é olhar cuidadoso, investigador, um olhar reflexivo.

Como olhar e descobrir?

Aprendendo a ver.
O professor precisa se instrumentalizar para observar. Seu olhar deve ser capaz de detectar o que o grupo e cada criança faz, sabe, descobre, conquista e prever até onde pode chegar.  Isto é perceber as potencialidades e as fragilidades para identificar os próximos desafios.

Para ser eficiente, o olhar é focalizado e segue um roteiro, uma pauta.
Assim, a aprendizagem do professor começa com a construção de uma “pauta do olhar”:

O que é? Como “funciona” uma pauta para o olhar?

É organização do foco do olhar que parte da escolha daquilo que se quer ver. Como uma seleção antecipada dos pontos chaves nos quais se quer “prestar” atenção. Imagine você numa loja repleta de objetos interessantes. Tem como ser objetivo nas compras se não tiver claro o que precisa realmente comprar? Como mencionamos, observar não é olhar à toa, mas ao fazê-lo, perceber, notar, ver, constatar, verificar, reparar atentamente e descobrir, sempre com intenção. Por isso é preciso se preparar para não cair na tentação de só ver o que é conhecido e o que causa surpresa.

Para preparar a pauta do olhar:
É no planejamento que o professor pensa na ação pedagógica. Ele sonha uma situação e antecipa algumas hipóteses sobre o que pode acontecer. A partir desse “sonho” o professor  elabora um roteiro para observar aquilo que acredita ser mais relevante para construir a pauta do olhar.

O que registrar durante a ação pedagógica? Dica de aspectos importantes para construir a pauta do olhar:

  • AÇÕES DAS CRIANÇAS X OBJETIVOS DA PROPOSTA – em relação ao conteúdo que está sendo trabalhado – quais ações das crianças indicam a vivência das experiências previstas? Partindo dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento esperados no planejamento, o que as crianças já conseguem fazer?  Quais as dificuldades observadas?
  • OBSERVAÇÕES DA SINGULARIDADE – Em relação às interações individuais:  como estão se relacionando uns com os outros e como estão interagindo com os materiais e o espaço? O que as crianças falam/expressam que pode ajudar o professor a pensar sobre a proposta/aprendizagens/dificuldades?
  • OBSERVAÇÕES DO COLETIVO – Quanto à dinâmica do grupo: como estão se organizando em torno da proposta e como resolvem problemas e conflitos?
  • OBSERVAÇÕES SOBRE A PRÓPRIA PRÁTICA PEDAGÓGICA – quais intervenções, estratégias, falas, atitudes do professor foram ideias certeiras para desafiar, ensinar, resolver problemas? Quais ações precisam ser revistas?
  • ESPAÇO, TEMPO E MATERIAIS – como a organização da proposta atendeu às expectativas? Foi facilitadora? Desafiou? Os materiais foram adequados e em quantidade suficiente? Quais valem repetições? O tempo foi adequado?
  • DESDOBRAMENTOS – Quais ideias de desdobramentos surgem durante o desenvolvimento da proposta? (aquelas ideias ótimas que vêm à mente e a gente precisa anotar para não esquecer). É possível ver um caminho de aprendizagens a ser explorado a partir desta experiência?

Tempo de Creche elaborou uma sugestão para orientar a construção de uma pauta de olhar personalizada. Você pode adequa-la ao seu contexto.

Para não “acabar em pizza”

Já viu um livro de atas de uma reunião? Aquelas anotações infinitas que um relator faz para registrar tudo o que foi dito no encontro. Então… a não ser que haja um problema a ser comprovado, NINGUÉM RETOMA ESTE MATERIAL! Aí eu pergunto: ele serve para quê?

Um registro pedagógico que acaba em pizza é igual às atas de reunião que não servem para nada ou somente para comprovar a história: a ocorrência do evento, quem participou dele e o que foi dito. Será que cabe ao professor produzir este tipo de documento de sua prática?

Para que o registro não seja uma formalidade comprobatória, ele deve ser útil para o pensamento reflexivo do professor. Nesse sentido, compartilhamos a visão do filósofo Donald Schön. Para ele, o que separa um profissional talentoso de um profissional “comum”, não é magia ou providência divida, é a reflexão! Segundo o filósofo, atuação profissional talentosa é consequência de três eixos:

1- CONHECER-NA-AÇÃO – é o conhecimento que aparece espontaneamente durante a ação. Ele é tão sedimentado que nem sabemos descrever.

2- REFLEXÃO-NA-AÇÃO – é o conhecimento que aflora durante a prática pedagógica quando nos deparamos com problemas-supresa e o conhecimento automático (conhecer-na-ação) não é suficiente para solucionar. Nestas situações fazemos rápidas reflexões ao mesmo tempo em que agimos. (As reflexões na ação correspondem às situações descritas no item “OBSERVAÇÕES SOBRE A PRÓPRIA PRÁTICA PEDAGÓGICA” sugeridas acima, nas dicas da Pauta do Olhar).

3- REFLEXÃO SOBRE A REFLEXÃO-NA-AÇÃO – para isso é preciso fazer do registro pedagógico um eixo da atuação docente. É usar a pauta do olhar, a observação e o registro como  bases para pensar nas próximas atividades e tornar mais profundas e complexas as aprendizagens das crianças.

Mas cabe aqui também esclarecer que fazer uma pauta de olhar para orientar a observação e o registro são processos complexos que são aprendidos SÓ QUANDO NOS PROPOMOS A FAZER! É só fazendo a pauta, registrando e depois pensando sobre o que registramos, que podemos ir acertando e tornando as anotações e fotografias mais adequadas. Tem muito professor que nos pede explicações e dicas sobre registro e documentação pedagógica. A nossa pergunta é: o que você faz com os registros? Você retomas as suas anotações e fotografias para pensar na próxima atividade? Sente falta quando não consegue fazer um registro que alimente sua reflexão? Se o professor faz o registro e depois só usa as fotos para fazer um cartaz ou o PowerPoint do final do ano, não tem dica ou explicação que dê conta!

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PARA SABER MAIS…

Donald Schön é um filósofo americanos que pensa sobre a eficiência e a aprendizagem profissional. Usamos seu livro Educando o profissional reflexivo (2000, Editora Artmed) nesta postagem.

Para saber mais veja as postagens:
Planejamento, Registro e Reflexão organizados em duas práticas tabelas!
Fotografia: instrumento precioso da Educação
Registro fotográfico: muito mais do que documentar!
Registrar… não tão fácil, mas poderoso!

11 comments

A escolha da forma de registro também é muito importante e deve respeitar os ritmos e possibilidades das crianças.

Este ano,iniciamos na Prefeitura de Campos do Jordão,a fazer a pauta de observação,no seu campos são denotados a proposta,o aluno a ser observado,a observaçao do grupo,as práticas e as pistas,acho muito importante,pois quando precisamos é lá que vamos…..Adorei as dicas….

Observar. Uma palavra muito interessante. Sempre quando falamos em observar e registrar sempre notamos que há um impacto. principalmente quando temos que utilizar esse registro para desenvolver um trabalho pedagógico com responsabilidade e descobrir as potencialidades dos nossos alunos. Mas é sempre vinda cada dica que recebemos para melhorara nosso trabalho na docência. E essas dicas de “Pauta” são maravilhosas.

Muito boa essa reflexão! Me pergunto…por que OLHAR para o outro e para si, ainda é tão difícil?

É verdade, Lúcia. Acho que precisamos assumir dois comportamentos para observar (o outro e nós mesmos):
1- foco, porque não é possível observar tudo com qualidade.
2- coração aberto, porque precisamos nos abrir para deixar entrar o imprevisível.
Ótimo comentário, obrigada

Ainda penso que o imprevisível é o problema. Temos tanto medo de não controlar tudo, de não ter respostas imediatas para todas as situações, que limitamos experiências riquíssimas, quando não as desconsideramos por completo. Uma pena!! Grata pela resposta.

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