Ciclo da Curiosidade e da Aprendizagem… na prática!

Ciclo da Curiosidade e da Aprendizagem… na prática!

Nas postagens Curiosidade e pedagogia da investigação: caminhos para 2017 e Curiosidade: o combustível da aprendizagem, falamos sobre a importância da curiosidade como estado provocador para aprendizagens. Quando ficamos curiosos a respeito de algo buscamos acalmar o desejo de saber sobre alguma coisa que não sabemos, mas que nos interessa. Essa inquietação é uma potente força disparadora para a formulação de hipóteses, a pesquisa, a relação com o outro e com os fatos, a elaboração da comunicação e da linguagem.

Muitos processos complexos estão envolvidos e o resultado é a construção de aprendizagens, novas conexões, conhecimentos, a facilitação para buscar as curiosidades da vida e embarcar em novas pesquisas.

É um ciclo que não para nunca e que, a cada volta, desenha caminhos cada vez mais claros.

Nós (e as crianças!) aprendemos com o processo de investigar o que desperta nossa curiosidade, nosso interesse e, consequentemente, o que é significativo para nós.

Eu quero voar! Diz um menino numa turma de pré-escola.
Quem sabe voar? Pergunta a professora.
Eu! Responde o menino com uma capa de papel amarrada no pescoço.
E quem mais? João e eu queremos saber quem sabe voar!, diz a professora, organizando o pensamento e convocando outras crianças a participarem.
A borboleta!, reponde o pequeno com a capa.
O avião!, responde uma menina.
O passarinho!, responde outro menino.
Como será que eles voam?, intervém a professora.
Com o cérebro acessando os arquivos, as crianças respondem: com a asa!, correndo!, pulando de cima, ó!– um pequeno sube no banco e pula.

brincadeira de voar
A professora continua com provocações: mas assim a gente consegue voar como passarinho, lá no céu?” Com cara de “pensamento” o grupo responde: não!, e a professora emenda: então como é?

avião de papelA partir desse ponto, a professora propõe “e se fizermos isso?”; “e se observarmos aquilo?”… folhas que caem das árvores, aviões de papel, cata-ventos, barangandão, moscas…, infinitas possibilidades para observar, experimentar e descobrir em conjunto!

folha voando

Em 2013, uma história semelhante a essa aconteceu numa pré-escola da Suécia e produziu um projeto de pesquisa que envolveu as crianças e a comunidade por dois anos!

santosdumontIsso pode não ser novidade. Mas lá pelos anos de 1880, provavelmente um menino se fez essa mesma pergunta. Foi a partir da curiosidade insaciável que, em 1901, ele acabou inventando o primeiro balão dirigível e, em 1906, o avião.

Santos-Dumont_flying_the_14_bis

Crianças e cientistas são movidos pelo mesma vontade de descobrir e se mobilizam nesse intuito. No caso das crianças, o combustível que alimenta o interesse em pesquisar é o valor que os adultos atribuem às suas perguntas e a forma como encaminham as experiências de exploração.

A centralidade da educação está nas crianças, mas o professor é o adulto capacitado para:

  • perceber os caminhos mais interessantes e férteis;
  • provocar com perguntas abertas e instigantes;
  • pesquisar possibilidades para manter as crianças curiosas, interessadas, e aprendizes dos processos construídos em conjunto.

No final dessa jornada, as conquistas serão profundas e muito além do conteúdo pesquisado. Para ilustrar esses ganhos, reunimos informações de diversas fontes e construímos o Ciclo da Curiosidade e da Aprendizagem:

Curiosidade dispara a exploração e a pesquisa.
Pesquisas levam às descobertas que, por sua vez, trazem sensação de prazer.
O prazer faz a criança praticar mais e aprofundar. A prática leva ao domínio (do saber ou da ação).
O domínio leva a novas habilidades que geram a confiança de que a criança é capaz de aprender. Com isso, melhora-se a autoestima que traz segurança.
Segura de que pode explorar, descobrir e dominar, a criança valoriza seu próprio espírito curioso, faz novos questionamentos e pesquisas. Não para nunca! Talvez quando inventar um novo tipo de avião ou pintar uma nova Monalisa!

Ciclo da Curiosidade e da Aprendizagem

Diversos centros de pesquisa em Educação por todo o mundo revelaram o valor dessa abordagem. Agora é uma questão de apurar o olhar e mergulhar nas possibilidades identificadas a partir das centenas de perguntas que as crianças fazem diariamente. Também é preciso se preparar e pesquisar com e sem eles. Nós, adultos, precisamos recuperar o espírito curioso perdido na forma como fomos educados, em que as perguntas só tinham valor se tivesse relação com as propostas programadas pelo professor. Com o tempo fomos desaprendendo a questionar e buscar as respostas para saciar interesses. Ainda está em tempo de reaprender… que tal resgatar essa habilidade encaminhando a curiosidade das crianças?

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Balão-Para-Saber-MaisLeia mais sobre Curiosidade e Aprendizagem nas postagens:
Curiosidade e pedagogia da investigação: caminhos para 2017
Curiosidade: o combustível da aprendizagem

Liselott Mariett Olsson
– Taking Children’s Questions Seriously: the need for creative thought. Global Studies of Childhood, Volume 3, Number 3. 2013
– Movement and Experimentation in Young Children’s Learning: Deleuze and Guattari in early childhood education. Routledge, 2009

Hillevi Lenz Tagushi
– Going Beyond the Theory/Practice Divide in Early Childhood Education: introducing an intra-active pedagogy. Routledge, 2010

Dr. Bruce D. Perry
– Curiosity: The Fuel of Development. Scholastic – Early Childhood Today. 2001
www.teacher.scholastic.com

3 comments

Bom dia!
Só quero agradecer as matérias que vocês compartilham conosco.
Todas contribuem com a minha prática e me abrem novos horizontes para que eu possa desenvolver com meus alunos. Minha mente fica borbulhando de ideias, fico pensando o que posso adaptar para nossa realidade.
Um 2017 de grandes realizações e vitórias.
Paz!
Muito obrigada!!

Temos um Caminho bastante árduo, só permitimos que essa curiosidade tome conta quando o educador também é curioso e está atento ao que está acontecendo com os pequenos. Conheço muitas unidades que os adultos ocupam o tempo em conversas entre os adultos, perdendo uma grande oportunidade de interação com as crianças, e até mesmo de observar, mediar e estimular essas curiosidades.

Obrigada pelo retorno, Raul. É o que acreditamos: como diz Thiago de Mello, “Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar”. E assim vamos caminhando! Abraço.

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