Todos falam sobre isso!
Mas como é isso na prática? Existe consenso? Afinal, o que fazemos com todo esse material?
Na descrição de uma atividade prática formativa, realizada pela equipe do Blog na creche da Associação Nossa Turma, levantamos elementos para acender essa discussão e colocar mais lenha na fogueira!
Para começar a conversa, podemos pensar na referência da metodologia de Reggio Emilia. Nas escolas italianas de Reggio, os registros fotográficos, em vídeo, escritos na forma de relatos, as transcrições dos comentários das crianças e, quando existem, as produções delas, compõem a documentação pedagógica. Mas todos esses recursos partem da observação das crianças como forma de levantar e conhecer suas capacidades, as relações, os modos de agir, como elas pensam quando trabalham em grupo e individualmente e as particularidades que emergem de cada uma.
Isso tudo sem padronizar! Ainda na visão de Malaguzzi (idealizador da metodologia) cada professor vê diferentemente porque vê com a sua cabeça e o seu coração. Cada um de nós traz sua história, suas experiências, religião e a sociedade em que nascemos e vivemos. Cada um de nós enxerga com uma cultura própria e, portanto, observa aquilo que quer e deseja ver. Por isso, o pedagogo italiano recomenda que esse processo seja realizado por duas pessoas.
É perfeitamente legítimo. Mas é prático na nossa realidade? Pode ser! Se não a todo o tempo, podemos organizar para que o processo de registro ocorra com mais de um educador em certos momentos. Combinar com a coordenadora, a auxiliar ou professora volante para que observe e faça seus próprios registros, traz riqueza e amplia o olhar quando compartilharmos os dados e refletirmos.
Outra dica de Malaguzzi é levantar com as próprias crianças suas memórias e interpretações do que foi trabalhado e registrar essas informações. Desse modo, o olhar do professor também se multiplica e se amplia com outras visões.
Segundo Malaguzzi, o professor que sabe como observar, documentar e interpretar os processos, se conscientiza de seus potenciais como aprendiz, aprendendo a ensinar.
Na etapa prática de formação realizada na creche da Nossa Turma, a equipe do Blog entra em sala e desenvolve, junto com as educadoras e as crianças, algumas propostas. Com a turma de 3 a 4 anos propusemos fazer um Barangandão Arco Iris.
Trouxemos as tiras de quatro cores de papel crepom já cortadas, porém não desenroladas. Cortamos as folhas de jornal e o barbante nas medidas adequadas.
Separamos as tiras em potes por cor e entramos em sala.
Começamos a proposta despertando as crianças para a atividade. Fizemos uma roda, cantamos e pegando o gancho de uma criança que falou do céu e do tempo, exploramos o tema do voo. Perguntamos quem passeia pelo céu (responderam avião e passarinho), como a gente pode fazer esse passeio (fizeram gestos de bater asas) e brincamos um pouco realizando gestos e movimentos pela sala.
Introduzimos o material apresentando os rolinhos de papel crepom. Uma cor de cada vez, valorizando o desenrolar cuidadoso das tiras e as possibilidades que surgiam quando eram movimentadas. Foi muito energético perceber a circulação dos pequenos e a intensidade da pesquisa de uma cor de cada vez. Na distribuição da quarta e última cor, as crianças descobriram que a tira podia ser amarrada no corpo e esvoaçar acompanhando os movimentos. Amarramos a fita nas cabeças (como ninjas, segundo um pequeno!), tampando os olhos, em volta do pescoço como uma gravata (“olha como eu tô bonito!”) e nos rabos de cavalo das meninas, alongando os cabelos.
Ficaram mais de uma hora na exploração dos movimentos com as tiras. Foi uma atividade completa! Não tínhamos mais tempo e nem um porque para avançar para a produção do Barangandão. Fazer o brinquedo e explorá-lo podia ficar para outro dia.
Para acabar a brincadeira suavemente, convocamos a turma para recolher as tiras e guardá-las por cor nos potes. Para acalmar a interrupção desse brincar interessantíssimo, entregamos um rolinho de fita para colocarem nas mochilas e levarem para casa. Finalizando em grande estilo, fizemos uma chuva do papel picado que sobrou da atividade.
Mas o que sobra de concreto dessa proposta? Onde está a produção da turma? O que poderíamos “pendurar” na parede ou colocar na pasta de produções para os pais?
Respondemos: o processo, as pesquisas e as descobertas!
Como??? Por meio de toda a documentação pedagógica possível:
- Fotos
- Vídeos
- Transcrição dos comentários e interpretações das crianças
- Relatos do(s) educador(s)
- Os materiais trabalhados e a descrição do planejamento
É isso que deve ficar exposto para as crianças acessarem suas memórias e para compartilhar com os pais a riqueza das potencialidades de seus filhos, verdadeiros exploradores do mundo!
Tempo de Creche também publicou sobre este tema: Por quê fazer registro? Um roteiro para começar registro e planejamento: 1 e parte 2; Registro e Documentação Pedagógica: da dor de cabeça ao papo cabeça; Planejamento Registro e reflexão organizados em duas práticas tabelas; Registro fotográfico: muito mais que documentar;

Este livro foi selecionado para o Programa Nacional do Livro Didático – Obras Complementares PNLD 2010.
Muito bom o.conteúdo
Obrigada, Valquiria! 😉
Material excelente, belissima reflexão