Natureza não é tema de projeto! É um conteúdo pedagógico tão fundamental ao desenvolvimento das crianças quanto o desenho, a leitura e outros. Natureza: sol, ar puro, plantas e animais… Este contato é importante para a formação dos pequenos tanto do ponto de vista biológico-físico como para a saúde mental.
(…) não temos a pretensão de fixar prematuramente as formas de uma vida escolar em que a grande lei pedagógica é o dinamismo. (Celéstine Freinet)
Os ambientes naturais, cada vez mais escassos, são os responsáveis pela nossa existência. As crianças precisam se desenvolver neles para compreenderem que não é possível viver com qualidade na sua falta ou degradação. Já pensou a Terra, daqui a alguns anos, com jovens que continuam a depredar e acreditar que podem sobreviver sem a Natureza? Contudo, a sobrevivência do planeta é só um lado dessa questão. A abordagem das Escolas da Floresta, estudada desde a década de 1950, já comprovou que o contato com os ambientes naturais promove desenvolvimento integral de qualidade nas crianças (leia mais sobre essa abordagem na postagem Escola da Floresta: crianças, Natureza e aprendizagem). Atividades como fazer vasinhos de feijões, trazer um tatu-bola para a sala, ou pintar folhas, não substituem o contato mais íntimo e legítimo com a Natureza. Seria o mesmo que conhecê-la por meio de fotografias! Sentir de perto a grandeza e as formas das árvores e outras plantas, perceber a conexão entre solo, fauna, flora e clima, cheirar os diversos cheiros, sentir as texturas, perceber as transformações e se colocar por inteiro nesse universo são experiências insubstituíveis.
Isso é entusiasmante! Coordenadores e professores poderiam incluir atividades diárias nos ambientes externos com plantas, terra, animais e ar livre… se eles existirem na creche ou próximos à ela! É fato que os governos municipais e federal não exigem espaços com área verde ou o acesso a parques e matas próximas para a instalação de unidades de Educação Infantil. Porém, existe indicação e até mesmo cobrança sobre essa questão nos atuais instrumentos de avaliação das creches. Então… como conciliar a incoerência? Muitas instituições não possuem áreas de natureza porque não tem nem espaço para brincar ao ar livre. Mas algumas creches e escolas tem áreas externas que são totalmente cimentadas ou com grama sintética!!! Quais vivências os pequenos terão experimentando somente esse piso artificial com seus pezinhos? Suas vidas se resumirão a sentir o plástico e os materiais sintéticos?
Propomos aqui uma reflexão: Que tal destinar parte dessas áreas a pequenos canteiros com terra de verdade, algumas plantas e uma pequena árvore frutífera? Que tal agregar alguns vasos com plantas diversas, caixas d’água com hortinhas e caixotes para coleções de materiais naturais coletados em outros locais? Será possível aproveitar aquele canteiro decorativo, que está presente somente para enfeitar uma entrada, e transformá-lo num espaço de experiências?
Organizando o espaço, a equipe passa a considerá-lo como um ambiente pertencente à rotina dos pequenos, como o pátio, a brinquedoteca, o ateliê, o refeitório etc.. Vamos ver como isso pode funcionar de forma adaptada, conhecendo os materiais e os princípios das Escolas da Floresta.
Quanto ao planejamento de propostas, é preciso lembrar que estamos buscando formar aprendizes independentes e autônomos, inspirados em desenvolver suas próprias ideias, explorar seus interesses e experimentar novidades.
É muito provável que nos primeiros contatos com o espaço, os recursos naturais e os materiais, as crianças fiquem agitadas e não se concentrem nas intervenções e orientações dos professores. Isso é esperado. Os pequenos estão conhecendo o novo, pensando nas milhares de possibilidades de pesquisas e brincadeiras. Estão sentindo o ar, identificando o que a professora vai ou não permitir e procurando levar toda aquela novidade para dentro de si – coisa de corpo mesmo! Por isso, é preciso ir com calma nas propostas e nas expectativas. No início deixar a livre exploração acontecer. Em outras oportunidades, ir introduzindo as ferramentas uma a uma, e, finalmente, apresentar as possibilidades mais “arriscadas” como manusear ferramentas complexas e acompanhar as propostas com o fogo. Apesar da “naturalidade” desses ambientes, para muitos pequenos tudo é inédito, mas dando tempo ao tempo, certamente as crianças abraçarão a Natureza porque combinam perfeitamente com ela.
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Leia mais sobre esse tema na postagem Natureza, riscos e brincadeiras numa discussão que dá o que pensar e As crianças na natureza E complemente o conteúdo lendo Campos de experiências todos os dias! e Repetir propostas para crianças. Será?
Referências:
- Forest School Handbook – Burys Court School & Little Berries Nursery, Moon Hall Schools Educational Trust, 2012
- Developing a Forest School in Early Years Provision, Jenny Doyle and Katherine Milchem
- Impacts o Long Term Forest School Programmes on Children’s Resilience, Confidence and Wellbeing, Sarah Blackwell
- This is our classroom, A teacher’s guide to Forest School at Kent Country Parks
Maravilhoso tudo isso. Fiquei pensando nas crianças de apartamento, que brincam em parquinhos cimentados, que já desde cedo usam celulares, brinquedos eletrônicos, os jogos de computador, e muitos utilizam os celulares com joguinhos para que os pais possam descansar… enfim.
Pés e mãos sujas de terra, subir em árvores, pegar fruta madura no pé e comer na hora, procurar onde a galinha colocou os ovos, porque ela anda pelo quintal, admirar as formigas caminhando uma atrás da outra, carreiras de formigas em filas contrárias e não se trombarem, colher a verdura no pé, no quintal da casa… precisamos urgente desse tempo de volta.
Eu sinto tanta paz em meio as árvores, olhando o mar…
Concordamos 100%!
🙂
É m muito importante as crianças fazerem suas próprias descobertas, são aprendizados que ficarão na memória para sempre.
Fantástico, adoro trabalhar com a natureza, em uma das escolas que trabalhei, fiz parceria com outra colega e montamos o projeto ‘HORTA’, onde colocamos as crianças para brincar, plantar e colher, muito bom, e importante para as crianças esse contato direto com a natureza.