Remexendo no planejamento e no registro pedagógico
Planejamento e Registro são instrumentos valiosos e fundamentais da prática pedagógica que precisam ser cutucados e repensados de tempos em tempos. Elaboramos um percurso de palavras e conceitos que estruturam bons planejamentos e registros consistentes, para movimentar e provocar reflexões e até novas experiências de registrar e planejar.
Para começar…
Pensar no cabeçalho. É preciso formalismo e disciplina para organizar e sistematizar as informações. Costumamos acreditar que a memória dá conta de tudo, “que nunca esqueceremos aquele fato” e “que poderemos explicar melhor quando alguém tiver dúvida”! Mas não é assim. Porque vamos acumulando um grande número de “fatos inesquecíveis”, não somos um banco de memórias e nem sempre estaremos próximos de quem pode ler e se alimentar dos nossos registros. Assim, é importante anotar as informações básicas do planejamento e do registro: professor, turma, data, nome da atividade e projeto (se for o caso).
Em seguida, detalhar o espaço, os materiais e a organização dos mesmos. Já abordamos em diversas postagens a importância do Espaço Propositor para as experiências das crianças, portanto, detalhar o planejamento da arrumação do espaço é fundamental para orientar o professor no momento de colocar em prática a proposta. Também é importante registrar como o espaço organizado influenciou o desenvolvimento da atividade para ter novas ideias.
Esse bloco de informações se encerra com o fator tempo. No planejamento, o tempo é uma hipótese a ser calculada:
Qual o melhor momento do dia para propor a atividade?
Quando as crianças estão no clima da proposta pensada pelo professor?
De acordo com a experiência do professor, quando ela deve ser implementada de modo a garantir que as crianças tenham tempo suficiente para brincar, pensar, experimentar e finalizar as pesquisas?
Já no registro, o tempo entra como fator a ser avaliado. O momento da atividade foi bem escolhido? Foi propício para as crianças “entrarem no clima”? A duração da proposta ocorreu como o previsto? As crianças queriam continuar na atividade mas a rotina do dia impediu as experiências? Ou as brincadeiras se encerraram antes da previsão do professor e essa questão precisa ser repensada?
No planejamento…
É a vez dos objetivos. O que o professor espera que as crianças façam? Pensar em verbos é o modo mais fácil de entender o que são os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento elencos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
Uma documentação pedagógica para provocar
Qual a importância de organizar os registros para elaborar uma documentação pedagógica para crianças e professores? O que acontece quando a documentação pedagógica é parte da rotina de ensino e aprendizagem?
Acabo de visitar um museu de arte moderna e contemporânea na Alemanha, Pinakothek der Moderne, com inúmeras salas, coleções e curadores*. Chamou a atenção a forma como as obras desse museu foram reunidas em cada uma das salas. Poucas paredes apresentaram obras de um único artista ou de uma mesma época. O que estava provocando os visitantes-observadores era a conversa que as diferentes pinturas, esculturas e instalações faziam entre si. Muito além da autoria, os curadores organizaram pinturas e outros trabalhos pela temática, pelo estilo, por causa de uma cor marcante, de uma luz, o uso do espaço ou mesmo um material.
Ao passear o olhar pelas obras reunidas, o visitante é convidado a pensar na mensagem implícita na arrumação proposta pelo curador:
→ O que está por trás da narrativa?
→ Como esse conjunto de obras me provoca?
A pesquisadora sueca Liselott Olsson defende que a documentação pedagógica deve ser usada por professores e crianças para visualizar problemas, identificar caminhos para pesquisar e criar coletivamente possibilidades para ampliar as brincadeiras e explorações.
Portfolios: histórias da vida real
Registros organizados sobre o percurso das pesquisas e das descobertas da turma são geralmente chamados de portfolios. Realizados nos mais diversos formatos, como pastas, cadernos, arquivos digitais, cartazes e outros, esses apontamentos narram para as famílias e para a gestão da instituição a história vivida pelas crianças ao longo do ano. Mas será que é só isso?
Essa documentação pedagógica – que é a elaboração dos registros com um foco específico – é feita somente para prestar contas?
Na EMEI Nelson Mandela, em SP, a diretora Cibele Racy construiu com sua equipe uma rotina para elaborar o portfolio de cada turma com registros semanais dos acontecimentos, do andamento dos projetos, dos interesses e dos desdobramentos das aprendizagens das crianças.
Até aí, sem nenhuma novidade!
Mas esse documento, que chega ao final do ano com mais de 40 páginas, é feito junto com as crianças.
Mostra na Escola Primeira: trabalho a partir de projetos
Muitos educadores têm experimentado e reconhecido o valor de trabalhar a partir de projetos na educação infantil. São temas e pesquisas que nascem dos interesses dos pequenos, das situações do cotidiano e do olhar apurado dos professores que pegam “ganchos” nas oportunidades significativas.
No entanto, apesar da crença, muitos profissionais tem dúvidas sobre as situações que representam oportunidades frutíferas e como provocar os pequenos para construir investigação e experimentação.
Casos práticos do trabalho com projetos
Na VI Mostra Cultural 2016 – Mãos, a equipe da Escola Primeira contou muitas histórias de crianças, professores e atelieristas que mergulharam em aventuras de experimentar, descobrir, expressar e aprender.
Visitamos mostras de todos os grupos, com os percursos e produções organizados pelas professoras e atelieristas. São processos intensos, construídos e vividos por meses, narrados por meio de registros de texto, imagens e produções. A exposição revelou os temas e pesquisas mais aprofundados. Porém, é importante lembrar que estes temas não são suficientes para abrigar todo o potencial de interesse, exploração e aprendizagem das crianças. O olhar do professor para transformar os pequenos acontecimentos significativos do dia a dia em provocações complementa as possibilidades de desenvolvimento da turma. Nesta postagem apresentamos com detalhes o trabalho desenvolvido pela professora Talita Freitas e pela auxiliar Aline Oliveira, num relato que se inicia com a identificação da oportunidade.
Palavra de… Madalena Freire
No final de 2016 recebemos um presente. Conversamos com Madalena Freire e, para uma pergunta, recebemos pelo menos oito respostas! Palavras verdadeiras e provocadoras que despertam reflexão. Uma essência de Madalena que incomoda porque nos faz pensar e crescer!
Tempo de Creche – Crianças nascem naturalmente aprendizes, com curiosidade para desvendar como o mundo funciona. A curiosidade é o desejo de aprender. Qual o caminho para o professor trabalhar com o espírito curioso das crianças?
Madalena – As crianças nascem aprendizes, mas fora do ambiente humano adequado, não se desenvolverão! Este fato assinala a importância dos adultos (modelo) para seu adequado desenvolvimento.
A curiosidade é um dos elementos que impulsiona o desejo de aprender… mas, se esta não for alimentada com intervenções, encaminhamentos e devoluções, não florescerá !!
Que proposta vou fazer para os meus alunos viverem essa informação?
Como provocar o aluno a repensar o que ele já pensa?
Portanto o professor tem grandes desafios no seu ensinar!!! Ele terá que:
Documentação Pedagógica como aprendizagem para crianças e professores
Já pensou que a Documentação Pedagógica pode ajudar a contar para você mesmo, uma história sobre você?
Já olhou para a Documentação Pedagógica como janelas para a sua subjetividade, sua maneira de ser com as crianças e como você constrói as próprias práticas?
Indo mais fundo, será que a Documentação Pedagógica revela se as abordagens que acreditamos desenvolver estão apenas no nível da conversa ou se realmente embasam as nossas práticas com as crianças?
Documentação Pedagógica não é só o registro do que observamos no fazer das crianças. Ela é muito mais! Quando o educador registra sua prática e transforma os registros em documentos reveladores dos aprendizados das crianças, ele também tem diante de si as aprendizagens do seu saber pedagógico.
Como podemos compreender este aspecto da Documentação Pedagógica?
Uma proposta para refletir sobre o ano que se encerra
Chegamos ao final de mais um ano e podemos dizer que muitas teorias, estudos e práticas nos perseguiram e provocaram pensamentos. Muita coisa se falou, muito se conheceu e estudou, direções foram apontadas, mas, em essência, ficou um sabor de setas apontadas para várias direções.
Por isso, é preciso organizar o que aprendemos sobre a jornada do ano que passou. Como pensar no final do ano sem olhar para o que foi vivido? Como refletir sobre o ano que passou?
Como pensar no tempo que está por vir sem descobrir o que queremos mudar e o que queremos que continue na mesma direção? É provável que a jornada de 2016 também trouxe alguns sabores de inovação.
Assim, é importante pensar o que é de fato inovar. É jogar o que já existe fora e começar do zero? É ignorar o que já experimentamos e assumir uma nova personalidade?
Para nós a resposta é não!
Aquilo que nos atravessa e bate fundo na alma, encontra um certo eco, um barulhinho dentro de nós. Somos sensibilizados por situações às quais já temos um terreno preparado para receber.
É assim que acontece quando vamos a uma exposição e ficamos mobilizados por uma obra em especial. Ela reavivou algumas sensações e emoções gravadas na memória. Ou conversou com o momento pelo qual estamos atravessando. Ou ainda, ela corresponde ao nosso ideal estético. Mas, a obra pode também atingir o que está frágil em nós e precisa ser enfrentado.
É hora de refletir sobre o ano que estamos encerrando! É hora de retomar sensações e emoções da prática de ser professor.
Uma proposta artística para provocar pesquisa e escuta
Que tal a sensação de caminhar sobre esponjas macias que marcam as passadas?
É possível pintar com os pés?
O que podemos ouvir das crianças quando são provocadas e fazem suas pesquisas?
Selecionamos uma proposta da coleção Fazendo Arte do PIM – Programa Primeira Infância Melhor, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul para pensar sobre pesquisa e escuta.
O PIM é um programa de política pública pioneiro no Brasil, desenvolvido em 2003. É uma ação de promoção do desenvolvimento integral da primeira infância que se apoia em três eixos: família, comunidade e intersetorialidade (saúde, educação, assistência social, cultura e justiça). O programa se desenvolve através de visitas domiciliares e comunitárias. Um time de visitadores capacitados visita semanalmente famílias em situação de risco e vulnerabilidade social, e constrói com elas o fortalecimento de suas competências para educar e cuidar das crianças.
Os materiais elaborados pelo grupo técnico do PIM para capacitação da equipe de visitadores estão disponíveis no site do programa e podem ser baixados gratuitamente.
Pauta do Olhar: os campos de experiências e a singularidade
Refletir, repensar os mesmos assuntos e enfatizar alguns aspectos para orientar uma prática pedagógica que garanta sempre as vias de mão dupla. Paulo Freire afirmava que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. O que estamos aprendendo no momento em que estamos ensinando? Estamos ensinando prevendo respostas certas? Ou estamos ensinando de forma aberta, concedendo tempo e liberdade para as crianças expressarem seus modos singulares de se desenvolver?
Nesse sentido, achamos que somos chatas e repetitivas porque estamos retomando os Campos de Experiências e a forma como foram abordados os desenvolvimentos das crianças pequenas na 2a versão da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
O Tempo de Creche acredita na importância e necessidade de ampliar o repertório dos seus educadores-leitores, respeitando e balizando os conteúdos pelas diretrizes e documentos nacionais do MEC. Mas não podemos valorizar aquilo que parece fugir do razoável! Assim, não concordamos com a forma como os campos de experiências da segunda versão foram estruturados.