Como pensar o letramento e a alfabetização na Educação Infantil? Quais atividades são prioritárias para o pleno desenvolvimento das crianças?
Rudolf Steiner, filósofo e educador austríaco do início do século XX, defende que até os sete anos a criança tem que brincar. E ponto! E esta é uma das responsabilidades da escola.
As linguagens do corpo são acompanhadas pelo desenvolvimento neurológico como um todo, incluside da linguagem oral. Para Steiner, a educação da primeira infância voltada para o brincar conquista mais resultados futuros do que aprender técnicas de leitura e escrita!
Também Vigotski seguiu nessa linha na mesma época. O aprendizado da escrita é gradual e deve ser iniciado na primeira infância por meio do fazer simbólico. Para o psicólogo bielorrusso, atividades mecânicas de leitura e escrita atrapalham o amadurecimento porque pulam etapas do desenvolvimento. Por outro lado, a brincadeira garante os pilares para a construção significativa da linguagem.
Então GRADUAL, LÚDICA e SIGNIFICATIVA parecem ser as chaves para pensar os conteúdos que contribuem com o amadurecimento neuropsíquico da criança e que as levará a dominar o sistema de símbolos da leitura e escrita, na alfabetização.
E a ESCOLARIZAÇÃO ANTECIPADA induz o professor a dedicar tempo e energia em conteúdos que não são adequados à primeira infância.
Apresentar a escrita em situações reais e significativas é um recurso que estimula a percepção sobre a língua escrita e despertar interesse nos pequenos. Isso é trabalhar o letramento! As práticas comunicativas que ocorrem nas atividades sociais do dia a dia desafiam a pesquisa. Assim, a escrita e a leitura passam a fazer sentido e tornam-se parte da vida das crianças.
Por exemplo, cartazes contendo documentação pedagógica das vivências podem ser construídos com textos e imagens e fixados na sala para serem “relidos” pelas crianças e pelos professores.
O registro de receitas e processos é outro exemplo prático do uso de cartazes. Ao introduzir uma atividade de fazer biscoitos, que tal planejar uma conversa com as crianças para registrar com texto e ilustrações, os ingredientes, as quantidades e o modo de preparo? O que acha de, depois da receita realizada, acrescentar as fotos do processo de preparo e degustação com algumas legendas?
Na UNIEPRE…
Nas escolas da UNIEPRE, os cartazes da Roda de Chamada fazem da “lista de presença” uma brincadeira desafiadora. Diariamente, seja por meio de fotos das crianças ou desenhos executados por elas, as representações (ou símbolos) atestam o comparecimento no dia. Os desenhos e as fotos são sempre acompanhados do nome escrito em letra bastão.
Para os maiores, as professoras utilizam o cartaz do Ajudante do Dia, com a foto e o nome da criança selecionada.
Outro recurso que aparece nas paredes, são as letras alfabeto plastificadas e “ilustradas” ao longo do ano. Conforme as crianças vão reconhecendo e associando os sons das letras iniciais às palavras, a professora faz uma pesquisa com os pequenos e cola o objeto e a palavra no cartaz da letra. As palavras podem ir mudando conforme o desejo e as descobertas das crianças. Nas salas dos menores, 3 anos, objetos reais são colados nos cartazes das letras sempre que possível. Nas salas acima de 4 anos, os pequenos pesquisam imagens em revistas, recortam e as colam nas letras.
Em outra situação, as professoras Maria Élia, Magda e Valéria da unidade de Itapevi trabalharam o projeto Era uma Casa com a turma de 3 anos, comparando as casas dos contos mais famosos: Três porquinhos, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, João e o Pé de Feijão, Branca de Neve e outros.
As histórias eram narradas e as ilustrações dos livros recebiam um olhar apurado, com a mediação das educadoras, para provocar o levantamento dos detalhes das moradias. Depois do mergulho nas histórias e nos livros, construíram um cartaz para registro comparativo, em texto e ilustração, das características das construções. No cartaz a professora organizou em 4 colunas o nome dos contos, a imagem das casas, as características levantadas e os personagens que as habitam. Fez uma roda de conversa e foi registrando, em letra bastão, as informações colocadas pelas crianças.
Para que escrever no cartaz se os pequenos não leem?
Os pequenos leem sim, mas não da mesma forma que os alfabetizados! Porque percebem que existem símbolos naquela produção que traduzem pensamentos e informações. As imagens selecionadas contam com o reconhecimento imediato das crianças, que àquela altura já dominam as historias e suas ilustrações. A associação destas imagens com os textos da professora garantem a memória do que foi construído com significado. A percepção do “desenho” das letras marca e desperta para uma jornada GRADUAL e LÚDICA em direção ao letramento e, finalmente, à alfabetização.
Para aprofundar o tema, leia as postagens:
Letramento e Alfabetização: qual o caminho para a Educação Infantil?
Conhecer outras experiências para se reconhecer e crescer!
A importância do brincar
Escolher os livros: um momento de prazer
excelente conteúdo, vou utilizar em minhas aulas. muito obrigada por repassar estes exemplos…
Há muito venho estudando e cada vez mais me conscientizo da importância da presença de textos no dia a dia das crianças, vindo como suporte para a alfabetização e formação da sua visão de mundo. Gostei muito das dicas de como favorecer o letramento para os pequenos. Nossa! são tantas informações e dicas importantes neste fórum que temos que trabalhar a ansiedade e fazer uma boa programação para leitura e estudo. Muito bom!!!
Aurea, muito obrigada pelo retorno e pelas palavras gentis 😉
Agradecemos o comentário no face de Danielle Silva, indicando a experiência que tem com o momento da chamada e os resultados observados. E compartilhamos o que ela nos diz:
Como eles mencionam, o momento da chamada é muito rico mesmo quando explorado de forma diferenciada a cada dia. Depois que passei a trabalhar dessa forma diversificada já vi muita evolução no reconhecimento das letras e na sonoridade além de tornar o momento muito divertido.
Danielle, sinta-se convidada a enviar sua experiência com os pequenos. Sabemos que você também tem algo valioso para compartilhar!
A leitura de imagens traz muitas possibilidades para o aluno e para o seu imaginário e assim, sinta prazer na busca do conhecimento. Esse é o primeiro passo em que o aluno se vê cara a cara com a leitura e deve ser estimulado, para que, a partir desse contato, veja na leitura algo bom. Contudo, para que algo se transforme em informação escrita, primeiro as imagens devem ganhar sentido na mente e aí então é que essas cenas se transformam em ideias, para dar inicio a leitura.