A dúvida de uma seguidora do Blog sobre o texto elaborado pela educadora Ana Helena para a nossa seção Palavra de…, nos levou a desenvolver este post. Em seu texto, Ana Helena aborda a experiência da Creche Oeste da Universidade São Paulo sobre as datas comemorativas tradicionais como conteúdo de planejamento na Educação Infantil e reflete sobre o que elas realmente significam para as crianças.
Comecemos pelo protagonismo da criança no currículo da creche. O que é isso de fato?
A abordagem de Reggio Emilia (um conjunto de escolas no norte da Itália) para educação da primeira infância, referência para a pedagogia atual, pode iniciar esta discussão.
Nestas escolas italianas, a criança “é um sujeito único com direitos, em vez de simplesmente com necessidades”. Por isso, todo o trabalho educativo parte das crianças e daquilo que o professor percebe e colhe nas atividades do dia da creche.
Segundo seus educadores, as crianças “não desejam apenas receber, mas também querem oferecer”. E assim, fala-se sobre “uma abordagem (dos professores) baseada em ouvir ao invés de falar, em que a dúvida e a fascinação (das crianças) são fatores bem vindos”. Desse modo, as crianças são vistas e valorizadas na sua função de “detetives” do mundo: “é uma abordagem na qual a importância do inesperado e do possível é reconhecida, um enfoque no qual os educadores sabem como “desperdiçar” o tempo”, e dar às crianças possibilidades de pesquisa e aprofundamento naquilo que realmente lhes interessa, com o seu ritmo e na sua essência brincante.
A tarefa do professor, então, “não é simplesmente satisfazer ou responder perguntas, mas, em vez disso, ajudar as crianças a descobrirem respostas (para as SUAS perguntas) e, mais importante ainda, ajudá-las a se fazerem perguntas, a encontrarem questões interessantes para experimentarem a pesquisa.
Por isso, no planejamento da educação infantil de Reggio Emilia, se fala em preparação e organização:
- dos espaços,
- dos materiais,
- dos pensamentos,
- das situações e
- das ocasiões para a aprendizagem
Sendo todas estas ações voltadas a responder as perguntas que as próprias crianças se fazem. Ou, para melhor dizer, são ações desenvolvidas pelo professor para viabilizar os projetos propostos pelas crianças.
Retomando a questão inicial e as tradicionais comemorações que as creches e pré-escolas, desenvolvem ano após ano:
Será que o Dia das Mães é entendido e “desejado” pelas crianças como projeto de educação da mesma maneira que nós, adultos, pretendemos?
O que uma criança de um ou dois anos compreende disso?
– “Só um dia para a minha mamãe??? Para mim, a minha mamãe merece presentes e homenagens todos os dias!”
Então, pela abordagem de Reggio Emilia, o tão afamado Dia das Mães, dos Pais, da Árvore, da Pátria podem existir como projetos de trabalho se surgirem a partir do interesse e da indagação das próprias crianças.
Mas e a Festa Junina, a Festa do Boi Bumbá e outras comemorações tradicionais das comunidades?
Elas devem ser construídas para serem cultuadas como tradição da própria instituição, assim como um ritual. A memória (fotos, filmes, objetos usados etc.) destas ocasiões deve ser trabalhada com as crianças. As histórias e explicações devem ser contadas e recontadas e a preparação para os eventos precisa incluir os pequenos. Isso faz da comemoração algo significativo para as crianças que entenderão e se interessarão por todos os detalhes.
E para quê?
Por serem significativos, esses processos se constituirão em desenvolvimento e APRENDIZADO, atendendo aos objetivos fundamentais das instituições de educação infantil:
“garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens” (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, MEC, 2010)
Leia: Datas comemorativas: muito além das festas Tânia Fulkemann Landau fala da importância das manifestações culturais na formação da criança Projetos e temas: um convite à aventura Ana Helena fala sobre as datas comemorativas na creche Festa Junina: oportunidade de trabalhar com os educadores♦As Cem Linguagens da Criança – A Abordagem de Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância. Carolyn Edwards, Lella Gandini e George Forman. Editora Artmed, 1999.
♦De volta ao Quintal Mágico – A educação infantile na Te-Arte. Dulcilia Schroeder Buitoni. Editora Ágora, 2006.
♦Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, MEC, 2009
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Olá, Leonor. A venda do livro é realizada pela editora.
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