A escolha das palavras que usamos tem influência na aprendizagem?
Uma questão que aflige estudiosos do comportamento e da aprendizagem é a forma como crianças e jovens enfrentam os desafios e a aprendizagem. Crianças “esforçadas” e as “talentosas e inteligentes” parecem pertencer a dois grupos distintos quando se trata de enfrentar as frustrações e as dificuldades que a vida naturalmente impõe.
Um estudo recente descobriu que as palavras e atitudes que utilizamos para elogiar as conquistas dos nossos pequenos, a partir de 1 ano, fazem toda a diferença.
Segundo a jornalista Eliane Brum, as gerações de jovens de hoje tiveram muito mais recursos que seus pais. Parece que valorizamos e nos esforçamos mais para investir no desenvolvimento de nossos filhos. Ao mesmo tempo, esses jovens e adolescentes cresceram acreditando na ilusão de que a vida é fácil, que eles já nasceram prontos e que o mundo precisa reconhecer a sua “genialidade”. Uma geração que cresceu numa redoma protetora que evitou as frustrações e desencantamentos. São crianças que acreditaram que a felicidade é um direito… e não uma conquista! Nas palavras da Eliane, somos uma geração de pais que não conseguiu dizer que viver é para os insistentes.
Nos Estados Unidos, a pesquisadora da Universidade de Stanford, Carol Dweck, estuda temas como motivação e perseverança desde a década de 1960. Recentemente, suas descobertas podem esclarecer aspectos da educação das crianças que explicam a postura da geração atual de jovens, descrita por Eliane Brum.
Nos estudos de Carol, ela classificou as crianças em dois grupos:
- Aquelas que acreditam que o sucesso é o resultado de talento ou de capacidade inata, ou seja, que já nasceu com a pessoa.
- Aquelas que acreditam que o sucesso é resultado de trabalho duro.
O que está por trás dessa forma de pensar?
O que podemos fazer para formar crianças que enfrentam desafios controlando suas frustrações?
Carol desenvolveu um estudo com 53 famílias com crianças de 14 meses de idade, acompanhando-as por mais de 7 anos.
A pesquisadora gravou por dois anos, períodos de 90 minutos, a cada quatro meses, o que pais e familiares falavam com as crianças nas suas rotinas normais. Com isso, percebeu-se a existência de três grupos distintos quanto à maneira de elogiar e reforçar as conquistas dos pequenos:
- Grupo que elogiava o esforço – por exemplo, numa situação em que a criança tentasse abrir uma caixa, ao conseguir, os pais diriam “que bacana! Vi que foi difícil mas você tentou bastante e conseguiu!
- Grupo que elogiava a inteligência e a capacidade para superar o desafio – por exemplo, ao conseguir encaixar as peças de um jogo de encaixe, as famílias diriam “que lindo! Você conseguiu! É muito inteligente! Sabe encaixar!”
- Grupo que reforçava as conquistas com palavras neutras como “muito bem!” ou “que ótimo!”.
A equipe de Carol esperou cinco anos e voltou a acompanhar as crianças em atividades que impunham desafios e aprendizagens.
O que a pesquisadora descobriu?
Pergunta: qual o grupo enfrentou melhor os desafios e apresentou mais interesse em aprender?
Resposta: as crianças com famílias que reforçaram o processo das conquistas e o esforço em superar desafios e aprender.
A pesquisadora foi mais longe e estudou o comportamento de jovens pertencentes ao grupo da “capacidade pela inteligência” e percebeu que quando professores passam a reforçar o empenho e o esforço, os alunos alcançam melhor desempenho, reconfigurando suas mentes.
Talvez pequenas frases façam a diferença na educação dos nossos pequenos. Mas o empenho em construir pessoas esforçadas e perseverantes precisa de atitudes de educação que vão além de simples frases estudas e adequadamente utilizadas. Os educadores também precisam valorizar o processo das conquistas em todas as situações de ensino-aprendizagem. Conseguir ou não conseguir realizar uma tarefa, fazer ou não um desenho elaborado, utilizar narrativas simples ou complexas, não deve ser traduzido em avaliação de capacidade, porque o esforço e as pequenas conquistas persistentes significam e promovem melhores desenvolvimentos.
O que falar para as crianças?
Então, quais as frases que utilizamos com maior frequência nas conversas que temos com as crianças?
Como as estimulamos a se envolverem com interesse e empenho nas pesquisas que realizam?
Podemos observar o “efeito” que causa nas crianças quando sempre falamos: “- está bonito” e nem paramos para realmente olhar o que foi feito. Quando prestamos atenção, a conversa ganha em “qualidade” de relação… Como por exemplo: “- veja como você fez um trabalho diferente! Você usou outras cores!”
Assim, também podemos pensar em que palavras ou frases estimulam os esforços e a persistência ou tem efeito contrário…
Quase lá… continue com essa pesquisa interessante!
Você fez assim? Que legal! Sei que foi difícil, mas você continuou tentando e deu certo!
Você se esforçou e conseguiu. Muito bem!
Que tal combinar inúmeras possibilidades de frases de apoio?
Que desenho… | interessante! | você usou muitas linhas |
Que construção… | divertido(a)! | você usou muitas cores |
Que pintura… | difícil! | você equilibrou muitas peças |
Que ideia… | diferente! | você usou todo o papel |
você descobriu um jeito interessante |
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→ Carol S. Dweck, é uma das principais pesquisadoras no campo da motivação e é professora de Psicologia na Universidade de Stanford. Em 2006 ela publicou o livro Mindset: The new psychology of success (Reconfigurando a mente: a nova psicologia do sucesso), fruto da pesquisa descrita nessa postagem.
→ Eliane Brum é uma jornalista, escritora e documentarista brasileira. Formou-se pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em 1988 e ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.
→ Você pode ler mais sobre aprendizagem na infância nas postagens: