Não é raro notarmos atitudes que chamamos de birra, descontrole e falta de limite nos pequenos do grupo. Essas questões estão relacionadas à habilidade de lidar com os sentimentos que, como outras habilidades, devem ser exercitadas, aprendidas e desenvolvidas. Ela começa a se desenvolver no nascimento e continua como um processo durante toda a infância e adolescência. Este aprendizado é a capacidade de reconhecer, expressar e lidar com emoções intensas de forma adequada e oportuna.
Saber lidar com emoções intensas é uma habilidade conquistada aos poucos, fundamental para o desenvolvimento saudável. Ele favorece as relações, as ações cooperativas, a lidar com as frustrações e a resolução de conflitos. Os pequenos aprendem essas habilidades por meio de interações com os adultos, e as orientações de pais e educadores com exemplos e explicações claras e gradativas.
Vamos pensar numa situação de descontrole que gera um conflito entre crianças do grupo?
Pedro quer o brinquedo que seu amigo está brincando. Ele toma do colega a força! Quando seu amigo começa a chorar, ele dá um tapa e também começa a chorar. O(a) professor(a) acalma o Pedro e, em seguida, o ajuda a devolver o brinquedo para o amigo. A educadora explica que bater não é legal e dá a Pedro exemplos de frases que deveria ou poderia usar para pedir o brinquedo para o amigo. Ela fica com ele pra ajudá-lo a esperar sua vez e acaba despertando seu interesse em outro brinquedo que está perto. Nestes momentos diários, esta criança está aprendendo a expressar seus sentimentos e impulsos fortes, para se acalmar, e fazer escolhas de comportamentos mais amistosos e respeitosos.
Crianças dessa faixa etária têm sentimentos intensos que expressam com entusiasmo. O “Não!”, então, torna-se uma palavra favorita e uma forma poderosa de afirmar a sua independência. Paralelamente, as crianças ficam facilmente frustradas porque ainda existem muitas coisas que querem fazer, mas não podem. Nesse sentido, as rotinas contribuem para conferir segurança aos momentos em que experimentam descontrole na medida em que sabem a sequência de momentos do dia. Por um longo período da infância não será fácil controlar os próprios desejos!
Estratégias que podem ajudar a lidar com as emoções
Dar às crianças oportunidades de escolha
Isso permite a elas perceberem que o modo como pensam o mundo é valorizado e que confiamos nelas para tomarem boas decisões. Poder escolher também dá uma sensação de estar sendo atendido. Deixe, então, os pequenos fazerem escolhas sobre o que querem brincar, o que ler, ou o que comer (dentro das opções saudáveis e possíveis). Lembre-se, no entanto, que em situações que a decisão deve ser sua, não ofereça escolhas. Assim, ao dizer “é hora de dormir”, não diga “você está pronto para ir descansar?” Ou, se brincar no pátio está fora de questão, ofereça duas opções de brincadeiras na sala.
Muitas opções podem despertar confusão e intensidade de emoções para uma criança tão pequena. Então, procure limitar as opções: “você quer cereal ou duas bolachas no lanche?”
Nomear e reconhecer os sentimentos da criança
Deixar claro para as crianças que seus sentimentos são reconhecidos e compreendidos ajuda a acalmar e retomar a tranquilidade. E isso não significa ceder às exigências: “- eu sei que você quer continuar a brincar com a água, mas agora temos que almoçar e você não pode me bater (ou gritar, ou chorar). Você pode me dizer com palavras o que está sentindo: estou com vontade de chutar você porque estou com raiva de ter que parar de brincar!” Dar nome e identificar os sentimentos ajuda a criança a aprender a regular suas reações com as emoções fortes.
Usar frases curtas quando a criança está muito chateada
Quando a criança está tendo dificuldade de tomar uma decisão ou saber como lidar com seus sentimentos, limite o número de palavras que são usadas. Frases longas e muitas palavras podem ser avassaladoras e causar ansiedade nos pequenos, o que torna mais difícil para que se acalmem. Poucas palavras, com baixo tom de voz acolhem a criança com afetividade e tranquiliza.
Ajudar as crianças a aprender a esperar
Praticar a espera ajuda as crianças a aprenderem a ter tranquilidade e a perceber a duração do tempo. Também ensina que os outros também têm suas necessidades. Comece organizando os períodos curtos de espera [e] com alguma coisa para fazer enquanto aguardam: “- nós já vamos para o pátio, mas temos que esperar um pouquinho. Enquanto esperamos vamos cantar uma música?” Para os menores, menor o tempo: 5 ou 10 minutos são percebidos como “quase uma eternidade!”
Organizar jogos com turnos e de seguir comandos
Qualquer jogo que envolva revezamento: com bolas, corrida de carrinhos, a vez de usar a casinha ou a boneca, ajuda a desenvolver o sentimento de grupo e de coletividade porque as crianças têm que esperar a vez de participar. Inicie com pequenos grupos de cada vez, até a turma toda ser capaz de se envolver numa mesma atividade e esperar. Brincadeiras de escuta, como Siga o chefe e O mestre mandou… também ajudam a ouvir e seguir as regras e, assim, as atitudes que desenvolvem esta habilidade.
Com estratégias simples, ações práticas e concretas fica mais fácil e seguro construir com as crianças atitudes mais dosadas e serenas. Um trabalho intensivo nesse sentido possibilita o desenvolvimento de crianças seguras, com iniciativa e que se relacionam bem com adultos e outras crianças, sabendo que são ouvidas e ouvindo a todos com os quais convive.
Estar presente no momento em que a criança perde o controle não é interferir de imediato (se os envolvidos não estão em perigo). Pare e observe. Pense na situação e identifique os sentimentos (irritação, raiva, medo, frustração) e o porquê (está cansado, com fome, quer aquele brinquedo, não quer descansar…). Dando-se este tempo para pensar no que está acontecendo para você e seu grupo irá ajudar a ter uma resposta de uma forma calma e eficaz.
Para aprofundar este tema, acesse: http://main.zerotothree.org/site/PageServer?pagename=FromBabyToBigKid_Month31
Acesse no Tempo de Creche os post: Socorro, minha turma é difícil! e MORDIDA: Situações que demandam atenção e cuidado
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NÃO DEVEMOS MEDIR FORÇAS COM AS BIRRAS DAS CRIANÇAS , DEVEMOS SER FLEXIVEIS DE VEZ EM QUANDO, MAS TAMBEM SER FIRMES E AO MESMO TEMPO ACOLHEDORES.