Já pensou que a Documentação Pedagógica pode ajudar a contar para você mesmo, uma história sobre você?
Já olhou para a Documentação Pedagógica como janelas para a sua subjetividade, sua maneira de ser com as crianças e como você constrói as próprias práticas?
Indo mais fundo, será que a Documentação Pedagógica revela se as abordagens que acreditamos desenvolver estão apenas no nível da conversa ou se realmente embasam as nossas práticas com as crianças?
Documentação Pedagógica não é só o registro do que observamos no fazer das crianças. Ela é muito mais! Quando o educador registra sua prática e transforma os registros em documentos reveladores dos aprendizados das crianças, ele também tem diante de si as aprendizagens do seu saber pedagógico.
Como podemos compreender este aspecto da Documentação Pedagógica?
Primeiro é preciso entender que o termo “Documentação Pedagógica” refere-se a duas questões interligadas: processo e conteúdo do processo.
Como conteúdo do processo estamos falando sobre registrar o que é significativo ou indicativo. Sobre o que as crianças estão dizendo, perguntando e fazendo; suas descobertas, construções e a maneira como o educador se relaciona com o seu próprio trabalho. Os registros do conteúdo tornam o trabalho do educador concreto e visível e, como tal, um ingrediente importante para a elaboração da documentação pedagógica.
Já o processo vai além da ação de registrar. Ele está nos registros, mas se revela por meio da reflexão. Nesse sentido, dá a possibilidade de usar os conteúdos como um meio de refletir sobre o nosso próprio trabalho pedagógico.
A reflexão pode ocorrer em vários momentos, que se complementam e enriquecem a visão sobre nosso fazer. O educador pode realizá-la sozinho, como outros educadores nos momentos de troca, com as crianças e com os pais. Em todas as situações ela se tona um aprendizado.
Mas existem alguns ganhos especiais!
Quando usamos a Documentação Pedagógica como material de reflexão da nossa prática, ela geralmente possibilita descobertas para a continuidade de um projeto em curso, ou indica novos caminhos. Quando nos conscientizamos sobre o que foi feito, revela-se aos nossos olhos o que ficou frágil ou caminhos não percorridos pelas crianças. Isto pode ser resolvido com ampliação do tempo do projeto ou com a retomada da proposta em outras situações, com novas perguntas e desafios.
Ao refletir sobre o andamento do projeto e as descobertas das crianças, percebemos o fio condutor do trabalho pedagógico, se ele reflete nossas crenças e se está alinhado com o projeto político da instituição onde trabalhamos.
No momento em que a Documentação é a memória viva da prática pedagógica, o processo de elaborá-la pode também funcionar como uma maneira de resgatar as aprendizagens das crianças e dos professores, conquistadas em experiências anteriores, e viabilizar novas conexões.
Finalmente, o movimento de registrar e refletir sobre os registros para compor a documentação, permite desenvolver um trabalho educativo que acompanha verdadeiramente o grupo. É planejando propostas com objetivos amplos e flexíveis que podemos permitir o avanço surpreendente da aprendizagem das crianças, naturalmente curiosas e investigativas.
Este texto foi inspirado no capítulo Documentação pedagógica: uma prática para reflexão e para a democracia, do livro Qualidade na Educação da Primeira Infância: perspectivas pós-moderna, de Gunilla Dahlberg, Peter Moss e Alan Pence, Editora Artmed, 2003.
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Para saber mais…
Isso é extremamente verdadeiro. Rompemos com o preconceito de que a documentação é meramente burocrática, quando sentimos o crescimento que a reflexão nos proporciona como profissionais. Quando ousamos mergulhar fundo, refletindo sobre o nosso fazer pedagógico, nunca mais nos contentamos em ficar na superficialidade.
Keli
Obrigada pelo retorno e por partilhar a experiência transformadora do processo de reflexão. Os registros reflexivos são realmente instrumentos que mudam o olhar e o fazer. Abraço