Duas situações de competição X participação envolvendo a Dança das Cadeiras chamaram a nossa atenção recentemente. A brincadeira tradicional foi proposta para crianças na faixa de 3 a 4 anos, em diferentes instituições, e causou tristeza, choro e frustração nos grupos e também nos professores.
Por que as crianças que saíam do jogo ficavam tão chateadas a ponto de chorar e impedir a continuidade da brincadeira?
Pois é! A Dança ou Jogo das Cadeiras é um jogo tradicional que, dependendo da forma como é brincado, leva à questão de ganhar ou perder, inadequada até 4 anos.
Por que será? Qual a diferença entre competição e participação?
Piaget e sua discípula, a educadora Constance Kamii, estudaram as situações de jogo com regras ao longo da infância e também as implicações da competição entre os participantes. Para ambos, as crianças até 5 ou 6 anos estão no estágio do brincar egocêntrico, em que brincando juntas ou separadas não se preocupam com a questão de “vencer”. Crianças pequenas gostam do desafio de jogar e se divertem cumprindo tarefas, regras ou combinados propostas pelos jogos. E só!
Outro aspecto dessa questão diz respeito às disputas. Nessa fase elas podem brigar por um brinquedo ou até para serem escolhidas como ajudantes para servir a fruta na hora do lanche. Isso porque o brinquedo e servir a fruta têm um valor intrínseco e imediato para elas. Nos jogos, por outro lado, objetos interessantes ou privilégios não estão diretamente envolvidos. O que os pequenos ganham concretamente chegando em primeiro lugar numa corrida? O que eles ganham em superar os amigos? O que compreendem desta situação?
Até 5 ou 6 anos as crianças são muito egocêntricas para se importar com a performance dos colegas.
A partir dessa idade, no entanto, elas começam a prestar mais atenção nas próprias conquistas e nas dos colegas. Começam a comparar e caminham para a competição.
Mas o que é competir?
Competir é comparar os desempenhos e superar os outros. E aí a intervenção do professor é fundamental.
Ao ganhar, algumas crianças expressam orgulho e sentimentos de superioridade. Quando professores enaltecem e valorizam as conquistas com muitos “muito bem!” e premiações, acabam por reforçar a superioridade do vencedor e também o sentimento de fracasso dos perdedores. Frente às primeiras experiências com jogos de competição, o professor deve valorizar a brincadeira, a participação do grupo e até adequar as regras dos jogos conforme a leitura que faz sobre o desenvolvimento das crianças.
Voltando para a Dança das Cadeiras, algumas variantes são indicadas para adaptar a brincadeira para os menores.
1- Para os bem pequenos, as cadeiras podem ser retiradas mas não os participantes! A proposta é sentar no colo do amigo que quiser acolher quem sobrou. É muito bacana observar como o grupo vai se organizando para ter os amigos sentados no colo. Além de adequada, a brincadeira tradicional modificada desafia o espírito de colaboração coletiva.
2- Para a faixa dos 4 a 6 anos, quem sai do jogo pode controlar a música. Desse modo, ao ficar sem cadeira, a criança ainda tem uma oportunidade de participar.
A convivência de crianças cria situações de competição e participação. Competir faz parte da natureza humana, mas os sentimentos de superioridade e de inferioridade não são condições para a competição acontecer. Com olhar afiado e intencionalidade nas ações, os professores podem construir situações positivas de aprendizagem com jogos e brincadeiras tradicionais e suas adequações às faixas etárias da Educação Infantil.
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→ Jean Piaget não era um educador, era um investigador da aprendizagem ou da epistemologia genética. Constance Kamii, sua discípula, tendo trabalhado com Piaget em vários períodos, foi uma das pensadoras que promoveu e adaptou seu pensamento à educação, especialmente na faixa etária da Educação Infantil.
→ Bibliografia – Group Games in Early Education: implications of Piaget Theory, Constance Kamii e Rheta DeVries. National Association for the Education of Young Children, Washington, 1988
→ Leia mais sobre o brincar nas postagens:
sempre tive dúvida sobre o porque das crianças chorarem e achava natural;após esta leitura mudarei a proposta da dança das cadeiras,de forma que seja mais prazerosa para ambas.