Desvendando conceitos: contexto significativo, singularidade e encadeamento de propostas

Desvendando conceitos: contexto significativo, singularidade e encadeamento de propostas

Que tal entender contexto significativo, singularidade e encadeamento de propostas?

Pode ser obvio que ao planejar uma proposta, o professor vai organizar um contexto.

É comum pensar que vamos preparar um ambiente com os materiais planejados e também definir a dimensão do tempo.

Mas contexto não é só isso!

Às vezes, o professor esquece que um contexto de aprendizagem parte de uma intenção fundamentada, apoiada num propósito pedagógico e na adequação ao grupo de crianças.

O que quero dizer com isso?
Que ao planejar, é preciso levar em conta as necessidades das crianças, os objetivos de aprendizagem e uma situação que interesse as crianças para que elas possam viver experiências e desenvolver os aspectos que guiaram planejamento.

Isso é pensar em contexto significativo!
E quando algo é significativo para as crianças?

Com um exemplo fica mais fácil de entender.

Imagine que um grupo de crianças encontra uma minhoca enorme no parque. Começam a observar, vai juntando gente e surgem comentários e perguntas:

– Parece uma cobra!
– Mas a cobra do sitio do meu avô tem cabeça e esse bicho não tem.
– É uma minhoca
, diz o outro!
– É sim, também já vi.

Aí o professor ou uma criança – tanto faz! – dispara uma pergunta: ué, mas minhoca não tem cabeça? Ela não tem olho, boca e nariz?

Com isso, o desconforto da pergunta está criado!

Explicando melhor: as crianças já conheciam alguns conteúdos sobre as minhocas ou acabaram por conhecer o bichinho naquela situação. Puderam observar e conhecer várias características: o formato do corpo, o tamanho, o modo como se desloca, onde vive, a cor etc. etc.

 

Então, o “bicho minhoca” tem significado para aquelas crianças.

Quando uma das crianças ou o professor pergunta sobre a cabeça da minhoca, esta provocação encontra uma estrutura significativa para o grupo, e, ao mesmo tempo, promove o desconforto do não saber, um desejo de buscar a resposta, apoiado na curiosidade.

Isso não é característica exclusiva das crianças maiores e nem da capacidade de formular questionamentos complexos! O mesmo pode acontecer com um bebezinho que encontra um objeto que não conhece.

Um bebê de 5 ou 6 meses já conhece diversos objetos. Conhece seus brinquedos, os utensílios de cozinha que a mamãe oferece para brincar, o colar da vovó, as ferramentas do papai, enfim, um mundo de coisas que chegam até ele todos os dias. Até que ele avista um objeto novo: vermelho e brilhoso, de forma cilíndrica, com um evidente furo no meio: ah, eu ainda não coloquei as mãos nesse negócio! Essa sensação de incompletude – como nos ensina Paulo Freire – provoca desconforto no bebê, porque ele quer conhecer melhor o objeto desconhecido… conhecendo do jeitão que os bebês conhecem o mundo: tocando, levando à boca, atirando no chão etc.

Então, a dúvida surge como um desequilíbrio entre o que se sabe sobre as coisas e o que percebemos que falta saber. Isso desperta a curiosidade e o interesse das crianças. 

É partindo dessa trilha de pensamentos pedagógicos, que o professor percebe o que é significativo para as crianças e o que as desafia, e pode encaminhar o planejamento estruturado em contextos de aprendizagens significativas. Sem este caminho, caímos na tentação de propor atividades só porque…
… deram certo com a turma da sala ao lado… 😨
… isso é proposto todos os anos e as crianças adoram… 😨
… as crianças se divertem com isso…😨

Escola não é bufê infantil!
A escola de Educação Infantil educa pela brincadeira, que é a linguagem da criança, mas o professor precisa ter uma INTENÇÃO pedagógica por trás.

Com isso, vamos compreender outro clichê pedagógico? O que pensar daquela história de considerar a singularidade do grupo ao planejar? O que isso quer dizer?

Vamos voltar para as minhocas!

Percebemos que o tema minhoca engajou a turma. Refletindo sobre o desenvolvimento motor das crianças, o professor percebe que precisa trabalhar a expressão corporal – que é um objetivo de aprendizagem do campo de experiências Corpo, gestos e movimentos.

Que tal propor que as crianças imitem os movimentos da minhoca?
Que tal buscar um vídeo no YouTube que mostre diferentes espécies de minhoca e seus movimentos?
E se, depois do vídeo, colocar uma música e propor criar a “dança da minhoca”?

Veja como um caminho reflexivo, que parte da curiosidade das crianças, das suas necessidades e do currículo, leva a um planejamento estruturado em processos significativos de aprendizagem… ou contextos adequados ao grupo: respeita o “jeito” da turma, os temas e desafios que interessam às crianças e também aquilo que elas precisam aprender. Tudo de acordo com os ritmos particulares de desenvolvimento.

Para fechar, outro conceito vai ficando claro: o encadeamento de propostas, que elimina o “espontaneísmo pedagógico” – assombração da Madalena Freire!

Uma nova proposta depende da reflexão sobre as propostas que já aconteceram, do entendimento que o professor tem sobre o que as crianças estão precisando aprender e o que as interessa. É justamente esse elo reflexivo, ou a conexão que o professor estabelece entre cada atividade, que se entende por encadeamento de propostas. Ou seja, o professor constrói um fio ou uma trilha de aprendizagens em que, cada dia, cada proposta, cada descoberta das crianças, vai sendo considerada e vai se tornando ponto de partida para elaborar novos planejamentos.

É isso!

Agora é colocar a mão na massa e, antes de planejar uma nova proposta, buscar elementos que favoreçam a ESCUTA dos pequenos por meio dos registros já realizados:

O que está desafiando e/ou provocando as crianças?
Quais situações curiosas e desafiadoras propiciam investigações?

Quais atividades baseadas em contextos significativos favorecem as aprendizagens do currículo?
Quais aspectos do desenvolvimento infantil precisam de reforço?

Diversos cursos remotos do Tempo de Creche aprofundam estes e outros conceitos por meio das análises de situações práticas reais, discussão entre os participantes e fundamentação teórica. Fique ligada(o) no calendário dos cursos para se inscrever!

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PARA SABER MAIS…

4 comments

gosto muito do blog tempo de creche!! são temáticas que me ajudam na função de coordenador pedagógico.

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