Propomos um desafio: planejar o ano levando em conta a importância da curiosidade e da investigação da criança como um dos motores da aprendizagem.
Já falamos sobre Paulo Freire e a escuta, Madalena Freire e o registro e a reflexão. Encaramos a documentação inspiradas em Reggio Emilia. Exploramos a autonomia do bebê e a relação olho no olho com o educador na visão de Pikler. Pensamos nas diretrizes e bases curriculares para apoiar nosso trabalho. Mas o que acontece no mundo da educação além disso?
Estudiosos e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento estão pesquisando a conexão entre curiosidade e desenvolvimento humano. Por que tantos cientistas estão tão curiosos a respeito da curiosidade?
Para o psicólogo, educador e economista americano, George Loewenstein, a curiosidade tem sido compreendida como uma força que impulsiona o desenvolvimento infantil e um dos mais importantes estímulos condutores da Educação e das descobertas científicas.
Um dos pilares da teoria de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança é o anseio natural que ela tem para investigar e compreender o seu ambiente. Piaget definiu curiosidade como a necessidade de explicar o inesperado. Para ele, as crianças são pequenos cientistas.
Nesse sentido, a curiosidade reflete o desejo de preencher informações que nos faltam para explicar coisas e situações sobre as quais temos interesse.
Então porque pensar em curiosidade para planejar o ano?
Porque ela mobiliza o aluno. Especificamente pensando na criança pequena, a curiosidade é um caminho diretamente conectado com o interesse e a disposição para aprender. A curiosidade também deixa pistas que podem ser percebidas pelos professores, mesmo ao observar bebês que ainda não falam.
Assim, sugerimos que o ano persiga a curiosidade. Que pensemos nas crianças como investigadoras e pequenas máquinas de pensar e fazer perguntas. Que nos planejemos para acompanhar essa busca natural pelo conhecimento, provocando e desafiando com materiais, espaços, ambientes e, especialmente, perguntas. Perguntas que medeiem e organizem o pensamento. Perguntas que provoquem o pensamento cada vez mais complexo. Perguntas que apontem vários caminhos. Perguntas que revelem que as crianças podem conquistar, perseguir e realizar suas inquietações. Perguntas que sinalizem que perguntar e pensar sobre respostas é bom!
Para isso, alguns aspectos são determinantes no desenvolvimento dessa abordagem pedagógica, ou, nas palavras da doutora em Educação e fundadora da Escola do Bairro, Gisela Wajskop, a Pedagogia da Investigação.
Por meio do temperamento curioso, a criança interessada se aproxima dos elementos da natureza e da cultura para aprender sobre os conhecimentos acumulados pela humanidade. Pela mediação do professor, as crianças vão desenvolvendo competências de fazer perguntas de maneira a profundar seus saberes, comparando-os, registrando, avaliando e desenvolvendo o pensamento científico e criativo.
Não tem nada de novo! Mas é um olhar para a natureza humana que se sente provocada pelo universo e que aprende a sair em busca de perguntas e respostas. Crianças nascem com essa essência e não podemos deixar que esse espírito adormeça.
Qual é o caminho do adulto ?
As perguntas preciosas!
Professores de crianças curiosas e investigativas fazem boas perguntas e sabem que, para que elas sejam respondidas, é preciso respeitar o tempo de cada pequeno e aguentar a ansiedade de responder por eles. Mas pegar os ganchos nas situações que surgem espontaneamente e saber fazer perguntas, também são aprendizagens para os professores. Nesse aspecto, todos aprendem com o exercício de se deixar intrigar pelos mistérios e levantar questionamentos.
Às vezes deixamos escapar oportunidades para instigar as crianças e fazer perguntas que provoquem a elaboração de hipóteses. Por exemplo, quando uma criança encontra uma pedra brilhosa no pátio, ela exclama, mostrando o achado para a professora: olha a pedra que eu achei! Ela brilha!. Em geral, respondemos: que bacana! Pode brincar com ela até entrarmos na sala. Na abordagem da investigação, a professora responderia: que linda! Por que será que ela brilha? Quando voltarmos para a sala, traga a pedra e vamos descobrir isso juntos?
Boas perguntas….
Boas perguntas são amplas e não direcionam as respostas. Elas possibilitam a elaboração do pensamento e dão espaço para respostas criativas. Boas perguntas devolvem os questionamentos, ajudando as crianças a organizarem o que já sabem sobre o assunto.
- O que você quer saber?
- Você pode falar mais sobre isso?
- Como será que isso acontece? Como você acha que pode descobrir?
- Conte para os seus amigos o que você quer descobrir!
- Alguém pode ajudar o amigo a descobrir?
- Como vocês podem ajuda-lo?
- Então vamos pesquisar! Como podemos começar?
- Alguém mais pode nos ajudar a descobrir? Quem?
Que tal aproveitar o final de ano para testar esta forma de provocar aprendizados? Elabore perguntas sobre assuntos e situações que surgem no dia a dia. Escute as perguntas das crianças e ajude-as a explicitar suas ideias, reformulando-as e tornando-as compreensíveis para o grupo. Abrace os pontos de vista diferentes e faça descobertas com a turma. Madalena Freire diz que para conhecer, temos que adentrar o terreno do conflito e do confronto, ou seja, há sempre um desafio, um problema a ser superado, iluminado pelo conhecimento.
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→ BIBLIOGRAFIA
George Loewenstein – artigo: The Psychology of Curiosity: A Review and Reinterpretation, Psychological Bulletin, July 1994
Susan Engel – artigos:
How Teachers Respond to Children’s Inquiry, American Educational Research Journal, March 2009, vol. 46
Open Pandora’s Box: Curiosity and Imagination in the Classroom. Child Development Institute, Sarah Lawrence College, Summer 2006.
Madalena Freire – Sobre os instrumentos metodológicos na concepção democrática de Educação, no prelo.
Ontario Institute for Studies in Education – Natural Curiosity: Building Children’s Understanding of the World through Environmental Inquiry, 2010
→ Leia mais sobre esse tema nas postagens:
Curiosidade: o combustível da aprendizagem
Uma escola que parece casa. Uma casa que parece escola
Preparar atividades: o desafio de planejar o imprevisível
- Planejamento 2016: direções e caminhos
- Planejamento da Educação Infantil 2015
- Planejamento da Educação Infantil: 10 reflexões para as creches
- Planejamento da Educação Infantil e as datas comemorativas
Amei as orientações contidas, quero receber sempre assim vamos inovando nossa prática pedagógica.
Olá, Loeci, obrigada pelo retorno. Para receber as notícias no seu e-mail é só escrever seu endereço eletrônico no espaço indicado: – Assine o blog por e-mail – que se encontra no lateral direita na página do blog. Se quiser, nos conte sobre seu trabalho, idade das crianças etc. Pode, também, enviar sugestões e dúvidas. Assim podemos melhorar o conteúdo que publicamos. Abraço.
Boa noite!
Obrigado por responder minhas dúvidas, mas eu estou adorando as inovações que estão sendo postados sobre a Educação Infantil. Aguardo mais novidades.
Grata Elda.
BOA TARDE!
OS ASSUNTOS SÃO BEM PERTIMENTES A ESTA FAIXA ETARIA. DESCOBRI MUITAS DICAS PARA O TRABALHO PEDAGOGICO.
GOSTARIA DE ORIENTAÇÕES COMO ELABORAR UM PLANEJAMENTO PARA CRECHE DE 4 A 4 ANOS DENTRO DAS BASES CURRICULARES NACIONAIS.
UM ABRAÇO!
Olá Elda Sueli,
obrigada pelo retorno. A Base Nacional Curricular (BNCC) ainda está em fase de elaboração, portanto, não se preocupe com o planejamento a partir das orientações da Base. O que vale para este início de ano, para a orientação do/a professor/a é a legislação de seu município.. Ano passado, em maio de 2016, publicamos postagem comentando sobre a segunda versão, dê uma olhada: “Segunda versão da Base Curricular (BNCC): pilares para pensar a prática” Estamos acompanhando de perto as contribuições de vários profissionais envolvidos e mobilizados nas discussões a esse respeito. Assim que o novo texto (será a 3ª ou versão final) for disponibilizado, avisaremos, está bem assim? Abraço.
Bom dia!
Agradeço pela orientação, e conto com vocês para uma educação prazerosa e inovadora nos dias de hoje.
Grata Elda.
Olá, Elda! Obrigada pelo retorno. Aguardamos suas sugestões e dúvidas. Compartilhe com a gente suas reflexões e aprendizagens. Abraço