12 dicas sobre Movimento e Aprendizagem a partir de Emmi Pikler

12 dicas sobre Movimento e Aprendizagem a partir de Emmi Pikler

Para a pediatra húngara Emmi Pikler, a conquista autônoma dos movimentos da criança está ligada ao desenvolvimento cognitivo. Um depende do outro: movimentos, relações, sentimentos e cognição, num amadurecimento harmônico da criança por inteiro.
Será que temos a dimensão do que isso significa?  

Anna Tardos e Myriam David, estudiosas da abordagem Pikler, consideram que o movimento enquanto participante da formação da imagem corporal, se constitui na base fundamental do indivíduo. Isso quer dizer que a atividade motora do bebê está diretamente ligada à construção da singularidade da criança e à imagem que ela faz de si mesma.

Paulo Fochi destaca que a forma como permitimos que as crianças atuem nos ambientes preparados por nós, adultos, implica na forma como estão construindo suas competências. Assim, o adulto precisa construir um ambiente positivo para que os bebês se desenvolvam.

12 dicas pikler (2)

As pesquisas de Pikler e os estudos de Fochi podem trazer aprendizados fundamentais para compreendermos como as crianças pequeninas se desenvolvem e aprendem, em especial aquelas que ainda não caminham. Inspirar-se e adequar os conhecimentos da abordagem de Pikler pode acrescer mais qualidade ao trabalho que fazemos com nossos bebês e crianças pequenas.

Tabela movimento 12 dicas pikler

Como preparar um ambiente positivo a partir da abordagem de Emmi Pikler?

Emmi Pikler1 – Lugar de bebê é no chão! Chão limpo, livre de perigos… mas chão! Sem plásticos acolchoados, emborrachados ou colchonetes. Só assim os movimentos dos bebês podem desfrutar da liberdade para se mover, de apoio para aprimorar as posturas e desenvolver o aprendizado de como cair sem se machucar.

2 – A princípio os bebês devem ficar deitados de barriga para cima, para exercitarem as viradas, arrastar e engatinhar. Com autonomia, os bebês passam a sentar, apoiar para ficar criança e panelade pé e, finalmente andar. Um ambiente rico provoca a curiosidade e o espírito pesquisador dos pequenos que vão solicitando o corpo para alcançar os objetos desejados. Quando o bebê se sente confortável na postura “sobram energias” para se concentrar nas experiências com objetos e na relação com o outro. Ao se preocupar com a manutenção de um equilíbrio não sustentado pelo amadurecimento físico e motor, a criança desperdiça foco, bom humor e disposição para aprender.

3 – Simplicidade e adequação nos materiais e brinquedos selecionados. Para a pediatra, a adequação dos objetos ofertados precisa obedecer à cronologia e ao interesse dos bebês. Com o passar do tempo, diversos materiais ficam disponíveis no ambiente frequentado pelas crianças que, a partir da investigação, vão alternando seus interesses. Alguns dos materiais da abordagem:

  • Emmi Pikler C→ Retalhos de pano de 15 x 15 cm, o primeiro!
  • → Chocalhos
  • → Objetos côncavos/convexos (bacias, potes, bolas de diversos tamanhos)
  • → Bacias de metal pelo formato, peso, qualidade do material e pela possibilidade de    pesquisar os reflexos
  • → Potinhos de encaixar e empilhar
  • → Nossa cultura inclui e valoriza experiências com a literatura e as linguagens da Arte, como música, dança e artes visuais. Assim, livros, materiais plásticos, instrumentos, objetos sonoros e um repertório musical deve fazer parte do cotidiano dos bebês.

4 – As roupas precisam favorecer movimentos e não atrapalhar! É muito comum que bebês não consigam se arrastar ou engatinhar porque estão com macacões largos nas pernas.

5 – O adulto precisa estar presente de corpo inteiro… de coração, para acompanhar, dar afeto, segurança e acolher as crianças, quando solicitado.

6 – O adulto pontua as conquistas e narra o que está acontecendo, despertando para a oralidade e aprimorando a comunicação. Porém, o adulto não deve anunciar os resultados esperados enquanto as crianças estão agindo. Essa intervenção estabelece objetivos que podem não ser os das crianças e inibe as suas ações. Dizia a filósofa Hannah Arendt: é com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo nascimento, no qual nos afirmamos singularmente.

7 – É um ambiente de calma e sutilezas, com gestos delicados, de adultos que observam e intervêm, e de crianças interessadas, que pesquisam a si próprias e o mundo. Nesse universo, não cabe dizer que estamos distraindo ou simplesmente ocupando os pequenos, porque eles estão de fato empenhados naquilo que fazem… numa seriedade brincante. Para o filósofo Merleau-Ponty, o mundo não é somente “pensado”, o mundo é aquele em que vivemos, com atuação, pensamento e sentimento.

8 – O adulto intervém diretamente quando existe disputa e quando o adulto percebe sinais fortes de frustração e cansaço.

9 – O espaço precisa, então:

  • → Ser grande o suficiente para acolher os gestos autônomos das crianças, porém sem ser tão grande que não garanta a sensação de acolhimento e segurança. No mobiliário de Pikler fazem parte cerquinhas para ajudar os educadores a delimitarem os espaços da pesquisa.
  • → Prever as interações estre as crianças e delas com os objetos, sem que uma atrapalhe a outra.
  • → Ser acessível sem apresentar perigos, com os riscos controlados. É importante que o acesso a espaços e materiais não exija constantes restrições por parte dos adultos, para não inibir as investidas espontâneas e corajosas dos bebês.

Emmi Pikler A

10 – A atividade autônoma das crianças é valorizada. Com isso, permite-se a liberdade total de movimentos, que partem da criança, que aprende com eles e a partir do que já sabe. Repete as ações para rever e confirmar o que já aprendeu.

11 – Os adultos se colocam diretamente presentes para favorecer a expressão, as brincadeiras, a exploração, a criação, os jogos simbólicos, espelhar-se e assumir riscos… tudo no ritmo ditado por cada pequeno! Porque é no tempo da criança que ela aprende. Se anteciparmos, acelerarmos ou interrompermos, os aprendizados não se constituem. Hoje, isso é fato cientificamente provado.

12 – Os aprendizados pela exploração passam por estágios que apontam mudanças no aprendizado dos bebês a partir do nascimento:

  1. Olhar ao redor
  2. Explorar as próprias mãos
  3. Alcançar os brinquedos que deseja
  4. Alcançar e pegar o objetos que selecionou
  5. As duas mãos participam juntas das atividades exploratórias
  6. Mover um objeto pela base
  7. Brincar com dois brinquedos ao mesmo tempo

♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦

Balão-Para-Saber-MaisPaulo S. FochiTese de mestrado “Mas os bebês fazem o quê no berçário, heim?” : documentando ações dele comunicação, autonomia e saber-fazer de crianças de 6 a 14 meses em contextos de vida cotiva (amamos: linda, consistente e acessível, como todos os textos do Paulo Fochi!)

Periódico The Signal – Newsletter of the World Association for Infant Mental Health – Vol. 18, No. 3-4. July – December 2010

Judit Falk – livro Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy, 2011. Editora Junqueira & Marin

Anna Tardos é psicologa infantil, filha de Emmi Pikler

Myriam David foi pediatra e psicanalista francesa, estudiosa da abordagem Pikler e lutadora pelo reconhecimento do sofrimento psíquico de crianças abandonadas.

Hannah Arendt foi uma filósofa política alemã de origem judaica, pensadora da liberdade, uma das mais influentes do século XX.

Maurice Merleau-Ponty, filosofo francês do século XX, que procurou estudar a consciencia humana e o conhecimento.

Para aprofundar o tema da aprendizagem e desenvolvimento de crianças pequenas e da abordagem de Emmi Pikler, leia as postagens:

10 comments

Boa noite, estava lendo o texto e verifiquei um equívoco no tamanho do paninho utilizado em Loczy como o primeiro brinquedo do bebê. Sou estudiosa da Abordagem Pikler e em todos os texto e aulas que tive até hoje as dimensões recomendadas são de um quadrado com lados entre 30 e 35 cm. Pode ter sido um erro de digitação, mas acho que vale a correção. pois essa informação pode colocar em risco os bebês. A medida sugerida por Pikler está dentro de um padrão seguro para os bebês. Att, Flavinha

Olá, Flá. Obrigada pelo comentário.
Mas, na verdade, as informações são variadas… Veja:
Pano Pikler
Esse é um retalho de 15cm x 15cm, muito simples. Nessa fase, os bebês estão desenvolvendo a visão, por isso o contraste de cor, fundo vermelho com bolinhas brancas, chamam muito sua atenção. Seu cérebro está buscando compreender a diferenciação de cores, a distância das coisas que enxergam. O tamanho pequeno do pano Pikler é para facilitar que os bebês consigam manipular e pegar com mais autonomia e, também, para evitar sufocamentos.
Você pode colocar o paninho próximo aos ombros do bebê deitado. Observe! O pano pode ajudar a despertar a curiosidade e favorecer o seu movimento.
https://playlab.com.br/bussola/manual-dos-pais/jogos-e-brinquedos/brinquedos-educativos-bebes/
Quando começamos nossas aproximações com a abordagem Pikler, dentre muitos aspectos, nos chamou a atenção a definição do “primeiro brinquedo ideal” para o bebê
“um pequeno pedaço de pano leve e de cor forte, de preferência com pequenos desenhos claros, vai proporcionar ao bebê uma fonte de brincadeiras e descobertas – medida de 35cm x 35cm é, segundo a abordagem Pikler, o primeiro brinquedo ideal do bebê” http://ccipprudente.blogspot.com/2018/02/qual-o-primeiro-brinquedo-ideal-para-o.html
E, se é quadrado, deve ter os lados de mesmo tamanho, não é mesmo? Abraço

Esse é o esquema motor que Emmi Pikler desenvolveu como parte da representação de sua pesquisa sobre o desenvolvimento da psicomotricidade infantil. Emmi Pikler relata sua pesquisa e formaliza os desenhos em seu livro: “Moverse en libertad”.

Oi!

Por favor, vcs sabem dizer qual é a fonte da imagem do esquema do desenvolvimento motor?

MUITO obrigada!
Abraços

Boa noite!

Gostaria de saber se vocês poderiam, por favor, informar-me o nome do autor deste artigo, pois procurei-o na página e não o encontrei.

Desde já, agradeço a atenção,

Lu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.