As professoras Fabiana Guimarães Santos e Sandra Ferrari, do CEI Nossa Turma, SP, planejaram sequências didáticas para desenvolver a IDENTIDADE com sua turma de 18 meses, ao longo do segundo semestre de 2014.
Após 6 meses com o grupo, os pequenos estavam adaptados à creche e à rotina da instituição. Exploradores, conheceram e se apropriaram dos espaços, das relações e dos materiais oferecidos em propostas de atividades sempre desafiadoras.
Em agosto as professoras perceberam o quanto esses pequenos cresceram! Muitos passaram a falar com desenvoltura, ampliando as possibilidades de se comunicar e contribuir; o equilíbrio de ficar de pé, caminhar e correr favoreceu pesquisas mais elaboradas; o interesse pelas narrativas ampliou a atenção e o prazer dos momentos de contação e leitura de livros.
A equipe suspirou de satisfação e notou: eles também estão cientes desse desenvolvimento! Numa proposta com fantasias, o espelho exacerbou as diferenças. As fantasias alteraram a visão de si e do outro.
Como engrandecer e afinar essa percepção?
Assim, planejaram uma série de propostas que tornaram perceptível para os pequenos um importante conhecimento sobre si, as conquistas, o outro, as diferenças, os limites e as relações.
Começaram com o espelho que, apesar de estar disponível na sala desde o início do ano, não teve um trabalho intencional por parte das professoras. A sala foi organizada com uma fileira de cadeirinhas trazidas do refeitório, para convidar à contemplação e interação lúdica com os reflexos de si e do outro.
Livros e histórias conduziram a conversas sobre as características de cada pequeno:
- Ninguém é de ninguém
- O patinho feio
- O que tem dentro da sua fralda
- O macaco danado
- Menina bonita do laço de fita
Fotos das famílias e das crianças se transformaram em painéis revisitados todos os dias. Esse interesse trouxe uma reprodução da obra O mestiço, de Cândido Portinari (1934), para a roda de conversa.
A figura do lavrador mestiço de braços cruzados, com mãos e cabeça agigantadas, provocou e despertou a observação e a imitação dos gestos. Foram muitos momentos de contemplação, conversa e depoimentos incríveis. A imagem permaneceu na sala até o final do semestre porque se transformou numa referência interessante para as crianças.
Que hábitos essa turma trazia de casa?
As professoras pensaram nos hábitos de cuidado e higiene para conhecer mais sobre cada criança e trabalhar o aspecto do cuidado de si e do outro. Banhos de bonecas, ao sol, numa deliciosa área externa, foram cuidadosamente organizados. A alimentação e as rotinas da casa fizeram parte do faz de conta de casinha.
Assim, surgiram questionamentos: como eu sou? Como é o meu amigo?
Contornaram então o corpo de cada pequeno em grandes folhas de papel, que foram pintadas pelas crianças, recortadas pelas professoras e complementadas com colagem de sucatas, lãs, botões e roupas das crianças, solicitadas aos pais. Esses bonecos representantes da turma foram parar nas paredes, juntamente com fotografias das famílias. Os pais se deleitaram ao apreciar os “retratos” das crianças e pediam para que os bonecos fossem vestidos com as roupas prediletas que foram sendo enviadas à creche!
A pesquisa não parou por ai! O que mais posso saber sobre mim?
Alguns números – ainda abstratos para a faixa etária, porém significativos ao apontar diferenças – puderam ampliar a noção sobre as características individuais. As professoras levaram uma balança, pesaram cada criança e deixaram o instrumento disponível por vários dias. Os pequenos ficaram abismados com o movimento do ponteiro. A intensidade desse movimento chamou a atenção das crianças que se alternavam em subir na balança e se mexer sobre ela, enquanto um grupo de curiosos observava os números girarem.
Quem é grande e quem é pequeno?
Compararam os tamanhos e mediram cada criança transformando esse indicador em pedaços de barbante, fita adesiva colorida e painéis disponíveis para a pesquisa e as brincadeiras que se sucederam por muitos dias. Os gestos para medir as crianças foram imitados pelos pequenos e apropriados como brincadeira em dupla.
Os pais participaram das propostas com interesse, conhecendo o projeto e seus desdobramentos nas reuniões pedagógicas, nas conversas de entrada e saída e nas comunicações da caderneta. A sequência didática envolveu a equipe pedagógica, as crianças, a equipe de apoio e as famílias num processo de descobertas de si, do outro e da potência de se trabalhar a partir da leitura e escuta dos conteúdos extraordinários que as crianças podem trazer.
As lições que ficam são muitas
- As colocações das crianças em forma de gestos, palavras e foco de atenção conduzem a projetos que fluem criativamente e processam muitos desenvolvimentos nas crianças
- O registro habitual, em foto e relatos escritos, captados nos acontecimentos das atividades ou mesmo do que chama a atenção nos momentos da rotina, possibilitam a percepção dos interesses e o planejamento de propostas desafiadoras adequadas ao grupo
- Professores inquietos e pesquisadores afinam e qualificam sua prática e beneficiam suas crianças que apresentam resultados admiráveis no desenvolvimento e amadurecimento das capacidades
- Diretores, coordenadores e equipe de apoio parceiros favorecem as práticas pedagógicas e podem viabilizar trocas entre os professores ampliando, assim, o repertório e os conhecimentos da equipe como um todo
- Uma comunicação sensível e ativa com as famílias as inclui no processo e ampliam os resultados do trabalho
- A paixão por cada olhar de interesse, cada expressão de descoberta, cada sorriso e um entendimento dos ritmos da infância, fazem do professor um mediador competente que cresce junto com suas crianças!
⇒Falamos sobre identidade e singularidade nas postagens
Identidade: a jornada do EU
Criança: no singular e no coletivo
⇒Agradecemos às professoras Fabiana e Sandra, à equipe pedagógica e à Associação Nossa Turma por compartilhar esse relato.
Que trabalho maravilhoso! Parabéns!
Edna,
Obrigada pelo retorno!
Nos conte sua prática.
Grande abraço