Na primeira parte desta postagem (Reuniões, Paradas Pedagógicas, Encontros: tem jeito de ser agradável e produtivo? – PARTE 1) abordamos o levantamento do conteúdo a ser levado para as reuniões e encontros. Agora a proposta é pensar sobre como fazer estes encontros acontecerem: como caber tanto assunto nas horas disponíveis? Como dar conta da organização? Como valorizar e incentivar a participação e o engajamento de todos?
Nossa experiência como formadoras, que mergulham na realização de workshops formativos, pode contribuir com algumas dicas.
Pauta e tempo estão conectados. Uma boa pauta demanda perseverança na elaboração de propostas bem temperadas!
Com o levantamento de assuntos e necessidades em mãos, é hora de objetivar e acolher as prioridades de toda a equipe para elaborar a pauta do dia. Ao distribuir os assuntos, deve-se prever quanto tempo cada tópico vai demandar. Um dia tão repleto de temas importantes precisa começar com uma previsão próxima à realidade para que tudo caiba no tempo disponível. Mas isso não impede de dar tempero à condução desse tempo com o que for surgindo de relevante. O condutor pode solicitar a ajuda de algum participante para controlar os tempos da pauta, dando toques durante a reunião.
O tempero fica por conta da sequência dos tópicos a serem desenvolvidos. Para manter um clima interessado e agradável, é bom intercalar os diferentes momentos, isto é, tópicos com discussões muito polêmicas podem ser precedidos de propostas mais leves e práticas, como preparar materiais ou trabalhar sobre o planejamento de um evento, por exemplo. Ao dosar o humor dos participantes é mais provável que se conduza a pauta num ambiente propício e acolhedor.
Um quebra-gelo ou aquecimento é vital para colocar os participantes em sintonia, descontraídos e na atmosfera do encontro. Realizar um desafio lúdico e inspirador possibilita um estado de abertura e colaboração entre os participantes para os trabalhos do dia, aumentando o desempenho da equipe e o rendimento da reunião.
Pode ser uma ciranda, uma brincadeira que provoque conteúdos emocionais mais subjetivos ou um filme inspirador. Segundo a educadora e exibidora Patricia Durães, em entrevista para o Tempo de Creche, o filme lança o espectador dentro de outras realidades e o faz retornar modificado, com um novo olhar para a sua realidade. A partir daí, o estado poético e espiritual do encontro fica transformado e as propostas encontrarão a equipe mais disposta e inspirada. Existem muitos filmes curtos com temática de educação disponíveis no Youtube e existe a possibilidade de se adquirir cópias de filmes e documentários de cinema. Veja nossa dica na postagem Sementes do Nosso Quintal – um filme lindo e um ótimo recurso para reuniões e paradas pedagógicas
Após o aquecimento pode-se fechar a experiência perguntando aos participantes como se sentiram durante a atividade ou preparando um roteiro de olhar para acompanhar o filme e fazer uma pequena discussão no final.
Desenvolvendo o encontro: formato participativo
A constituição de um grupo movido por objetivos ou necessidades semelhantes é uma dinâmica que gera estudos. Realizar um encontro de pessoas não é uma tarefa simples, mas pode produzir resultados importantes e, sem dúvida, impossíveis de acontecerem a partir de uma só pessoa.
Pichon-Rivière, um psiquiatra suíço, naturalizado argentino, percebeu a importância e a peculiaridade da formação de processos de grupo – os grupos operativos. Reunidas em torno de objetivos comuns, as pessoas deixam de ser um amontoado de indivíduos para assumirem-se como participantes. A constância das reuniões vai construindo a personalidade do grupo que, invariavelmente é composta por:
- um porta-voz que colabora com o encontro, apontando o que está oculto
- um bode-expiatório que surge ao apontar algo que não tem a aceitação do grupo
- um líder de mudança que contribui com o andamento ao encaminhar o que foi colocado pelo porta- voz.
- E, além desses papeis, o tímido, o tagarela, o afobado, o sereno, o desconfiado, o debochado, o do contra e tantos outros!
O importante é, como coloca Madalena Freire, pensar que um grupo se constrói enfrentando o medo do novo, do diferente, e também no exercício dos próprios encontros. Um grupo se constrói, construindo o vínculo com a autoridade entre iguais, na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade e do prazer.
Para que a equipe se sinta corresponsável pelo evento e seus resultados é interessante deixar claro que ele foi planejado a partir da contribuição de todos e, igualmente, acontecerá com o empenho de cada participação. Por isso, esclarecer logo de inicio os objetivos do encontro e a pauta já prepara e engaja. Ouvir e acolher as participações também contribui para bons resultados, assim, um formato participativo de encontro deve prever tempo de escuta.
Um recurso que organiza as propostas, situa os participantes e ajuda na condução é a montagem de um Power Point ou de cartazes com os principais tópicos de cada assunto.
Os assuntos complexos podem ser trabalhados com discussões em pequenos grupos que apresentarão suas conclusões numa plenária. Desse modo, parte das discussões já terá sido pensada quando o assunto chegar no grande grupo.
Para trabalhar questões pedagógicas com abordagem mais teórica, pode-se selecionar e distribuir entre grupos, pequenos trechos de textos para debate. Outro recurso é entregar textos uma semana antes do encontro para que a equipe leia e já venha preparada.
O coordenador deve ter clareza de seu papel de facilitador. Ele facilita o andamento, as conversas e os acordos. Sua função deve proporcionar FACILIDADE ao andamento do encontro.
Nas nossas formações sempre reservamos ao menos 15 minutos para o encerramento. Ele é fundamental para que o coordenador feche o dia com incentivo, reforçando os aspectos positivos do encontro. Algumas sugestões para inspirar…
Foi um dia longo e produtivo! Estamos levando muitas questões, caminhos e inspirações para experimentar! Então valeu! Ou Foi um dia de bons trabalhos coletivos e muito pensar. Podemos sair hoje levando essa experiência de trocas com os colegas e possibilidades para aprofundar e testar.
Outro aspecto relevante do momento da finalização é avaliar o encontro. Essa avaliação pode ser compartilhada por todos por meio de uma proposta rápida e subjetiva. Uma das estratégias que utilizamos é pedir para cada participante dizer UMA PALAVRA que expresse como sai do encontro. O coordenador ou o ajudante devem registrar os depoimentos para garantir uma memória das colocações.
Uma avaliação escrita e anônima também é fundamental para refletir e promover adequações nos próximos eventos. Fazemos avaliações que não levem mais de 5 minutos para serem respondidas. Sugerimos um formato de avaliação escrita:
- Sobre o encontro de hoje, por favor, responda:
- Esse encontro serviu para …
- Causou estranheza ….
- Causou surpresa …
- Aprendi hoje …
- Nesse encontro faltou …
Finalmente, deixar o gosto de que foi legal participar é o melhor sabor que um evento pode ter! Assim, tenha perseverança ao planejar e abertura ao conduzir.
“Há quem tenha olhos, quase sem ter olhar. E é possível ter os olhos apagados, e ter olhar!
Há olhares que se fecham e olhares que deixam entrar
Há olhares rasos e olhares em que se pode mergulhar, como em águas profundas …
Há olhares inexpressivos que nada dizem, porque nada têm a dizer.
E olhares com mensagens riquíssimas e que se deixam captar desde que haja antenas de amor.”
Dom Helder Câmara, Um olhar sobre a cidade
Enrique Pichon–Rivière nasceu em Genebra em 25 de junho de 1907 e faleceu em Buenos Aires em 16 de julho de 1977. Foi médico especializado em psiquiatria.
Madalena Freire é educadora, pesquisadora e filha de Paulo Freire, também seguidora, discípula de seus ensinamentos e protetora de seu legado.
Leia mais sobre este assunto
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