No inicio do ano, geralmente as instituições de educação fazem uma revisão em seus materiais e a biblioteca é parte do processo. É um bom momento para reunir todos os livros, selecionar aqueles que continuam em bom estado, dar uma ajeitada nos que ainda têm salvação e eliminar os que não tem mais jeito. Além de organizar a biblioteca com esse foco, é possível agrupar os livros por tipo, tema, complexidade, funcionalidade e tantos outros critérios. Para explorar esse tema e propor orientações, o Tempo de Creche reuniu depoimentos da autora Marina Colasanti e das editoras Suzana Sanson e Julia Schwarcz, de duas das mais importantes editoras de livros infantis do país.
A escritora Marina Colasanti, italiana de nascimento, mas no Brasil desde os dez anos de idade, recebeu mais um reconhecimento pela sua premiada obra, o importante Prêmio Jabuti de melhor livro de 2014, com o infantil “Breve História de um Pequeno Amor”.
Esse é o sétimo Jabuti da autora, mas, nas palavras dela, em entrevista à Folhinha (3/01/2015), “não esperava. É raro que um livro para crianças seja considerado o melhor do ano”.
Além da valorização da literatura infantil, Marina destacou a importância da qualidade da produção literária destinada a esse público. Segundo ela, “a produção de livros sofre de duas doenças. Uma é o descrédito da inteligência infantil por parte dos adultos. Eles acreditam que qualquer coisa pode ser publicada e que a criança não vai perceber que o livro é ruim. O outro problema é que a literatura infantil tem um pé amarrado na educação, como se ela servisse para carregar conhecimentos, princípios morais, como uma cápsula que tivesse outra coisa dentro. E isso envenena a literatura. As grandes obras são grandes porque escaparam disso. Por exemplo, o [Lewis] Carroll, que era um educador, não colocou nada de educativo na “Alice”. Fez um baita sucesso. Toda a produção do [Carlo] Collodi é extremamente educativa, menos uma: Pinóquio, que é uma obra genial. Esse envenenamento pela educação é um problema não só do Brasil. A literatura é formadora e ensina por si, e não por ensinamentos embutidos.”
Suzana Sanson, da editora Brinque-Book, complementa a reflexão e orienta diretores, coordenadores e professores da creche a pensarem na escolha de livros interativos e de literatura:
Livros interativos – permitem que a criança interaja sem a necessidade de intervenção de um adulto. Neste caso a primeira preocupação deve ser com o formato, para que a criança possa manuseá-lo sem riscos de acidente. Dê preferência a livros com páginas grossas e bordas arredondadas, livros de banho, de pano, com abas, com som, com textura, com movimento. Títulos assim ajudam a estimular a coordenação motora e os sentidos das crianças.
Livros de literatura – é importante ter um acervo diversificado
- contos de fadas
- animais
- bruxas
- monstros …
- com ilustrações atrativas
- níveis de texto diferentes para atender diversas faixas etárias
- com temas que retratem o cotidiano, agreguem valores e que aproximem a criança do livro, para que essa atividade se torne prazerosa.
Julia Schwarcz, da editora Companhia das Letrinhas, acredita que os educadores devem seguir alguns critérios para adquirir os livros da creche, dividindo essa escolha em dois passos:
1o Passo – partir de uma boa análise do conteúdo dos livros, que devem, claro, ter texto e ilustrações de qualidade, e também do apuro gráfico.
- Os livros devem estar bem impressos, com as imagens nítidas (muitas vezes vemos livros com problemas de impressão ou com pouco cuidado com a qualidade das imagens)
- Cuidado com o acabamento: não podem se desfazer facilmente nas mãos das crianças, não podem ter grampos soltos e nem peças e materiais que podem ser perigosos para a saúde dos pequenos.
2o Passo – apostar na bibliodiversidade, para que essa escolha sirva como uma oportunidade para se introduzir as crianças na amplitude que o mundo livresco oferece.
Diferentes formatos:
- dobradura
- capa dura e flexivel
- de banho
- livro animado
- uma mescla de autores nacionais e estrangeiros
- ilustradores com traços bem diversos
Diferentes gêneros textuais:
- poesia
- conto de fadas
- reconto
- fábula
- crônica
- carta
- livro imagem
- quadrinho
- livro informativo, etc.
Com essa orientação em mãos, a aquisição dos novos livros pode ficar organizada e contribuir com a construção de uma biblioteca adequada para a instituição.
Organização do espaço dos livros
Os próximos passos são pensar na organização dos espaços e dos tempos para trabalhar a linguagem literária. Algumas propostas têm sido experimentadas em diversas instituições com resultados interessantes.
- Organização de cantos de leitura nas salas
- Organização de cantos de leitura em espaços de chegada e de saída das crianças
- Unificar a biblioteca da instituição e rodiziar os livros nas salas mensalmente, por exemplo.
- Disponibilizar uma estante na área de entrada, com alguns títulos para serem emprestados para os pais que se interessarem por levarem e lerem para seus filhos. (nesse caso, é importante fazer ficha para cada livro e um caderno de registro para controlar as retiradas e devoluções e preparar comunicados e uma pauta para ser trabalhada na reunião de pais)
- Planejar atividades de contação de histórias e momentos de acesso livre aos livros na rotina da creche
- Separar um tempinho para você, educador, ler os livrinhos com gosto! Para você mesmo! Para curtir, viajar na leitura, se divertir, se emocionar e aproveitar. A biblioteca deve ser de todos para que a literatura seja natural e pertencente à instituição.
Sugestões de livros
As duas editoras contribuíram com uma lista de títulos que indicam num primeiro momento de reestruturação:
Livros Interativos
Literatura
Literatura
Revista Crescer
O site da Revista Crescer também publicou uma lista com sua escolha dos 30 melhores livros infantis de 2014, vale a pena conferir.
Marina Colasanti – sua produção marca-se pela diversidade: ficção infantil e juvenil, textos e ensaios jornalísticos, contos e minicontos para adultos, crônica do cotidiano, poesia e, mais recentemente, memória. Sua origem europeia e suas vivências brasileiras mesclam-se à perfeição na sua obra, que combina valores culturais do passado com preocupações da vida contemporânea.
Editora Brinque-Book – brincando de ler ou lendo ao brincar, a criança recria histórias, inventa brincadeiras, interage com o mundo que a cerca e se desenvolve. Afinal, todo desenvolvimento, seja intelectual, social ou emocional passa pelas páginas companheiras de um livro. Suzana Sanson, fundou em 1991 a Brinque-Book com o propósito de transformar a experiência da leitura em uma divertida brincadeira. Com mais de 400 títulos publicados, a editora foi laureada na edição de 2011 do Prêmio Jabuti. O livro Obax, de André Neves, se consagrou o melhor livro infantil do ano e Gildo, de Silvana Rando, venceu como melhor ilustração.
Companhia das Letrinhas – uma biblioteca se faz com leituras possíveis. Todo livro que se compra é um projeto de leitura. Diante da página impressa, o leitor está sozinho com sua imaginação, o único lugar onde cada um pode viver o que deseja. A editora Companhia das Letras, fundada em 1986, criou em 1992 o selo Companhia das Letrinhas com a proposta de editar livros afinados com a sensibilidade infantil, capazes de mobilizar nas crianças sua capacidade cognitiva, seus desejos de auto expressão, sua necessidade de organizar o mundo. Livros que sejam para elas uma experiência cada vez mais perceptível de independência.
gostaria muito de conhecer, estes mascotes..
Acho muito importante a criança desde o maternal começar a ter contato com os livros adequados á sua faixa etária para que ela aprenda a gostar dos livros e se tornar um bom leitor tendo em vista, que é lendo que se adquire conhecimentos.
Creio que a leitura na vida da criança deve ser diária. Como professora busco usar o primeiro momento do dia após a rotina da entrada, e dar à elas o prazer de t, algo quer a leitura de bons livros,isso as ajudarão a criar o hábito de ler, algo fundamental na vida não apenas escolar. Trabalho com crianças de 2 à 3 anos e diariamente trago algo novo, o momento da leitura é de prazer e novidade, a magia deve acontecer antes da leitura, preparar o ambiente é fundamental.Posso dizer que é um dos momentos onde o grupo está focado, parado e quieto diante desse momento algo quase impossível nessa faixa etária, pois eles requerem muito movimento.Buscar uma leitura interativa é o ideal para elas ou buscar interagir antes da leitura, creio que cada um deve encontrar seu caminho, o meu tem dado certo há alguns anos. Tenho um mascote, na verdade dois, um poeta pescador (boneco) e seu peixe ( tipo envelope/ duas faces) onde dentro está o livro pescado, e outro uma sapa que possui uma lagoa mágica de onde saem os livros.A expectativa e a espera fazem o clímax para esse momento tão prazeroso. Amar ler e transmitir esse amor ao ler é a diferença para conquistar bons ouvintes e futuros leitores!!
Cris,
Muito interessante seu olhar e seu trabalho. Se puder, mande para a gente fotos dos mascotes e dos momentos de letramento que você criou.
Um grande abraço!