É possível olhar outro ser humano com olhos neutros?
Acho que não! Percebemos o mundo a partir do que somos e das experiências que acumulamos na jornada da nossa vida.
Lá no início do ano, quando entramos em contato com as crianças que vão ser “nossas”, é com um olhar subjetivo que encontramos outras tantas subjetividades concentradas em corpos pequeninos.
Estar consciente de que nosso olhar nunca é neutro, é ponto de partida para pensar sobre a forma como vemos as crianças e como desenhamos suas características em nossas cabeças. É esse desenho, ou conceito, que pauta as relações com os pequenos.
Mas outro aspecto da relação pontua nossas ações, emoções e, consequentemente, as atividades que planejamos para as crianças:
Será que estamos propondo conteúdos pertinentes àquilo que as crianças são ou compatíveis com a expectativa do que elas virão a ser?
Estamos ouvindo o que as crianças dizem sobre si mesmas?
Estamos considerando, em nossos planejamento, as crianças como são hoje?
A palavra considerar faz refletir: com = junto + siderar = sideral, universo.
Assim, estamos trazendo crianças reais para o nosso universo?
Crianças irrequietas, tímidas, ousadas, investigativas, abruptas, calmas, pensativas, contemplativas, quietas, tagarelas. É comum recebermos mensagens de professores se queixando de crianças assim ou assado e grupos “difíceis” de lidar.
Especialmente na faixa etária da educação infantil, é mais provável pensar que o professor se relaciona a partir das expectativas subjetivas sobre um ideal de criança, e desenvolve com elas um trabalho que se distancia da realidade, entrando em colisão com subjetividades desconsideradas (des=negação da consideração).
Se a turma é energética, impetuosa fique a maior parte do tempo fora da sala! Desafie o corpo, gaste boas energias com as crianças e, depois de ter os corpos satisfeitos, faça roda, conte histórias e converse.
Se a turma é curiosa, cutuca, abre, remexe e fuça, ofereça desafios para pesquisar objetos e transformações.
Se o grupo gosta de meleca, explorar texturas, sentir os materiais com e no corpo, planeje e ofereça frequentemente propostas de artes visuais e plásticas com diferentes tintas, argila, massas, farinhas, entre outros materiais e prepare um ambiente onde os pequenos terão liberdade para explorar.
Nem todos estão com desejo ou disposição para participar da atividade?
Que tal organizar pequenas propostas paralelas para contemplar outros interesses? Caixas com livros, um jogo de montar, um cantinho pra faz de conta considera (!) singularidades.
Experiências são a fonte da aprendizagem, do desenvolvimento e o alicerce da construção da identidade. Experimentações verdadeiras, sem objetivos fechados e que favoreçam a expressão de cada indivíduo, são a matéria prima da educação que contempla crianças reais!
Gostei muito do texto pois, nós enquanto professores de educação infantil, necessitamos de leituras como essa que propõem um repensar da nossa prática educativa. Pena que nem todos e /ou todas que atuam na área se interessam ou tem acesso. Fica a sugestão para as chamadas formações continuadas das unidades de educação infantil.
Rita,
Obrigada pelo retorno e parabéns pelo posicionamento.
Abraço!
Muito ponderado os pontos levantados no texto! Contudo, fico em dúvida se dá para fazer este ideal com 20-30 crianças especialmente em Escolas Públicas. Saliento que minha experiência é com os do ensino fundamental/médio e graduação/pós. Vejo que somos produtos da evolução sócio-biológica!
TENHO ESSA MESMA DÚVIDA:
dá para fazer este ideal com 20-30 crianças especialmente em Escolas Públicas????
Ótimo texto para refletir sobre nossa postura de educadores. Levar em conta a subjetividade, a particularidade de cada criança, trazendo-a para fazer parte de um grupo maior, é fundamental para seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Parabéns a toda equipe Tempo de Creche.