A vinda da artista (e educadora, apesar de ela própria não se descrever assim!) Anna Marie Holm para São Paulo, marca a primeira celebração de aniversário do Ateliê Carambola, a escola de Educação Infantil da educadora Josiane Del Corso.
Nós construímos espaço para a brincadeira, para a poesia. Aerodesenhos
Num encontro no MAM – Museu de Arte Moderna, São Paulo, a arte-educadora dinamarquesa começou sua conversa com o público presente já anunciando que não queria perguntas, mas diálogos! E assim Tempo de Creche acompanhou sua conversa sobre seu diálogo com os materiais, os lugares e as crianças dinamarquesas com as quais trabalha.
Anna Marie desenvolve atividades em creches com crianças pequenas. E hoje ela prefere e valoriza os ambientes externos. Ela diz com estusiasmo: vamos sair das salas! No sol, na chuva, no frio e na neve. Porque acredita que a natureza faça parte da infância e as crianças, quando envolvidas nas atividades, podem desenvolver a brincadeira criativa dando conta de se protegerem: é natural!
Outro adjetivo que pontua o trabalho da artista e educadora é a simplicidade. Ela questionou o público:
- Quanto podemos ousar ao trabalhar com as crianças? A questão é não ter expectativas sobre o produto final, mas sim sobre o processo.
- Quanto eu tenho que organizar para as crianças? (quanto material e o quanto de estrutura) – uma ideia simples pode conter muitas coisas!
As crianças elaboram a sua própria organização e criação. Quando propomos uma atividade e apresentamos os materiais é importante que essas ações derivem de um planejamento. Mas ele deve ser aberto. Porque é na interação com as crianças, que são as verdadeiras artistas propositoras, que o processo vai acontecer.
Anna Marie apresentou muitos exemplos destes desdobramentos para reforçar a ideia.
Numa das proposta apresentadas pela artista a ideia era fazer desenhos com os pequenos e enterrá-los no chão de terra. Depois de algum tempo, desenterrariam e veriam o que o tempo e a natureza faria com a produção. Na hora de fazer os buracos … foi tão interessante! Escavar a terra, entrar nos buracos, perceber os morros, tampar, colocar coisas dentro, ver a alteração do espaço … essa interferência artística tomou outros rumos propostos pelas crianças. A ideia veio delas. Esse momento era delas e não da Anne Marie como executora da experiência artística. Então ela permitiu.
Em outra situação, a proposta era pintar grandes tecidos que já não serviam mais. Numa mureta próxima, dois pequenos descobriram que podiam desenhar numa camada da superfície de areia . Disse Anna Marie: às vezes temos que olhar para trás e ver o que está acontecendo. A descoberta dos dois desenhistas de areia era muito boa! E era uma experimentação artística também: temos que considerar!
Aliás, adoramos esta palavra: CON-SIDERAR. “SIDERAR”, vem de sideral, de universo. Considerar é, então, trazer para o seu universo, abraçar, acolher.
Para considerar as crianças temos que acolher e valorizar suas ideias, mas o educador, nas palavras de Anna Marie, vem com a paixão! Por isso, a interferência da Josiane foi sábia ao definir o modo da artista e educadora desenvolver seus projetos: temos que ter um pé seguro no planejamento, mas um pé solto para acompanhar as crianças.
O evento em São Paulo pontuou o lançamento do livro Eco-arte com crianças, com coordenação da edição em português da Josiane Del Corso. Neste trabalho Anne Marie desperta para o aspecto sustentável da Arte e da preservação do planeta. A linda edição brasileira traz conteúdos e dicas preciosas de vivências artísticas para os pequenos. Ao apresentar o livro, a autora nos fez refletir:
O que é natureza?
Nessa reflexão, apresentou seus dogmas para um trabalho sustentável com a infância:
Utilizar materiais usados: reciclar, reutilizar: o descartado é renovado e utilizado novamente
Sair da sala: quando possível, trabalhar ao ar livre, utilizando a energia da natureza. Não é viável na instituição? Que tal buscar no entorno? O vento, o sol, a chuva como ferramentas no processo criativo.
Evitar materiais cujo processo produtivo não seja sustentável e cause danos aos ambiente e às pessoas. Dar preferência a materiais sem componentes químicos agressivos.
Buscar os “não lugares” nos locais onde trabalhamos com as crianças: o que está ao nosso redor? O que ainda não exploramos? As muitas possibilidades do lugar, as relações físicas e sensoriais incluídas na interação entre as crianças, os adultos e aquilo que trouxemos conosco.
Nunca destruir os locais! Ao deixar um local onde se desenvolveu uma atividade, sair sem deixar marcas e rastros de destruição: consciência entre o que é material e os que são lixo.
Permitir a brincadeira. A experimentação das crianças é a prioridade: a pesquisa artística
Para Anna Marie, a arte é uma ferramenta de pesquisa. É simples como distribuir sacolinhas para as crianças, sair numa missão de exploração e, na volta, perguntar:
- O que você tem na sua sacolinha?
- O que você encontrou?
É esse olhar para o essencial, com generosidade, que reverbera nos pequenos. As vivências propostas por Anne Marie fazem aflorar sensações, percepções e interações: a poesia da infância.
Anna Marie Holm nasceu numa pequena cidade da Dinamarca, em 1951. É artista visual e arte-educadora.
No Brasil ela tem dois livros publicados disponíveis:
- Eco-arte com crianças, da AV FORM, edição Ateliê Carambola Escola de Educação Infantil
- Baby-art – Os primeiros passos com a arte, da AV FORM/MAM SP
Falamos sobre Anne Marie Holm e Arte na postagem Afinal, o que é Arte na Educação Infantil?
Já tivemos a oportunidade de conversar com Josiane Del Corso… Palavra de … Josiane Del Corso: o fazer das crianças e as múltiplas linguagens
Para aprofundar o tema: Desenho: espelho do desenvolvimento infantil
Ótimo trabalho!
Parabéns pelo texto claro e sugestivo. Vocês sabem me dizer onde posso adquirir o livro: Eco-arte com crianças, da AV FORM, edição Ateliê Carambola Escola de Educação Infantil? Obrigada.
Renata,
Tente um contato com a Escola Ateliê Carambola: [email protected]
Um abraço,
Maravilhoso o trabalho dela. Apliquei várias técnicas que ela apresenta no livro Baby-Art com minha turma de berçário no ano passado e saíram verdadeiras obras-primas sem falar do crescimento artístico que as crianças apresentaram até o final do ano. Só tenho que agradecer pela oportunidade de conhecer o trabalho dela e ter oportunidade de aplicar as técnicas.