Quer conhecer três projetos que valorizam o protagonismo infantil?
Confira os depoimentos de professoras sobre práticas de projetos que percorreram o ano de 2015 na Escola Primeira, São Paulo.
No final de novembro visitamos a V Mostra Cultural da Primeira: Lá…tão longe, tão perto! organizada pela equipe pedagógica para dar visibilidade às profundas aprendizagens das crianças ao longo do ano. A mostra apresentou uma síntese reveladora daquilo que foi mais significativo para as crianças e, ao mesmo tempo, proporcionou experiências estéticas com os registros e produções selecionadas.
Veja a postagem Palavra de… Bia Nogueira: atelierista para conhecer mais sobre essa mostra da Escola Primeira.
1- Da minha janela eu vejo o mundo
Faixa etária: 18 a 24 meses
Professora responsável: Talita Pereira de Freitas
Auxiliar: Arline Midori Zamparo
Atelierista: Bia Nogueira
Este ano o trabalho da professora Talita com sua turma começou diferentemente dos anos anteriores. Suas crianças só queriam ficar dentro da sala. Segundo a Talita, geralmente os pequenos querem ir ao parque e correr, mas estes não. Com isso, começou a ideia de trabalhar o acolhimento se abrigando em ninhos, que, mais tarde, evoluiu para a construção das caixas, algumas delas expostas na mostra.
Para não deixar a pesquisa na “caixa pela caixa”, as crianças e a professora começaram a explorá-la com os sentidos. Tudo partiu de uma das crianças que degustava um alimento. O projeto começou a caminhar pelas várias formas de exploração dos sentidos: sons, gostos, cores, cheiros e sensações do tato. Para ampliar a pesquisa e não deixar as crianças só experimentando o interior das caixas, surgiu a proposta de introduzir transparências. Assim, montaram caixas com uma estrutura de ripas de madeira e plásticos transparentes como possibilidade das crianças verem o mundo pelas janelas e pesquisarem o que existe além da sala. Passaram então a pintar os plásticos e experimentar as cores e os espaços transparentes entre as pinceladas. Surgiu então o nome do projeto: Da minha janela vejo tudo, fazendo alusão à ideia do abrigo das crianças que, aos poucos foram expandindo seus horizontes, pintando as caixas, estimulando os sentidos e percebendo tudo o que acontecia do lado de fora. (Relato baseado no depoimento de Talita Pereira de Freitas)
2 – Projeto Esqueleto
Faixa etária: 3 a 4 anos
Professora responsável: Mariana Roni Cavalheiro
Auxiliar: Claudia Alessandra Gonzalez Molina
Atelierista: Bia Nogueira
O projeto começou com a gravidez, porque, naquela altura, muitas crianças tinham irmãos e irmãs nascendo. Surgiram diversas brincadeiras de gravidez e até os meninos brincavam de estar grávidos, colocando uma bola na barriga e cuidando de nenês.
As professoram se perguntavam: onde vai parar este projeto?
Então as crianças começaram a indagar como nascem os bebês. Entraram na pesquisa dos cuidados que os bebês precisam: quando pequenos, tomam mamadeira e, quando crescem, comem papinha. Assim, o interesse da pesquisa migrou para a culinária do nenê e a alimentação durante o crescimento. Nesse ponto, as crianças começaram a se perceber e essa discussão é que tornou o projeto mais interessante: eu já sou grande, eu não como mais papinha, eu já consigo correr. As hipóteses levantadas foram ficando mais direcionadas: eu consigo correr porque eu já tenho um osso muito duro na perna. Esse interesse levou ao esqueleto.
As descobertas diárias progrediram: que osso eu tenho na perna? Que osso tenho no corpo? Que osso tenho aqui no pé? Assim, definitivamente passaram a investigar ossos. Para ampliar, as professoras levamos para o grupo figuras de obras de arte, vídeos e histórias que falam do corpo, humano de livros próprios para crianças. Desse modo, a pesquisa tomou o caminho do esqueleto.
Já em março começaram a olhar para os interesses das crianças, levantando o que traziam. É dessa forma que o projeto nasce, segundo Mariana. Observaram que o que é significativo para uma criança pode não ser significativo para todas. Foram, então, puxando e ampliando o interesse da maioria. Propuseram vivências sem a interferência dos adultos, em ambientes preparados, e ficaram observando o que as crianças traziam. Partindo dessa observação, fizeram novas propostas, um pouco mais dirigidas, continuando a observação daquilo que os pequenos propunham. Muitas pesquisas acontecem em casa, com os pais. No Projeto do Esqueleto pediram que as famílias enviassem chapas de raio x para visualização dos ossos. Esse processo começou de fato em abril e foi até novembro. (Relato baseado no depoimento de Mariana Romi Cavaleiro)
3- Projeto Cores e Tons
Faixa etária: 4 a 5 anos
Professora responsável: Ana Cristina Vampré di Monte
Auxiliar: Fernanda Nogueira e Souza
Atelierista: Bia Nogueira
No inicio do ano a professora Ana Cristina contou para a sua turma a história do livro Bom dia todas as cores, de Ruth Rocha. As crianças se interessaram pelo tema e começaram a pesquisar o camaleão e a mistura de cores. No ateliê, misturaram cores e pensaram em fazer uma fábrica de tintas com as misturas descobertas. Nas experiências para constituir a fábrica, propuseram novas hipóteses de misturas e apareceram novos tons. Numa momento de brincadeira surgiram situações de venda. A professora pegou o gancho e fez a proposta: gente, vamos vender as tintas da nossa fábrica? Com a adesão das crianças, montaram a loja da fábrica, inventaram nomes para as misturas e embalaram as tintas em bisnagas com rótulos desenhados. Venderam os produtos “de verdade” para todas as turmas da escola. Depois repetiram o processo da venda com os pais.
No segundo semestre, numa atividade de desenho, uma das crianças falou: me passa o giz da cor da pele? A professora agarrou outra oportunidade e respondeu: da cor da pele de quem? Porque a minha pele é de um tom, a sua é de outro tom… Nesse ponto, ingressaram no mundo dos tons da pele. Fizeram autorretratos, experiências de pintar o corpo mudando a cor da própria pele e até inventando nomes para essas cores. Uma das crianças visitantes da mostra falou para a nossa equipe que o nome da sua cor é marshmallow! (Relato baseado no depoimento da professora Ana Cristina Vampré di Monte)
Na história desses três projetos fica claro que os conteúdos de conhecimento desenvolvidos com as crianças partem dos interesses do grupo, identificados pelo olhar atento das professoras. Revelados os interesses, as professoras buscam as provocações que podem encaminhar as pesquisas e ampliar os conhecimentos. A professora Talita, que recebe os pequeninos todos os anos, poderia ter uma conduta padronizada para adaptar e educar seu grupo. Mas a percepção da singularidade dos contextos, que mudam a cada nova turma, a conduziu ao planejamento de sequências pedagógicas inéditas e adequadas ao momento das novas crianças. Seus pequenos amadureceram, se desenvolveram e saíram dos ninhos!
Uma dica para olhar para as crianças e identificar caminhos para planejamentos adequados aos interesses dos pequenos está na frase da professora Mariana: onde vai parar este projeto?
Participaram da mostra outros educadores e suas crianças com projetos criativos e reveladores de muitas aprendizagens, entre eles: Você gosta de viajar, O nome da cor, O mundo branco, Restaurante Salguini, Floresta. A coordenadora pedagógica da Escola Primeira é a Silvia Helena Mihok Fuertes e a diretora, Cristina Magalhaes Castro Fernandes e você pode conhecer mais sobre a proposta da Escola Primeira acessando seu site.
Trabalhos de excelência realizados por essas profissionais. Parabéns
Também trabalho com crianças de 3 anos de idade em uma creche na minha cidade.
Obrigada pelo retorno, Luciene!
Delícia trabalhar com essa faixa etária!
Excelente trabalho dessa professoras! Parabéns!