O texto provisório da Base Nacional Comum Curricular reforça a visão da criança como PROTAGONISTA das ações educativas das instituições de Educação Infantil.
PARTICIPAR, com protagonismo, tanto no planejamento como na realização das atividades recorrentes da vida cotidiana, na escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo linguagens e elaborando conhecimentos (BNC, p. 20 – Documento de Consulta Pública).
Esse direito é o embasamento que encaminha a forma de pensar as ações nas Creches e EMEIs. Isso significa que os planejamentos de propostas devem partir dos interesses das crianças, identificados nos registros das ações do dia a dia.
Pense bem: as propostas e atividades não devem partir das ideias “independentes” dos professores!
Assim, por esta compreensão da aprendizagem, a criança pequena aprende a partir de seus interesses, de sua vontade de pesquisar e dos desafios que encontra.
Mais vale desenvolver propostas a partir das demandas das crianças do que ideias que partam dos professores, por mais incríveis que elas sejam. É a maneira das crianças construírem sentidos para suas experiências.
Conversando com uma professora de crianças de dois anos, ela narra uma experiência muito ilustrativa dessa questão. Conta ela que recebeu uma doação de caixas de diversos tamanhos no ano passado. Levando as caixas para a turma, exploraram o material, criaram modos de uso e, ao longo dos dias, acabaram por construir uma cidade de caixas, com portas e janelas para entrar e sair.
Um sucesso! Muitos conteúdos abordados e inúmeras aprendizagens como resultados.
Nesse ano, a partir da primeira experiência, a professora foi atrás de caixas para trabalhar com sua nova turma de dois anos. Ao levar o material para a sala, percebeu que as crianças ficaram tímidas e receosas de interagir com o material. Foi preciso um tempo longo e até uma “forçação de barra” para que a nova turma começasse a brincar com as caixas.
A professora concluiu que, por mais adequada e interessante que fosse a proposta, ela ficou descontextualizada dos interesses do novo grupo.
Na versão preliminar da Base encontramos outro trecho que reforça essa visão de Educação:
(…) elas [crianças] precisam imergir nas situações, pesquisar características, tentar soluções, perguntar e responder a parceiros diversos, em um processo que é muito mais ligado às possibilidades abertas pelas interações infantis do que a um roteiro de ensino preparado apenas pelo/a professor/a. (BNC, p. 21 – Documento de Consulta Pública).
Refletindo sobre essa questão, como isso reflete nas escolhas do seu dia a dia?
PARA SABER MAIS
- A Base Nacional Comum Curricular está disponível no site para leitura download
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
documento/BNCC-APRESENTACAO.pdf
QUEREMOS SABER SUA OPINIÃO
Responda a enquete na lateral direita do blog para registramos a sua opinião a respeito dessa questão levantada pela Base Nacional Comum Curricular.
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Lendo o texto e também os comentários, percebemos o quanto precisamos avançar em relação às práticas na educação infantil, pois apesar dos avanços nas pesquisas e também nos estudos sobre essa etapa de ensino, ainda estão pautando nossas concepções em ações da educação infantil que prepara que o vem, para conduzir além da preocupação com a escolarização nesta etapa. Sinto que precisamos estudar e aprofundar nas questões referente às concepções de infância e também nas finalidades da educação infantil.
Endneia,
Ótimas reflexões!
Muito se pesquisa e estuda, porém levar esses conhecimentos para a prática é um trabalho de formiguinha que precisa de empenho no dia a dia, registrando, refletindo e documentado o que acontece. Só quando saímos para fora e conseguimos enxergar o cenário da nossa prática como “visitantes”, com distanciamento, é que podemos perceber o que de fato acontece e como estamos conduzindo as aprendizagens dos pequenos.
Obrigada pela contribuição!
Abraços
Para mim a BNC, nao é muito difícil de compreender, acredito que a dificuldade está em nos despirmos da ignorancia e tentarmos fazer uma mudança consciente.
Obrigada pelo seu retorno, Sueli. Você tem razão quando diz que mudanças são difíceis… mas, entendendo as razões para essas mudanças, a prática nunca mais será a mesma… Abraços!
Sabemos que, enquanto educadores, precisamos estar antenados aos interesses das crianças, pois não é nada interessante trabalharmos uma atividade que, para elas, não tenha significado. Mas não podemos cometer o erro do espontaneísmo, achando que a criança vai saber o que é melhor para ela e o que vai contribuir para o seu crescimento. É preciso um equilíbrio entre estes dois aspectos. O fato é que não podemos formá-las para um mundo utópico, onde elas acreditem que vão fazer o que quiserem e que, suas atitudes não terão nenhuma consequência.
Rejane,
Obrigada pelo seu retorno. Concordamos com você! E é por isso que a Educação Infantil deve ser praticada por especialistas. Os interesses das crianças dão o caminho “temático” do trabalho porque partem de uma base significativa para o grupo. Porém, os conteúdos do desenvolvimento infantil cabem ao professor que precisa mediar a pesquisa e as descobertas de modo a ampliar a aprendizagem dos campos de experiências. Acho que pensamos igual! Grande abraço!
Fica tudo tão aberto!
Algumas perguntas ainda martelam a minha cabeça.
Para a criança ser protagonista ela necessita de um adulto protagonista, será possível desenvolver protagonismo infantil sem antes problematizar o protagonismo do educador?
Quais caminhos precisamos trilhar para atender os direitos de aprendizagens contemplados na base.
Temos o que! Mas não temos o como! e isso é um dificultador, pois nos dá muitas possibilidades no entanto, não sabemos se estamos interpretando corretamente o documento.
Afinal, o que seria o conteúdo de 0 a 3 senão o dia a dia vivenciado nas unidades? sendo esse dia a dia o conteúdo, como garantir boas experiências de aprendizagem que contribuam para o desenvolvimento dos nossos pequenos?
Engolem as verbas para investir o ambiente propício e enviam-nos os textos bem bonitos de se ler, discutir e fazer de conta com o que nos disponibilizam em condições de trabalho.
Lena,
Temos sorte de trabalhar com currículo de conteúdos abertos e objetivos mais calcados na experiência. O trabalho com crianças pequenas possibilita criar com elas condições para alimentar o faz de conta e suas pesquisas. Temos ao alcance materiais naturais e, também, baratos que possibilitam muitas e ricas brincadeiras. Um abraço.
O que comentei não foi aceito, então dizer o que?
Lena,
A dificuldade que sentiu em publicar seus comentários é porque são enviados direto ao espaço interno do administrador do blog, o que não permite que sejam publicados automaticamente.
Um abraço e muito obrigada pelo interesse em compartilhar sua opinião.
Nossa proposta é contribuir com reflexões que auxiliem o dia a dia e provocar o encontro e o diálogo
Raphaela,
obrigada por mais uma reflexão profunda.
Quanto ao protagonismo do professor, você tem razão! Para perceber, registrar, refletir e encaminhar os interesses da criança, o professor precisa estar nessa vibração, também. Esse aspecto acontece por meio de pesquisa, trocas e formação.
Quanto à Base, como um documento nacional, ela realmente pretende estabelecer direções. Os caminhos (o como!) devem ser contextualizados. Essa especificidade deverá ser tratada por Estados, Municípios e as instituições de Educação.
Mas sua sensação é legítima! Os “comos” precisam ser buscados e contemplados para realmente esclarecer e fortalecer o trabalho dos profissionais da Educação. Um abraço.
Se a criança soubesse o que é bom e necessário para ela creio que não precisaria nascer criança. Quem conhece o significado de infante sabe que somos nós, educadores, que deveríamos conhecer suas necessidades e proporcionar atividades condizentes com sua faixa etária.
Pilar,
A visão de criança veio se desenvolvendo ao longo da história e em diversas culturas. Temos uma ciência especifica que estuda essa questão: a Antropologia da Infância. O protagonismo da criança na Educação Infantil está mais relacionado a temas de interesse do que de conteúdo, porque esse ainda está com o professor: autonomia, identidade, expressão, pensamento matemático etc. Não importa se trabalhamos esses “nossos” conteúdos num ou noutro projeto, desde que este parta do interesse da criança. Será que agora ficou um pouco mais claro? Abraço!