Crianças aprendem brincando, mas não nascem fazendo isso sozinhas.
É pelas primeiras brincadeiras com a mãe que os bebês aprendem uma linguagem que dominarão com maestria: o brincar.
Aí você olha para a prateleira da sala, avista o caixote de brinquedos… e pensa: minhas crianças brincam todos os dias!
Será? Quais brincadeiras o caixote de brinquedos pode proporcionar? Vamos refletir sobre isto!
O lúdico é um estado de graça para a criança. Nós, adultos, perdemos a conexão com a brincadeira porque a sociedade dos “crescidos” rotulou o brincar como perda de tempo para quem tem responsabilidades e atribuições!
Mas hoje a brincadeira das crianças é garantida por lei, ao menos na primeira infância.
Por que será?
Por que as crianças ficam felizes quando brincam?
Por que gostam?
Por que inventam?
Por que descobrem?
Por que aprendem?
Sim!
Por tudo isso. E porque o lúdico é uma linguagem que permite interagir com os adultos, as outras crianças, a cultura, a natureza, os espaços e os materiais. É por meio do diálogo brincante com o mundo que a criança vive experiências intensas e pode ser transformada por elas.
Para o pesquisador francês, Gilles Brougère, “o que justifica a brincadeira, além de todo o mito, é que ela oferece a possibilidade de a criança fazer experiências variadas e, mais que produzi-las, escolhê-las e controla-las”.
Bom, até aí parece que não tem muita novidade. Os profissionais da Educação Infantil percebem quando as crianças mergulham numa brincadeira e o quanto esses momentos deixam marcas significativas. Então porque estamos retomando este assunto?
Porque, infelizmente, ainda existe a crença de que é só dar um brinquedo que brincadeiras e aprendizagens acontecem.
É fato que o brinquedo nasceu para a brincadeira. Mas nem sempre a brincadeira nasce dos brinquedos! Especialmente aqueles que estão no velho caixote da sala, amontoados, meio quebrados, meio misturados e incompletos. Aquele monte de plástico que é visitado todos os dias, sem nenhuma intervenção do adulto a não ser dá-los aos pequenos.
Ué? Mas as crianças não brincam com eles?
Sim. Até brincam.
Mas escola é espaço formal de ensino e aprendizagem. Como dissemos logo acima, a brincadeira é um ato social e, por isso, é cultural e aprendida.
Sem a intervenção do adulto, o velho caixotão pré-dispõe os pequenos às velhas brincadeiras, exercitadas um milhão de vezes!
Nestes momentos, o que os professores estão fazendo para provocar novas brincadeiras e experiências?
Estão inspirando a criatividade? Desafiando os pequenos a pensar em novos usos e possibilidades para os velhos brinquedos?
Gilles Brougère nos fala que “a importância da brincadeira, ao lado de outras atividades humanas, permite a produção de novas experiências”. Não há imaginação que chegue à criança com velhos brinquedos frequentemente utilizados, se eles não receberem um empurrão do professor com planejamento e intencionalidade pedagógica.
Que tal então repensar o velho caixote? Existem muitas possibilidades para trabalhar com os brinquedos que chegam no meio do semestre intensamente explorados, desconjuntados e quebrados. Propomos pensar em novas combinações.
1- Reunir parte dos brinquedos com intenção de provocar brincadeiras diferentes:
- Peças pequenas de montar com panelinhas, potinhos e colherinhas – será que se transformarão em uma comidinha diferente?;
- Carrinhos com bonequinhos – será que os bonecos vão se tornar passageiros? Quais narrativas vão surgir?;
- Apresentar só os brinquedos grandões;
- Apresentar só os brinquedos pequeninos;
- Unir dois tipos de brinquedos de montar que podem se complementar;
- Colocar os carrinhos e/ou bonequinhos próximos a um brinquedo de montar que propicie a construção de “túneis”, “garagens” etc..
2- Reunir alguns brinquedos com outros materiais:
- Bonecos e retalhos de tecido de diferentes cores e texturas (será que vira roupa? Cobertor?);
- Carrinhos com caixas e tiras de cartolina ou papelão – podem se transformar em túneis, garagens, pontes e ruas?;
- Tratores, caminhões e trens com pedras de diferentes tamanhos;
- Panelinhas com plantinhas, gravetos e sementes – vira comidinha?;
- Brinquedos de montar e lãs e barbantes coloridos – vão tentar amarrar? Enrolar? O que vai dar?.
É só colocar a criatividade em ação e fazer uma escuta atenta das brincadeiras que as próprias crianças estão criando, para pensar em possibilidades de ampliação.
Mas é importante não esquecer que, ao utilizar as brincadeiras somente como um meio didático, deixamos de lado as principais contribuições do brincar para o desenvolvimento infantil. Como lembra a professora Gisela Wajskop, “situações que evidenciam apenas objetivos instrucionais” não se constituem em brincadeira, “pois o tema, os papéis e as ações das crianças foram definidas a priori em função de objetivos prévios” do adulto.
Outro ponto fundamental para despertar o desejo de brincar diferente é organizar um espaço de brincadeira… diferente! Em outras postagens abordamos a importância do “espaço propositor” para inspirar as crianças e garantir experiências interessantes.
Quando brinca, a criança vai além da realidade: imagina, inventa, experimenta novas situações, testa modos de se relacionar e vivencia o mundo adulto que ainda não lhe pertence, a não ser na brincadeira. Por isso ela aprende e cresce enquanto brinca. Por isso brincadeira também é coisa de escola!
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PARA SABER MAIS…
→ Leia mais sobre a brincadeira para as crianças pequenas no livro: O Brincar – 0 aos 6 anos, da Gisela Wajskop. As citações desta postagem estão neste livro.
→ O livro do Tempo de Creche dedica muita atenção à questão da brincadeira na infância, apresentando fundamentação, tabelas com conteúdos organizadores e muitas sugestões de atividades. Adquira um exemplar acessando a loja da Editora Edelbra.
→ Leia mais sobre espaço propositor e brincadeira na Educação Infantil nas postagens:
O Brincar é pratica essencial no desenvolvimento saudável de qualquer criança.
Ela aprende isso desde muito pequeno. É através da brincadeira que as crianças interagem com os adultos, onde ela vive experiências, criam e imaginam.
Brinquedos não precisam ser novos para satisfazer uma criança, os velhos jogados em uma caixa também possuem seu valor.
Quando o professor media a brincadeira, surge novas expectativas e, brinquedos velhos passam a ter uma nova utilidade. Basta uma ajudinha que a imaginação da criança flui e supera as expectativas. A criança aprende, cresce e amadurece enquanto brinca.
Boa noite,
Acredito que o brinquedo seja um instrumento de transporte pra imaginação da criança alçar os mais altos vôos. Por isso concordo com vocês noque diz respeito a utilizar de forma variada esta ferramenta afim de explorar o potencial de experimentação da criança, que enquanto brinca, de forma lúdica, descobre a si mesmo e o mundo ao seu redor.