A cada dia nos surpreendemos com as habilidades e as iniciativas das crianças pequenas. Curiosas e investigativas, experimentam o que está ao seu alcance. Ao valorizar esse espírito, contribuímos para formar bons estudantes e profissionais competentes. Será que a nossa prática dá espaço ao entusiasmo da infância?
Quanto menor a criança, maior o entusiasmo e o afinco em pesquisar, construir, encaixar, desmontar, saltar, ultrapassar, transferir, esvaziar, atirar, amassar, criar… Um sem fim de ações ousadas que a leva a experimentar e aprender.
Porém, à medida que as crianças crescem, percebemos que esse ímpeto diminui. Já não se atrevem com frequência a realizar tarefas que não tem familiaridade, não se interessam por desvendar mistérios e vão se conformando com um repertório limitado de brincadeiras.
Por que isso acontece? Por que o entusiasmo diminui?
Claro que à medida que cresce a criança passa a se conhecer melhor e a desenvolver gostos e afinidades que direcionam suas escolhas. Contudo, outros fatores podem explicar a perda do entusiasmo. Entre eles, a falta de autonomia e a indiferença dos adultos em acompanhar e valorizar as pesquisas, as tentativas e as descobertas.
Na verdade, frequentemente preferimos agir pelas crianças! Por exemplo, é mais fácil para o adulto se antecipar e servir o suco na hora do lanche. Dessa forma se evita derramamento de suco na sala, na roupa, no colega, troca de roupa…
Na hora de desenhar, é mais tranquilo para o professor distribuir os lápis de cera nas mesinhas do que entregar pequenos potinhos para que cada criança se sirva das cores que desejar. Negociar trocas com os colegas, encher demais o potinho e derrubar tudo no chão “dá mais trabalho” para todos!
Outro exemplo de situações em que atropelamos os ímpetos das crianças pode ser observada quando elas resolvem puxar os colchonetes da pilha para construir uma cabana ou uma montanha a ser escalada. Os colchonetes não são brinquedos! – retrucamos. Eles são para dormir!
Quem disse isso?
Assinamos um documento com o fabricante jurando que os colchonetes só seriam usados na hora do sono? Na cabeça incrivelmente ativa e criativa das crianças tudo pode!
Esses e outros cenários ilustram ocasiões valiosas para o professor trabalhar as escolhas autônomas, a criatividade e a pesquisa. Nesses momentos as crianças precisam de um outro espírito aventureiro junto delas, que as acompanhe acreditando nas suas capacidades e valorizando o interesse e a inovação.
Quem sabe assim invertemos a tendência de encolher o espírito de descoberta das crianças mais velhas? Dê espaço e arrisque-se com os pequenos! Sua prática também vai crescer.
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Para saber mais…
→ As imagens dessa postagem são registros de uma série de propostas de experimentações plásticas realizadas pelas professoras Maria, Neuza, Cidélia e Katia do CEI Santa Marina, SP, pertencente ao Instituto Rogacionista. As professoras, participantes do Projeto Afinal o que é arte na Educação Infantil, apoiado pelo Instituto Minide Pedroso (IMPAES) e desenvolvido pela equipe Tempo de Creche, trabalharam com diferentes farinhas e misturas com água.
→ Para se aprofundar nesse tema, leia as postagens:
Excelente artigo!!!
Dizer que as crianças são sujeitos da ação pedagógica é fácil. Mas como fazemos para que essa afirmativa se torne uma realidade é que são elas. Excelente colaboração.