Uma situação desperta atenção em diversas instituições de educação: a solidão do trabalho do professor. Entrar na sala no começo do dia, olhar para o espaço, antecipar os afazeres com as crianças, as questões burocráticas, a arrumação do ambiente e o encaminhamento das ações pedagógicas. Quase todos os dias! Esse voo solitário é parte do trabalho do educador. Mas é só parte! Porque o espaço da escola é educativo: para crianças e professores! É preciso crescer profissionalmente.
Defendemos que a aprendizagem acontece na relação. É a construção dos vínculos que estabelece os canais para observar, agir e promover aprendizagens. E procuramos fazer tudo isso todos os dias… com o outro! Com as crianças, com as famílias e com a comunidade. E quanto a nós mesmos? Quais são os canais que nos fazem crescer profissionalmente? Quais são as oportunidades que nos expõe à aprendizagem? E não vale responder que aprendemos todos os dias com as crianças, com a nossa prática, blá! blá! blá! Essa é uma das formas, mas não deve ser a única.
Assim como planejamos tempo, espaço e materiais para que as crianças aprendam autonomamente, com os adultos e umas com as outras, estamos preparados e abertos para aprender com os educadores da nossa equipe? Estamos abertos para aquele profissional que está na sala ao lado e que não necessariamente temos afinidade pessoal?
Vamos refletir sobre outro aspecto do trabalho de equipe. Quando assumimos cada criança em nossa sala, sabemos que ela traz uma bagagem. Pensamos na história da família, nas relações que a criança tem com os adultos da casa, da comunidade e até no histórico de saúde. Será que a história do ano anterior na própria escola é relevante? Ah! Mas os professores dos anos anteriores entregam relatórios e conversam sobre cada uma! Isso é suficiente para conhecermos as crianças?
Aqui chegamos num ponto importante: coerência!
Coerência que significa conexão, uniformidade, correlação e nexo
Recebemos crianças novas e entregamos crianças com conquistas educativas a cada ano, porém, estamos sendo coerentes com a educação desenvolvida pelos nossos colegas de trabalho? Ou estamos isolados dentro do nosso próprio universo?
Para as espanholas Bassedas, Huguet e Solé, é necessário uma coerência nas diversas intervenções educativas realizadas no mesmo momento, como também uma continuidade no tempo para garantir a construção progressiva a partir do que se tem feito anteriormente.
Na visão das três psicólogas de educação, a criança precisa viver essa coerência na escola e nós, professores, precisamos aprender uns com os outros para que isso aconteça. Mas isso não significa “trocar receitas de atividades”, porque já sabemos que cada grupo é diferente e cada criança é singular. Os interesses dos pequenos, que conduzem a ação do professor de educação infantil, certamente não são os mesmos.
Em seu Estudo sobre a prática cotidiana, Fátima Camargo afirma é no grupo, do tamanho ideal à socialização das diferentes experiências profissionais de ensino, que podemos aprender mais e melhor. As trocas e interações permanentes não são valiosas só para as crianças em fase de desenvolvimento, mas a qualquer um que se disponha a aprender.
Temos necessidade de alimentarmos uns aos outros com aquilo que aprendemos no dia a dia. Fazemos isso compartilhando as reflexões sobre o que observamos e registramos. Porque cada dia na escola faz de nós pesquisadores da infância.
É preciso transformar a escola num espaço de autoformação e aprendizagem da equipe de educadores. Reuniões, pequenos encontros, cartazes e materiais que destacam as aprendizagens das crianças, são alguns canais de troca que precisam ser valorizados e honrados. Eles se constituem num dos alimentos do professor.
Ainda nas palavras de Bassedas, Huguet e Solé, assim como sabemos que as crianças aprendem e avançam graças à interação com as outras crianças e com os adultos, também pensamos que os adultos, os diferentes profissionais, aprendem graças à interação com seus companheiros e companheiras e com os outros adultos que lhes apresentam algum conhecimento e pontos de vista que os ajudem a pensar.
Fica aqui o convite ao interesse e à curiosidade: o que está acontecendo na sala ao lado? O que posso compartilhar com a equipe? O que posso aprender com meu colega?
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Aprender e ensinar na educação infantil, Eulàlia Bassedas, Teresa Huguet e Isabel Solé, Editora Artmed.
O estudo sobre a prática cotidiana Fátima Camargo inDiálogos imprescindíveis — Ano I nº 2, 1998.Espaço Pedagógico
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