Para a arte-educadora Angelica Arechavala e a pedagoga Sandra Cordeiro Marino, a arte passa pelo corpo da criança e o adulto promove o fazer arte por meio da preparação de espaços provocadores e convidativos.
Tempo de Creche – A seu ver, qual o enfoque do trabalho de artes com a criança?
Angélica e Sandra – As crianças, desde muito cedo podem fazer arte, mas quem define as ações das crianças com a arte é o olhar do adulto que a acompanha, pois, para a criança em si, tudo é movimento e pesquisa, tudo é brincadeira vivida através do corpo.
Podemos fazer arte com as crianças com qualquer tipo de material: barro, areia, água, tinta, gravetos, papel, sucata, cola, etc.. Até quando faz um desenho na areia, com um graveto, ela está fazendo arte, mesmo que este seja logo apagado. Se nos aproximarmos para olhar de perto poderemos notar que ela, naquele momento, está imersa em seu próprio fazer, em conexão consigo. Este é um estado que é buscado pelos artistas – como disse o artista plástico Miró: levei a vida inteira para conseguir pintar como uma criança.
Tempo de Creche – Como as crianças percebem o fazer arte?
Angélica e Sandra – Ao observar as crianças exercitando a criação, descobrimos que elas não separam as artes: música, dança, artes visuais. Quando se expressam estão totalmente entregues ao movimento de seus corpos. Então, para riscar e pintar o papel oferecido, utilizam o corpo inteiro como numa dança e podem cantarolar, criar histórias ou mesmo fazer caretas. Através disso ativam processos profundos de desenvolvimento próprio.
Tempo de Creche – Qual o papel do adulto no fazer arte da criança?
Angélica e Sandra – O adulto que acompanha não vai “ensinar arte”, mas oferecer possibilidades de expressão. Deixar que as crianças possam brincar e criar é também acreditar que o que está em jogo não é o produto final, mas o processo que está envolvido.
É com a preparação do espaço que o adulto garante a possibilidade de oferecer às crianças a exploração do material. Ele deve ser preparado para despertar a curiosidade, permitindo a exploração, a construção criativa e a espontaneidade.
É por meio do seu olhar estético e de uma atuação sensível que o adulto poderá oferecer recursos para a ampliar das experiências das crianças. A atuação sensível é necessária, pois a interferência do educador pode potencializar ou desvitalizar as experiências das crianças.
Concluindo, para oferecer experiências artísticas para as crianças é preciso que o adulto reflita sobre sua visão a respeito de dois pontos fundamentais: o que é a arte? e o que é a criança?
Angélica Costa Arechavala é arte educadora e Sandra Cordeiro Marino é pedagoga.
As duas atendem crianças em seu ateliê. Atuam também com projetos em centros culturais, hospitais e bibliotecas, assessoram escolas e fazem formação.