Existe relação entre o desenvolvimento do cérebro e as expressões artísticas dos pequenos? O que as crianças percebem do mundo? Como elas aprendem?
Para refletir sobre essa questão, que permeia o cotidiano de muitos educadores da infância, vamos entender a relação entre a formação do cérebro e as formas de expressão nas crianças pequenas.
Brincadeira é a língua que se fala no universo infantil. Tudo passa pelo brincar.
Mesmo quando a criança está quieta num canto ela está brincando em pensamento. Brincar de não fazer nada, para elas, é brincadeira.
Por meio da ludicidade as relações se estabelecem e as descobertas do mundo acontecem.
Ao brincar o universo passa a ser interessante e, consequentemente, significativo. Essa pesquisa e compreensão brincante que as crianças têm do mundo, quando desenvolve significados internos, pode ser expressa.
E como se expressam! Você pode lembrar dos seus pequenos e as formas como eles contam para você sobre o mundo?
Balbuciam, falam, gritam choram, mexem o corpo, gesticulam, dançam, riscam, rabiscam, pintam, cantam, fazem de conta e, assim, contam o que sentem, pensam e buscam.
O cérebro nasce com células nervosas imaturas e desconectadas. Para compensar, nasce também com uma energia imensa. O cérebro em condições de amadurecimento reage diferentemente. Para compor um conhecimento de mundo podemos dizer que crianças pequenas tem cérebros superexcitáveis. Tudo o que está ao redor dos pequenos desperta sua atenção e provoca, intensamente as células nervosas que, ao estabelecerem conexões, vão alterando química e fisicamente a arquitetura cerebral.
Já percebeu que crianças pequenas parecem ter antenas ligadas?
Essas novas redes de conexões são os aprendizados. E quando elas podem ser acessadas e conectadas a outras redes, isto é, quando os muitos aprendizados podem ser conectados entre si, passam a ser conhecimentos.
Os cérebros dos artistas também tem um funcionamento especial. Imaginando como eles pensam, observamos que a forma de perceberem o mundo é muito semelhante à das crianças. Artistas se deixam impressionar pelos estímulos do mundo, constroem significados para eles e expressam esse conhecimento por meio de sua arte. (Leia sobre esse assunto na postagem Sentir prá Ver: gêneros da pintura na Pinacoteca de São Paulo).
As obras de arte podem inspirar, provocar e despertar a expressão das crianças. Mas essa ação permanece na esfera do cérebro excitável e lúdico. As crianças não mergulham intencionalmente na obra, interpretando e conscientemente conferindo significados abstratos a ela.
Isso significa que não devemos mediar as relações de crianças com obras de arte?
Claro que não!
Crianças vão se inspirar, construir seus próprios significados poéticos e, talvez, queiram expressá-los realizando experiências artísticas. O professor que apresenta obras de artes visuais, por exemplo, pode acompanhar o interesse de sua turma e, de acordo com o levantamento desses interesses, propor experimentação com materiais plásticos. O que não deve ocorrer é expectativa de cópias e releituras, uma vez que a criança vai experimentar brincando e sua narrativa deve levá-la a caminhos que não podemos prever.
… se não podemos prever, houve aprendizado?
100% de certeza de que houve!
Estimuladas pelas obras, materiais plásticos, relações, percepção do repertório dos colegas e pelas próprias sensações, emoções e experiências, as crianças aprendem na medida em que seus cérebros sofreram alterações e construíram redes de conexões.
A bióloga Maria Aparecida Domingues afirma que as experiências não são simplesmente “armazenadas” nos neurônios. Elas mudam fisicamente a estrutura do sistema nervoso, mudando nossa forma de perceber, pensar, planejar, exteriorizar. E isso não é aprender?
⇒Referências:
Desenvolvimento e Aprendizagem: o que o cérebro tem a ver com isso?, de Maria Aparecida Domingues – Editora da ULBRA
⇒Leia mais sobre esse tema nas postagens:
Crianças e Arte: aprender a aprender
Em que língua falo com minhas crianças?