As pedagogas Tânia Fulkemann Landau e Lena Bartman Marko escreveram diálogos sobre as relações envolvidas no ambiente das creches e instituições de educação. Neste capítulo, as autoras aprofundam algumas das ações das escolas com as famílias para promover o diálogo e construir relações e vínculo: a REUNIÃO de PAIS.
4. RELAÇÕES EM AÇÃO: REUNIÃO DE PAIS
É comum os professores se queixarem da baixa frequência dos pais nas reuniões pedagógicas. Este é um ponto a ser vencido nas escolas. Quando as reuniões se tornam mais interessantes e adequadas a tendência é contagiar, o “boca a boca” entre pais atrai novos adeptos. Uma nova prática precisa ser construída, que ultrapasse a velha e tradicional ideia de que as reuniões são cansativas, entediantes, não servem para nada ou viram um muro de lamentações ou um blá, blá, blá cheio de avisos, regras, cobranças e “pedagogês” e a única alternativa dos pais ou responsáveis é escutar passivamente
A reunião começa pelo convite – saber convidar é uma arte a ser exercitada. De como convidamos depende o sucesso do encontro, ou começa nele.
- Em que momento pensamos em como o pai lê nosso convite?
- Nossas palavras são condizentes com nosso desejo de que venham mesmo?
- A quem dirigimos o convite, garantindo que venha quem é responsável e cuida efetivamente da criança?
- Nosso convite é caloroso ou frio? Formal ou informal?
- Estabelecemos horários que não comprometem o trabalho dos pais?
Anunciamos os temas e a pauta do encontro? Eles são interessantes para despertar/aguçar o apetite de pais e mães? São pertinentes ao que foi realizado com as crianças neste período?
Nossas informações estão claras, completas, escritas de forma correta? Temos um tom amigável e aberto ao diálogo, ou autoritário e rígido?
Não basta juntar os pais para realizar uma reunião COM eles. É preciso prever estratégias participativas que abram espaços para troca, para reflexão, para perguntas, dúvidas e depoimentos.
As reuniões também informam e orientam, mas é recomendado evitar exposições longas; muuuitos recados; cobranças e assuntos constrangedores e que menosprezam, como só dizer que precisam olhar a mochila dos filhos e ler as agendas, ou que devem se lembrar de atualizar as carteiras de vacinação. Também devem evitar lições e ensinamentos moralizantes como dizer que os pais precisam amar os filhos, que criança é uma dádiva divina, etc. O propósito das reuniões deve ser o de ajudá-los nesta tarefa de conhecer melhor os filhos e de poder desfrutar e se maravilhar com as possibilidades que eles têm de crescer, aprender e se desenvolver na escola e em casa, com seus pais, colegas e professores.
A reunião deve proporcionar recursos para os pais compreenderem melhor o projeto da instituição, para fortalecerem os laços com seus filhos e saberem como podem incentivar e colaborar para um bom desenvolvimento deles.
Assuntos específicos que expõem particularidades e questões delicadas de algumas crianças devem ser tratados em encontros e entrevistas individuais. Isto precisa ser evitado pelos educadores e ficar bem acertado com os responsáveis. Caso alguém queira falar especificamente de seu filho, um contato pessoal pode ser agendado.
Reuniões com toda a escola restringem a participação, o mais adequado é subdividir os pais em pequenos grupos que podem corresponder aos grupos nos quais seus filhos pertencem, ou, se o propósito é de uma maior integração, os pais podem se subdividir por oficinas ou em encontros temáticos escolhidos pelo interesse.
Familiares bem informados sobre os assuntos, os projetos da escola e dos grupos, sobre as conquistas, as dificuldades e desafios vividos pelos filhos, podem contribuir de forma mais ampla e compreender algumas falas e comportamentos dos filhos.
Planejar partes práticas faz muita diferença:
- Como vamos recebê-los?
- Haverá alguém à porta, dando as boas vindas?
- O espaço estará organizado e as produções dos alunos estarão expostas?
- Qual será a primeira frase de quem coordena a reunião, dando-a por aberta e depois, encerrada?
- Como serão definidas as pautas? Quem participará desta definição?
- Em que ordem os trabalhos serão relatados e por quem?
- Quem responderá a perguntas mais gerais?
- Que acordos queremos fazer com os pais neste encontro?
- Que temas mais difíceis ou explosivos podem ser abordados e de que jeito?
- Como as cadeiras estão arrumadas? Tem cadeira para todos?
- Está claro que a reunião é para qualquer responsável pela criança comparecer?
- Caso venha alguma criança, qual será o encaminhamento?
- Os equipamentos (como microfones, vídeos, por exemplo, se utilizados) funcionam? Todos poderão escutar o que será dito?
É importante esclarecer os familiares para que não tragam seus filhos às reuniões, principalmente quando estas ocorrem logo após o período na creche. Depois de um dia de atividades as crianças estão cansadas. Caso não exista outra alternativa é preciso pensar em uma estrutura que garanta um ambiente adequado às crianças, onde elas possam descansar ou brincar e serem cuidadas enquanto seus pais permanecem na reunião.
Com todas essas dicas e questionamentos em mãos temos certeza de que a preparação da reunião de pais, proposta pelas autoras, será pensada e refletida por todos na instituição. Uma última dica: lembre-se de fazer um registro fotográfico e escrito do ocorrido para que não se perca a riqueza do que foi abordado, acordado e construído. E para que se faça uma boa reflexão sobre os resultados dessa ação para replanejar a próxima reunião!
Tempo de Creche já publicou:
- CONSTRUINDO DIÁLOGO E APOIO ENTRE FAMÍLIA E CRECHE
- CRECHES E FAMÍLIAS: UMA PARCERIA DE ESCUTA
- APROFUNDANDO O DIÁLOGO
Outros capítulos do Diálogo sobre relações famílias e creches unidas serão publicados nas próximas semanas. Veja abaixo:
5. RELAÇÕES EM AÇÃO: CADERNOS DE COMUNICADOS
6. RELAÇÕES EM AÇÃO: CONTATOS DE PORTA E PRIMEIROS DIAS NA ESCOLA
7. RELAÇÕES EM AÇÃO: ENCONTROS CULTURAIS E FESTIVOS